Brasil faz história com bebê nascido de transplante de útero de doadora falecida

Por Gazeta News

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[caption id="attachment_177226" align="alignleft" width="340"] Foto ilustrativa: pixabay.[/caption] Médicos brasileiros do Hospital das Clínicas da USP conseguiram um feito inédito no mundo inteiro: uma mulher que recebeu um útero de uma doadora já falecida deu à luz um bebê saudável. O nascimento foi em dezembro de 2017, mas somente agora detalhes do caso foram publicados na revista "The Lancet", na terça, 4, confirmando o pioneirismo. “É uma das principais revistas médicas do mundo, então o estudo adquire uma chancela de qualidade”, avalia Dani Ejzenberg, um dos médicos líderes do estudo e supervisor do Centro de Reprodução Humana do Hospital das Clínicas. O caso envolveu a ligação de veias do útero da doadora a veias da receptora, além de artérias, ligamentos e canais vaginais. A menina brasileira nasceu via cesariana, com 35 semanas e três dias de vida, pesando 2,550 quilos, segundo o estudo de caso. Dez casos anteriores de transplante de útero de uma doadora morta nos Estados Unidos, na República Tcheca e na Turquia não resultaram no parto de um bebê vivo. O primeiro caso detransplante de doadora viva aconteceu em 2014, na Suécia. O início Em 2016, uma mulher de 32 anos, que tinha nascido sem útero por causa de uma síndrome (Mayer-Rokitansky-Küster-Hauser), recebeu o órgão de uma doadora já falecida. Outros transplantes de útero com doadoras falecidas já tinham sido realizados no mundo, mas nenhum bebê tinha nascido depois desse procedimento — até o caso brasileiro. “É um feito histórico — o primeiro caso sempre marca”, diz Wellington Andraus, também primeiro autor do estudo e coordenador do serviço de transplante de fígado do Hospital das Clínicas. Ele foi um dos médicos que realizou o transplante. Pioneirismo Para os cientistas, o caso vem marcar, mais uma vez,o pioneirismo brasileiro em transplantes. O Brasil fez o primeiro transplante de fígado entre pessoas vivas e um dos primeiros transplantes de coração do mundo. Já o transplante do útero em 2016 foi o primeiro na América Latina. Para os médicos, ele tem três novidades na forma que foi feito: O tempo de isquemia — período em que o órgão fica sem oxigenação —, que foi o maior já registrado: 7 horas e 50 minutos. A quantidade de ligações de vasos que foram feitas. Andraus ligou duas artérias e quatro veias. Em procedimentos anteriores, eram ligadas duas artérias e duas veias. Um tempo menor até a transferência do embrião para dentro do útero. Antes, os médicos esperavam cerca de um ano, depois do transplante, para transferir o embrião. No caso brasileiro, foram 7 meses do transplante até a transferência. A diminuição nesse tempo faz com que a paciente tenha que ficar menos tempo tomando medicações imunossupressoras — que "restringem" o sistema imunológico — o que reduz os custos e também os riscos de algum efeito colateral. Segundo Andraus, o único que a paciente sofreu foi uma infecção urinária — mas que costuma ser comum em mulheres grávidas. Depois do nascimento,os médicos retiraram o útero. Desde o transplante feito em 2016, eles realizaram uma nova tentativa, em fevereiro de 2017, mas o órgão teve que ser retirado por conta de uma trombose que a paciente sofreu. Para os cientistas, o transplante simboliza mais uma possibilidade não só de tratamento de infertilidade, mas também de melhora na qualidade de vida das pacientes. "A adoção é uma opção para ter um filho, mas não é uma opção para ter um filho biológico. E tem gente que faz questão. A barriga de aluguel não está disponível para todas as mulheres. A mulher que quer ser mãe muitas vezes quer engravidar também, porque faz parte do processo. É difícil julgarmos a opção de cada um", opina Andraus. Com informações do G1 e Reuters.