Aulas de português para estrangeiros: Literatura ganha vida

Por AOTP

Adriana Domênico*

Desde que iniciei minha carreira como professora de Português para estrangeiros fiz a mim mesmo a seguinte pergunta: a literatura pode ser um instrumento motivador para os alunos? Será que, mesmo sem dominar o idioma, os alunos podem se interessar pela realidade de um país, retratada nas narrativas?

A resposta a esses questionamentos não veio de uma aula para outra. Minha proposta sempre foi apresentar aos alunos um Português do Brasil vivo, dinâmico e pautado no uso efetivo.

Em uma realidade escolar, todos os professores de língua materna sabem que é um desafio despertar o interesse dos estudantes para a leitura de obras literária consideradas obrigatórias nos vestibulares das principais universidades brasileiras.

Mesmo com essa realidade, não desisti de meus objetivos. Há 10 anos, a literatura foi ganhando um espaço significativo em meus cursos de língua estrangeira, porque, diferente do ensino de língua materna, em que o estudante tem “obrigação da leitura”, o estudante que se propõe a aprender uma língua estrangeira está disposto entrar em contato com o idioma e tudo o que o envolve.

Neste caso são elementos culturais de um universo desconhecido que pouco a pouco será desvendado por meio de algumas peculiaridades: os costumes, a música, a história, a alimentação, a maneira de ser e de pensar do brasileiro etc.

Na atualidade, ministro aulas de Português como língua estrangeira com fins específicos na formação de tradutores e intérpretes profissionais em um âmbito universitário. E uma das principais habilidades linguísticas fundamentais para estes profissionais é a paráfrase. Parafrasear nada mais é do que dizer algo que alguém disse com suas próprias palavras, expressando as mesmas ideias, mas de uma maneira diferente.

Um plano de leitura graduado, que vai do básico ao avançado, promovo a leitura de textos curtos, como contos e crônicas até clássicos de Machado de Assis e Jorge Amado, com atividades guiadas, monitoradas e retroalimentadas. Com isso, obtenho resultados significativos no domínio do uso da língua, tanto na produção oral como na escrita.

Alguns leitores devem estar pensando o que a literatura pode ter relação com a formação de tradutores. Além disso, podem imaginar que essa abordagem pode demorar muito tempo. Porém, a minha resposta é não! Tudo é uma questão de planejamento da atividade. Vamos lá! Vou mostrar um pequeno roteiro de uma atividade simples que envolve três passos:

1. Atividade de pré-leitura: esta atividade serve para ativar o conhecimento prévio do estudante e prepará-lo para leitura. Pode ser feita por meio de um vídeo ou texto sobre a vida do autor, por textos que apresentem a mesma problemática da trama da história, contexto histórico e social. O professor pode trazer este material, dividir os estudantes em grupos e solicitar que eles façam uma apresentação oral.

2. Atividade de leitura: nesta etapa, ocorre uma leitura guiada do texto respondendo às perguntas - “O que?”, “Quem?”, “Onde?” e “Quando?”. O professor pode enumerar a sequência da história e trabalhar de forma individual, em casa, ou em grupo, em sala de aula, como aquecimento para conversa sobre a leitura. O objetivo é fazer com que os alunos possam decodificar vocabulários e expressões linguísticas. Em seguida, eles respondem questões específicas - “Como?” e “Por quê?”.

3. Atividade pós-leitura: nesta etapa são desenvolvidas atividades em que os estudantes podem refletir e desenvolver trabalhos relacionadas às propostas do professor. Teatro, vídeo, resumo, diálogo, debate, blog, história em quadrinhos, etc.

Literatura é, sim, possível de ser trabalhada com alunos estrangeiros. Basta organizar atividades contextualizadas, que possam envolver o estudante no processo de aprendizagem.

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* Professora de Língua Portuguesa da Universidade Peruana de Ciências Aplicadas.