Brasil, ame-o ou deixe-o. Frase irônica, 35 anos depois.

Por Gazeta Admininstrator

1970. Auge da ditadura militar brasileira, o General Emílio Garrastazú Médici comanda com “mão de ferro” um dos períodos mais repressivos e sangrentos da história brasileira.

Líderes políticos, adversários do regime militar, jornalistas e até pessoas comuns acusadas à revelia, eram presos, encarcerados, sem direito de defesa. Centenas foram torturados e assassinados. A outra face da moeda era o “País que vai prá frente”, a propaganda ufanista da Ditadura que, a borda da conquista do tri-campeonato mundial. A Copa do México, pintava um quadro de absoluto otimismo para o futuro do Brasil.

E para quem discordava daquelas idéias, surgiu a campanha espalhada em milhões de adesivos nos carros de todo o país. Brasil: ame-o ou deixe-o.

2005. Auge da decepção do povo brasileiro com seus líderes políticos. Políticos que, como o esquerdista Luiz Inácio “Lula” da Silva, derrotaram a Ditadura Militar, e alcançaram o poder com base em promessas de um Brasil mais justo e igualitário, com menor abismo social e com integridade moral. A outra face da moeda é o país que mais exporta imigrantes ilegais em todo o mundo. Estados Unidos, Inglaterra, Itália, Bélgica e Alemanha proclamam: a avalanche de imigrantes ilegais brasileiros deixou de ser um fato “curioso” para se tornar um problema na pauta diplomática entre esses países e Brasília.

De quem é a culpa?
Na verdade tem muita gente e muitos fatores que podem ser colocados no banco dos réus.

O primeiro desses fatores é, na minha opinião, o lamentável exemplo dado pelas nossas lideranças políticas de norte a sul, leste oeste do país: em todos os níveis, dos mais altos aos mais baixos, as lideranças brasileiras na política são já há bastante tempo símbolo de desonestidade, suborno, oligarquia descarada e escancarada, administração dos bens públicos como se fosse dinheiro próprio, absoluto desrespeito às leis e nenhum respeito pelo contribuinte, menos ainda pelo eleitor.

O segundo fator é consequência direta deste primeiro. Com o tempo, uma grande parcela da população brasileira deixou de se revoltar contra o lamaçal de corrupção do país e assumiu de vez a “lei do Gérson”, aquela que diz que o importante é “levar vantagem em tudo”. O que se vê em 2005 é uma enorme quantidade de brasileiros que enxerga a vida e o conceito de honestidade sob um prisma dos mais chocantes: o prisma das “oportunidades a serem aproveitadas”. Alguns desses brasileiros que saem do país e vem para países como os Estados Unidos, por exemplo, se deparam com a brutal diferença e muitos acabam se marginalizando.

O terceiro fator – não menos importante ou significativo – é causado pela grande ignorância do povo brasileiro com relação a seus próprios direitos, ao funcionamento das instituições democráticas e a descrença no próprio poder que a nossa Constituição nos assegura. Mesmo revoltado contra os políticos ladrões, o povo brasileiro segue re-elegendo esses mesmos políticos, seus filhos, esposas e protegidos, criando um círculo vicioso interminável. O eleitor frustrado culpa o político ladrão, mas na próxima eleição, por ignorância, necessidade ou anarquia, elege o mesmo político ladrão e seus comparsas.

Há desilução econômica (a mais determinante), moral (de profundo impacto na auto-estima) e ética (desorientadora porque quebra todas as normas de civilidade e estraçalha os conceitos de convivência cívica e de cidadania).

O “ame-o ou deixe-o” que era para ser uma bandeira de ufanismo com cores quase nazistas e mensagem do tipo “se você não gosta da nossa política, o país é nosso, vá embora!”, se transformou numa “carta de alforria” para os que ainda tinham algum tipo de temor ou constrangimento em deixar o próprio país em busca de uma vida melhor para si e sua família.

Esse sonho acabou. O sonho de que o brasileiro acreditaria que o Brasil é o melhor país do mundo para se viver, já não existe há muito tempo. Ou melhor. O Brasil é o melhor país do mundo: nos nossos corações.

Mas não nas nossas mentes. O Brasil que todos queremos para nós, nossos filhos e netos, nos está sendo negado por nós mesmos, que acabamos fazendo parte de uma engrenagem maliciosa e perversa, que beneficia uma meia-dúzia.

A sensação que quase todo brasileiro tem é de que estamos num “mato-sem-cachorro”. O que é uma pena. Porque a verdadeira saída para o Brasil não são os aeroportos internacionais e muito menos a aventura das travessias de fronteira. A saída para o Brasil está na capacidade de cada brasileiro se indignar contra a corrupção e o desamor à pátria, que infelizmente é demonstrado não só por nossos líderes, mas por muitos brasileiros que confundem a atual situação do país com a nossa amada pátria.