Aula de Vida

Por Marcelo Mello

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Uma vez eu brinquei, nem sei se escrevi a respeito um texto inteiro ou se apenas mencionei que deveria haver uma matéria permanente nas escolas e faculdades que debatesse com os alunos a Vida. Não a biológica, e sim a vida prática dos seres humanos.

A ideia seria ajudar as pessoas a se tornarem adultas, a amadurecer e prepará-las para enfrentar a vida de verdade do jeito que ela é.

Voltemos ao mote desse texto. Por que é que cheguei a essa conclusão? Bem, porque há anos eu tento pensar num modo de mudar o ensino. Creio que a fórmula atual não deu muito certo. Uma aula de Vida pode ser o início dessa revolução. Tenho absoluta certeza de que seria uma das aulas mais concorridas.

Em classe – ou fora dela – seriam discutidos temas variados como família, amizade, relcionamentos amorosos, profissões, carreira, hobby, que agora os gurus de autoajuda falam pelos quatro cantos do planeta da importância de as pessoas terem um, coisa que falo desde que escrevi meu segundo livro, há exatos onze anos.

É disso que estou falando, tentar antever as coisas e poder passar isso aos alunos. Estou falando em prepará-los para enfrentar a sociedade, quem sabe até mudá-la profundamente para melhor e não para pior, como está ocorrendo.

Segundo o desenho da sociedade atual, liberdade de pensamento é um estorvo. Ninguém gosta. As pessoas preferem manipular as massas simplesmente porque as massas amam ser mainupuladas, porque não conseguem e nem querem pensar por conta própria.

Uma Aula de Vida instigaria os alunos a terem mais personalidade e colocar seus pontos de vista sobre o que enxergam e não a aceitarem o que lhes é imposto sem ao menos um questionamento sequer. Fico a imaginar quantas coisas legais teria escutado de meus ex-colegas de classe se tivéssemos uma aula dessas no passado. Quantas questões teriam sido discutidas! Não penso que eventos ruins da vida seriam evitados, mas imagino que os alunos estariam preparados para a maioria deles. É disso que se trata essa ideia: preparação para enfrentar a realidade e não um meio de evitar problemas. Sem falar que haveria uma efetiva preparação para futuras escolhas profissionais.

Com professores bem preparados – e tenho muita certeza de que haveria muita gente interessada em dar aula disso –, uma aula seria um bate papo informal onde os próprios alunos escolheriam os temas. Seriam convidados a compartilhar suas experiências, pessoas comuns, empresários, donas de casa, profissionais de todas as áreas e níveis hierárquicos, enfim, todo mundo envolvido de algum modo.

Algo livre, algo que despertasse o interesse da turma e não uma imposição estúpida como decorar a tabela periódica. Tem muita coisa errada com o ensino. Tem muita coisa errada com a formação de adultos. Algo precisa ser feito com urgência.

Os adultos estão cada vez mais angustiados porque, provavelmente, seus educadores, e aí coloco no mesmo saco pais e professores, se preocuparam em poupar seus educados.

Poupar as pessoas da realidade é o mesmo que mantê-las despreparadas para enfrentar a vida de frente. Olha só no que deu, um bando de crianças de quinta série com 35, 40, 45 anos. Valeu à pena?