Brasil: crise econômica, moral, política e, agora, institucional

Por Daniel Galvão

[caption id="attachment_48936" align="alignleft" width="300"] Renan Calheiros[/caption]

A relação institucional entre Legislativo e Judiciário no Brasil nunca esteve tão estremecida e ameaçada quanto agora. O fio da meada, como se sabe, é a Operação Lava Jato, que conferiu ao juiz Sérgio Moro e aos promotores públicos o papel de protagonismo no combate à corrupção que permeia a classe política brasileira desde sempre.

O problema é que o trabalho do Judiciário avançou a patamares jamais imaginados na história do país, culminando com a prisão de políticos com e sem mandato; gente graúda que sempre se achou intocável e que, agora se prova, roubou milhões e milhões dos cofres públicos, prejudicando diretamente a qualidade de vida da população.

Como reação do Congresso Nacional, vimos a desfiguração do pacote anti-corrupção, projeto elaborado pelo Ministério Público e que contava com a assinatura de mais de 2 milhões de pessoas, pelos deputados federais numa madrugada em que o Brasil chorava a tragédia com o voo da Chapecoense. Não faltou quem avaliasse a postura dos nobres parlamentares como uma punhalada pelas costas ao povo.

O pano de fundo, de fato e isso ficou claro nos dias que se seguiram a manobra de Rodrigo Maia (DEM) e companhia, era tirar a autonomia do MP e da Justiça para que a Lava Jato não o provocasse mais baixas no clero político brasileiro. O tiro saiu pela culatra. A opinião pública e a mídia expuseram as motivações dos deputados, que tiveram de tirar do texto a aberração que pretendia criminalizar aqueles que tem atuado contra o crime na política nacional.

Pessoalmente, Moro esteve no Congresso e enfrentou alguns nomes polêmicos, questionáveis e investigados da classe política, como o senador Lindbergh Farias (PT). Na mesma semana, o Supremo Tribunal Federal (STF) tornou réu o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), sob acusação de peculato. Já no início desta semana, a corte decidiu pelo afastamento do peemedebista do cargo e os senadores responderam ignorando a decisão.

O cenário revela a fragilidade da democracia brasileira. Mostra o quanto ainda estamos dando os primeiros passos em valores primários como a independência e harmonia dos poderes. Mas, agora a população - que já estava envolvida nas crises econômica e moral, além da política (com a cassação até de presidentes da República), são obrigados a conviver com a guerra institucional.Onde vamos parar?