Brasil marca presença no Miami Film Festival

Por Gazeta Admininstrator

Um dos mais respeitados festivais de cinema do mundo, o Miami International Film Festival (MIFF) completa 23 anos de existência com foco especial voltado para as produções ibero-americanas. Nesta edição, que acontece entre 3 e 12 de março, 9 longa-metragens brasileiros, sendo um em co-produção com México e Argentina, e outro em co-produção com Espanha e Argentina, além de três curta-metragens participam da mostra, que oferecerá ao público uma prova do melhor da nova safra de filmes brasileiros. Entre os diretores das produções brasileiras estão estrelas como Ruy Guerra, Miguel Faria Júnior e Sandra Werneck.
A diretora do festival, a francesa Nicole Guillimet, há quatro anos à frente do evento, e responsável pela inclusão de um número cada vez maior de filmes latino-americano diz ser uma apaixonada pelo nosso cinema. “Eu simplesmente amo o cinema brasileiro. Ele é tão vibrante, com roteiros tão fortes e originais. É um cinema de força, e os diretores são muito corajosos. Eles têm um ponto de vista e jogam isso na sua cara”, comenta Guillimet referindo-se à safra de “cinema realidade” que nos últimos anos passou a marcar presença nas telonas do Brasil e a conquistar o respeito dos críticos mundiais pelas produções nacionais.
Segundo Guillimet, 40% do total de filmes que fazem parte do festival são produções ibero-americanas. Ela diz que este ano não teve nenhuma dificuldade em selecionar as produções, devido à grande quantidade de bons filmes produzidos em todas as regiões ibero-americanas e que, na verdade, até deixou de trazer alguns que já estavam compromissados com outros festivais. O critério, segundo ela, está ligado à atualidade das produções. “Quando selecionamos um filme não estamos em busca de uma história específica ou um estilo. É como ir às compras”, brinca a diretora que visitou os festivais de Toronto, San Sebastian e Rio de Janeiro.
Dos sete longa-metragens brasileiros, quatro abordam temas ligados à pobreza, violência ou prostituição, temas que têm há algum tempo ajudado os cineastas brasileiros a conquistar espaço nos festivais internacionais. “O foco do festival é sobre o momento difícil pelo qual passa o mundo. Se você olhar, por exemplo, para um filme como “As meninas” de Sandra Werneck, que trata de prostituição infantil, verá que há muito de documentário. Esse é o tipo de coisa que acontece no mundo inteiro, não só no Brasil”, analisa a diretora do festival.
As produções brasileiras atualmente são muito fortes, na opinião da especialista. Mas o que, afinal torna um filme interessante ou significante para participar de um festival internacional? Guillimet diz que é uma boa história. “Não há definição”, diz ela acrescentando alguns ingredientes como cinematografia, qualidade visual, interpretação, ou uma mistura de tudo isso. “um filme é bom quando toca você de alguma forma, o que não quer dizer que você goste do filme. Alguns são selecionados porque chocam, deixam você desconfortável, e forçam o expectador a ver certas coisas para as quais ele não atentaria se não fosse o cinema”, resume.
A partir deste ano o Festival Internacional de Filmes de Miami passará a dar destaque a um país da América Latina. O primeiro escolhido foi o Chile, que apresentará seis longa-metragens. Diretores norte-americanos convidados pelo Festival estarão visitando Santiago, a capital chilena, para trocar experiências e interagir com os cineastras do Chile.
Ao todo, o festival apresentará 117 filmes sendo 92 longa-metragens e 25 curtas, incluindo 10 World Premieres, 34 International North American & U.S. Premieres e 31 East Coast Premieres. Prêmios de $25 mil serão distribuidos nas seguintes categorias: Drama (World Cinema Competition), Drama (Ibero-American Cinema Competition) e Documentário (World & Ibero-American Cinema Competition).

Os filmes brasileiros participam nas seguintes categorias:

U.S. Premiere
Do Outro Lado do Rio
Direção – Lucas Bambozzi

North American Premiere
Cidade Baixa
Direção – Sérgio Machado

As Meninas
Direção - Sandra Werneck

Vinícius
Direção - Miguel Faria Jr.
O Veneno da Madrugada
Direção - Ruy Guerra

International Premiere
Anjos do Sol
Direção Rudi Lagemann

A Máquina
Direção – João Falcão

East Coast Premiere
Sólo Dios Sabe
Direção – Carlos Bolado
Co-produção México, Brasil e Argentina

Confira no quadro abaixo as sinopses dos filmes participantes.

Do outro lado do Rio
Uma viagem aos limites do Brasil. Uma investigação da área indefinida entre as cidades de Oiapoque (Brasil) e Saint Georges de L’Oyapock (Guiana Francesa), onde permutam-se identidades e apenas um rio separa o homem de seus sonhos. Oiapoque é a zona de intersecção do Brasil com a Guiana Francesa, a porta de entrada para uma nova vida em território francês. Esta cidade evidencia o maior fluxo migratório nas fronteiras brasileiras. Os indivíduos que habitam a região e suas histórias são o foco do documentário. Obstinados, desespe-rançados e insatisfeitos com as condições que a Amazônia lhes proporciona, eles procuram, acima de tudo, a consolidação de um sonho, na maioria das vezes vago, tênue e incerto.

