Brasil é classificado como país mais ansioso das Américas

Por Arlaine Castro

  • “Ansiedade é como pressão alta: quando descontrola, às vezes é para sempre. Você pode controlar com atividade física, meditação, terapia, mas ela vai estar sempre ali te ameaçando”
O Brasil tem o povo mais ansioso do mundo. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) no estudo “The Burden of Mental Disorders in the Region of the Americas, 2018”, (O Peso dos Transtornos Mentais na Região das Américas, em tradução livre) 18,6 milhões de brasileiros (9,3% da população) convivem com o transtorno. O relatório fornece dados que demonstram os recursos limitados dentro dos países das Américas para atender necessidades de saúde mental, sublinhando a distribuição muitas vezes desigual e os usos ineficientes de tais recursos. O estudo também descreve os tipos que mais afetam cada região. “A América do Sul, em geral, apresenta maiores proporções de incapacidade devido à doença mental comum. A América Central tem uma maior proporção de incapacidade devido a transtornos bipolares com início na infância, bem como devido a epilepsia, do que sub-regiões; e os EUA e o Canadá sofrem um alto índice de incapacidade de esquizofrenia e demência, bem como de taxas devastadoras de transtorno por uso de opióides”, aponta o estudo. Segundo o Dr. Anselm Hennis, Diretor do Departamento de Doenças Não Transmissíveis e Saúde Mental da Organização Pan-Americana da Saúde, o relatório também procura informar os governos, a sociedade civil e outras partes interessadas e, ao fazê-lo, elevar o nível de conscientização sobre os transtornos mentais na Região, a fim de mobilizar a vontade política e os recursos necessários para transtornos mentais, neurológicos e de uso de substâncias e suicídio nas Américas. Uso de remédios A Agência Estado entrevistou alguns médicos e especialistas sobre o uso de remédios para depressão e outros transtornos mentais. Daniel Martins de Barros, psiquiatra do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, disse que “As duas frases que eu mais ouço na clínica são ‘eu não queria tomar remédio’, na primeira consulta, e ‘eu não queria parar de tomar os remédios’, na consulta seguinte. A gente tem muita resistência porque existem muitos mitos: ficar viciado, bobo, impotente, engordar”. Neury Botega, psiquiatra da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), afirma que há 30 anos os médicos dispunham de recursos inadequados para tratar a ansiedade. “Ou usávamos drogas bem pesadas, como barbitúricos, ou as que existem até hoje, como as faixas pretas, os benzodiazepínicos. Por isso, nós vimos várias tias, avós, viciadas em remédios e essa é uma das imagens gravadas quando pensamos em tratamentos psiquiátricos”. “Ansiedade é como pressão alta: quando descontrola, às vezes é para sempre. Você pode controlar com atividade física, meditação, terapia, mas ela vai estar sempre ali te ameaçando”, disse Martins de Barros. Assim, tendo em vista tantas tragédias que vêm acontecendo no Brasil (não que outros países não tenham, mas o país atravessa uma crise e não vê melhora a curto prazo), a carga emocional dos brasileiros vem mesmo sendo testada: o país vê um aumento no índice de homicídios, economia estagnada e tragédias ambientais que levam embora uma natureza exuberante da qual era motivo de orgulho – e não de choro.