Boato de $126 milhões cruza continentes

Por Gazeta Admininstrator

Por: Letícia Kfuri, com agências.

Durante quase uma semana, a informação (não confirmada) de que uma brasileira teria ganho o prêmio de $126 milhões na Loteria Federal, em New Jersey, circulou em diversos jornais brasileiros nos Estados Unidos. Mexeu tanto com a imaginação da comunidade brasileira que ganhou proporções internacionais. Virou alvo de notícias até no Brasil, e chegou às páginas do renomado jornal norte-americano New York Times.

A notícia foi publicada, inicialmente, pelo jornal Brazilian Voice. “Na quinta-feira (24), a equipe de reportagem do BV esteve no local onde o bilhete milionário foi adquirido e foi informada por uma atendente que há rumores de que o ganhador seja um imigrante brasileiro”, diz a reportagem do Brazilian Voice, informando, logo a seguir, ter entrado em contato com o departamento de Relações Públicas da Loteria, que informou que o ganhador não havia ainda entrado em contato com a administração do sorteio.

A fonte de informação citada pelo jornal Brazilian Voice foi qualificada pelo New York Times como “nebulosa”. “A fonte do Sr. Ferreira (repórter) foi nebulosa: uma funcionária de um supermercado cujo nome ele nunca soube. Mas rapidamente, o mexerico foi ganhando cores e riqueza de detalhes”, diz a matéria do New York Times.

Uma versão, explica o jornal norte-americano, indica que a vencedora (a essa altura parece já haver certeza de que seria uma mulher) seria uma imigrante ilegal, que estaria com medo de ir receber o prêmio e ser deportada. Em uma “remontagem” do boato, diz a reportagem, a mulher teria entregue o bilhete premiado, em confiança, a um amigo, que seria legal, e que agora estaria se recusando a devolvê-lo. Outra variante da estória é a de que a mulher teria dado o bilhete ao namorado, que teria fugido com o bilhete e com outra mulher.

As notícias desencontradas foram parar no Brasil. Lá, consolidou-se a versão de que o vencedor seria de Gover-nador Valadares, uma das maiores “exportadoras” de imigrantes para os Estados Unidos. “As pessoas aqui ficaram doidas. Em qualquer lugar que você vá, você só ouve as pessoas comentando sobre quem poderia ser o vencedor”, disse o jornalista valadarense Raimundo Santana ao New York Times. O prêmio de $126 milhões equivale a quase metade do orçamento da cidade de Governador Valadares.

Os boatos de que a vencedora seria indocumentada e, por isso, não teria ido buscar o prêmio, foram desqualificados pelo porta-voz da New Jersey Lottery, Dominick DeMarco. “Um não-residente estrangeiro, ilegal no País ou não, poderia reclamar o prêmio, desde que apresente um documento que prove sua identidade e país de origem. Mas um não-residente estrangeiro teria que pagar impostos federais de 30%, ao invés dos 25% que um residente legal pagaria”, explica DeMarco à reportagem do New York Times.
Segundo o jornal norte-americano, DeMarco explicou que “um não-residente estrangeiro não ganhou um prêmio da loteria na história recente”.

O bilhete foi vendido no supermercado AJ Seabra XII do Condado de Essex, freqüentado, principalmente, por brasileiros e portugueses. O proprietário do estabelecimento, Antonio Seabra, diz conhecer os ganhadores. Segundo ele, seria um casal de portugueses, e não de brasileiros, que vive há 35 anos e é cliente do supermercado.