Cidade Baixa
Dois jovens de vinte e poucos anos, amigos desde a infância, conhecem uma sexy e tentadora prostituta, que decide testar a amizade dos dois. Gravado em uma zona de prostituição de Salvador, capital da Bahia, o filme mostra um triângulo amoroso que envolve assaltos à mão armada, drogas e desejo. Tem a assistência de direção de Walter Sales, do premiado Central do Brasil.

As Meninas
Documentário. No dia em que completa 13 anos, Evelin descobre que está grávida de seu namorado, um rapaz de 22 anos que acaba de se desligar do tráfico de drogas para o qual trabalhava na Rocinha, zona Sul do Rio de Janeiro, onde vivem. A gravidez não a impede de continuar sendo a garota de sempre.
A possibilidade de um aborto nem passou pela cabeça de Luana, 15 anos, quando ela descobriu que estava grávida. Órfã de pai, Luana vive com quatro irmãs e a mãe em uma casa onde só há mulheres. Desde cedo ajuda a mãe a criar as irmãs mais novas, e há meses vinha alimentando a idéia de ter um filho “só para ela”.
Edilene não planejou nem evitou sua gravidez. Tampouco o fez sua mãe. Agora, mãe e filha estão grávidas. Edilene espera um filho de Alex, por quem é apaixonada. Alex engravidou ao mesmo tempo sua vizinha, Joice, de 15 anos. Edilene, aos 14 anos e grávida, já vai viver o drama de um triângulo amoroso. Ao longo de um ano a equipe acompanhou o cotidiano destas quatro “meninas-mães”.

Anjos do Sol
Ficção inspirada em mais de nove anos de pesquisa e incontáveis escritos e notícias de jornal. Anjos do Sol conta a estória de uma jovem que é forçada a entrar na prosti-tuição infantil. Premiado pelo Ministério da Cultura do Brasil, o filme foi gravado nos vilarejos arenosos do litoral do Norte brasileiro, terras de garimpo e nas grandes cidades da região, sempre acompanhando a coragem e a dor das meninas que tiveram que abandonar a infância para encarar a dura e cruel realidade que a vida as reservou.

A Máquina
Antonio é o décimo-terceiro filho de uma família de Nordestina, uma cidadezinha que nem aparece no mapa, de tão pequena e distante. Isolada no sertão, a cada dia ela perde mais um de seus moradores, que pega um transporte para “o mundo”. Mas para o rapaz, a cidade tem a coisa mais interessante de todas as coisas do planeta: Karina.
A moça não gosta de Nordestina. Quer ser atriz, conhecer o mundo, aparecer na televisão. Para isso, quer armar um plano para fugir da cidade, assim como fez sua mãe, sem que o pai a impeça. Porém, mais forte que sua vontade de ir é a vontade de Antonio para que ela fique. Decidido a não perder Karina, grande amor de sua vida, ele resolve trazer o mundo até ela. O que não vai ser nada fácil.. Baseado no romance de mesmo nome de Adriana Falcão.

Vinícius
A apaixonada e apaixonante vida do poeta, escritor e compositor brasileiro Vinícius de Moraes é examinada através de entrevistas com amigos, amantes e parentes. Um raro arquivo de momentos musicais e pessoais. Esse olhar revelador sobre um artista de classe mundial vai além dos mitos para al-cançar o coração do público e daquele que foi um dos maiores poetas brasileiros.

O Veneno da Madrugada
Em um povoado perdido em algum lugar da América do Sul, a chuva constante e a lama fazem parte do cotidiano de seus habitantes, com suas vidinhas insípidas e sem perspectivas. As construções senhoriais decadentes revelam uma expectativa de progresso que não se realizou em um passado remoto.
Essa estagnação sofre um abalo quando bilhetes anônimos espalhados pela cidade denunciam traições amorosas e políticas, assassinatos, segredos de famílias envolvendo filhos bastardos e romances escusos.
Do rico universo imaginário de García Márquez, os personagens de O Veneno da Madrugada vivem situações limite na fronteira do amor e do ódio, da vida e da morte, do banal e do extraordinário, da verdade e de suas muitas possibilidades.

Sólo Dios Sabe
Dolores é uma estudante que vive na Califórnia, mas é obrigada a voltar ao Brasil devido a estranhos acontecimentos. Perseguida por uma misteriosa herança espiritual e um amor inevitável, ela se debate com questões relativas aos seus sentimentos, sua fé e seu destino.

As irmãs
A última vez que duas irmãs argentinas se viram foi em Buenos Aires, em 1975, durante o brutal golpe militar vivido pelo país. Segredos daqueles tempos turbulentos ameaçam atingir a família novamente, quando as irmãs se reencontram, dez anos depois. Este primeiro filme de Júlia Solomonoff, que conta entre outros nomes com a produção do brasileiro Walter Salles, é um tenso drama que fala de culpa e redenção.