Balanço Geral - Editorial

Por Carlos Borges

2011 está bem próximo do “arquivo” e é sempre bom refletir sobre o que esse longo período de 365 dias representou para os mais de 1 milhão de brasileiros que vivem nos Estados Unidos.

Para muitos, 2011 vai ser analisado como um ano substancialmente melhor do que seus antecedentes 2009 e 2010, anos que foram repletos de tragédias financeiras, desencanto, frustrações e grandes desilusões quanto ao propalado “sonho americano”.

Não é por acaso que os anos de 2009 e 2010 registraram o mais intenso movimento de retorno de brasileiros oriundos não apenas dos Estados Unidos, mas da Europa e Japão, ao Brasil, “empurrados” que foram pelas drásticas crises econômicas de Europa e Japão e pela combinação dessa mesma crise nos Estados Unidos em combinação com o endurecimento inédito da perseguição aos imigrantes indocumentados.

Não é à toa que o índice de imigrantes indocumentados entre os brasileiros, que chegou a ser estimado em mais de 80% em 2006/2007 estima-se ter sido reduzido para 50% em 2010. Mas queremos falar de 2011 e de como em todos os flancos, tanto o da economia como até mesmo do da Imigração, o futuro começou a mostrar que a inevitável “luz no fim do túnel” é mais do que uma esperança. É uma certeza.

Em 2011, todos os indicadores de “vitalidade” da comunidade brasileira voltaram a dar sinais positivos. A ativida comercial específica da comunidade, que parecia fadada ao desaparecimento total, nao só se recuperou como apresenta um movimento animador de abertura de novos negócios.

A publicidade é um dos indicadores mais fortes do ressurgimento empreendedor. Os veículos de comunicação comunitários, que sofreram enormemente com cortes de verbas e com a drástica redução do número de anunciantes entre 2008 e 2010, voltaram a crescer. Os tradicionais veículos, com 10 ou mais anos de existência e circulação intermitente, não só sobreviveram como estão visivelmente mais estáveis do que há dois anos.

As explicações possíveis são muitas. A primeira é que, de fato, a economia norte-americana começou desde o princípio de 2011, um movimento lento de retomada, que se ainda está longe do aquecimento vertiginoso de 2005/2007, entretanto inspira confiança e anima os muitos brasileiros que decidiram ficar a apostar em novas possibilidades.

E aí está outro fator crucial: os brasileiros que “decidiram ficar” são em quantidade muito maior do que os que “decidiram voltar”. Sejam por razões familiares, por já estarem enormemente enraizados aqui ou por ainda se sentirem inseguros quanto ao recente “milagre brasileiro” (que sim, existe, mas não está desenhado para receber expatriados, isso é fato), a grande maioria dos brasileiros que já vivia nos EUA antes de 2008, continua vivendo por aqui.

E como essa grande maioria segue por aqui, segue desejando comprar (ainda que eventualmente) produtos brasileiros, consumir inicitaivas culturais e recreativas brasileiras, etc. Para se ter uma ideia “estatística” de como 2011 foi radicalmente diferente de 2009 e 2010 para a comunidade brasileira, registre-se o seguinte:

Entre 2007 e 2010, o volume de shows musicais brasileiros trazidos para apresentações nos Estados Unidos, caiu de mais de 60 para menos de 10. Uma queda brutal e que reflete uma razão óbvia: o público “desapareceu”, seja por falta de dinheiro para gastar com “supérfluos” ou seja pela combinação de “temor pela ação imigratória” ou pelo movi-mento de retorno ao Brasil. São dados fornecidos por empresas que monitoram dia-a-dia a realização desses eventos em todo o país.

A atividade cultural brasileira, especialmente a musical, foi retomada com razoável intensidade em 2011. Ainda que timidamente, os investimentos em patrocínios nesses eventos voltou a emergir, sinalizando que a “timidez” estaria sendo vencida.

Outro setor que indicou claramente uma recuperação em 2011 é o imobiliário. Está certo que é uma recuperação muito tênue. Medida muito mais pela desacelaração das perdas do que propriamente pela aceleração dos ganhos, vendas e empréstimos.

Se o volume de bancarrotas e “foreclosures” entre brasileiros atingiu a estratosfera em 2009, já a partir do final de 2010, esse número não só diminuiu radicalmente como a aquisição de imóveis dentro do mercado brasileiro, iniciou uma evidente recuperação. Ainda muito tímida, mas real, inequívoca.

O emprego não está fácil para ninguém que esteja procurando qualquer ocupação ou até “ousando” pensar em melhores oportunidades do que as que eventualmente já tenha. Em nenhum segmento.

Mas é inegável que 2011 nos deixou um sabor menos amargo na boca. Ainda há muito o que remar contra uma maré que ainda está desfavorável. Menos do que antes. Mais branda, mas nem por isso menos traiçoeira. Portanto, 2012 deve ser marcado por otimismo cauteloso.

Até porque parece que a questão da reforma imigratória, depois de relegada totalmente ao plano “policial” pela administração Obama (que prometeu e não só não cumpriu como fez o contrário, desapontando terrivelmente os eleitores latinos), entrou de vez na pauta das eleições presidenciais de 2012. É um bom sinal.

Tem até republicano falando em reforma. Mesmo que seja só casuísmo, melhor isso do que nada.

Feliz 2012!