Documentos revelados no último fim de semana mostram que o governo americano espionou bilhões de telefonemas e emails de brasileiros, provocando polêmica e mal estar entre os dois países. As informações são do “O Globo”e “BBC Brasil”.

As informações sobre a espionagem a brasileiros foram obtidas pelo jornalista, Glenn Greenwald, que recebeu os documentos e vem divulgando todas as denúncias de Snowden. Há um mês, ele publicou no "The Guardian" os documentos mostrando como a NSA espiona os cidadãos americanos, coletando bilhões de dados de ligações telefônicas e comunicações via internet.

Em seguida, mostrou como a NSA espiona outros países, como China, Alemanha, França. Documentos supersecretos mostram onde estão instalados, pelo mundo, os sistemas de monitoramento de um programa batizado de X-Keyscore. Um mapa da NSA confirma que o Brasil está entre os países espionados por esse programa, que detecta a atividade de estrangeiros no país, através do idioma usado na comunicação - por telefone ou email.

Com outro programa de espionagem, chamado de Prism, a NSA acessa os servidores de grandes empresas de internet no mundo, como Google, Facebook e Skype. Nos Estados Unidos, as três empresas disseram que só fornecem informações ao governo sob ordem judicial.

“Temos uma lei que fala: o governo americano não pode coletar informação, ou comunicações, dos americanos sem um tribunal. Então, se eles querem coletar ligações, e-mails, dos americanos ou cidadãos americanos, eles precisam ir para tribunal mostrar evidência que a pessoa é suspeita de estar trabalhando com terroristas. Para estrangeiros, todas as outras pessoas no mundo que não são americanos, eles não precisam de nenhuma permissão do tribunal”, explica Greenwald.

Os documentos não deixam claro quantas e quais empresas de telecomunicações brasileiras têm seus dados sendo redirecionados pelas empresas americanas para a central de operações da NSA. E nem se essas empresas brasileiras sabem que isso está acontecendo.

Segundo informações divulgadas pelo ex-agente amerciano, o Brasil é o mais vigiado da América Latina e está atrás apenas dos Estados Unidos, com 2,3 bilhões de mensagens e ligações interceptadas.

Itamaraty cobra esclarecimentos

O Itamaraty pediu “esclarecimentos” ao governo norte-americano e ao embaixador dos EUA no Brasil, Thomas Shannon, quanto à denúncia de o Brasil teria sido alvo de espionagem.

Entretanto, o governo dos Estados Unidos disse, no dia 7, que não vai responder publicamente aos questionamentos.

"O governo dos EUA vai responder apropriadamente a nossos parceiros no Brasil pelas vias diplomáticas e de inteligência. Não vamos comentar publicamente ou especificar supostas atividades de inteligência. Como política, já deixamos claros que os EUA obtêm inteligência estrangeira do tipo coletado por todas as nações", disse por e-mail o Departamento de Estado americano à “BBC Brasil”.

Estações de espionagem em Brasília

Pelo menos até 2002, funcionou em Brasília uma das estações de espionagem nas quais agentes da Agência de Segurança Nacional trabalharam em conjunto com a Agência Central de Inteligência (CIA) dos EUA. Não se pode afirmar que continuou depois desse ano por falta de provas. Documentos da NSA a que “O Globo” acesso revelam que Brasília fez parte da rede de 16 bases dessa agência dedicadas a um programa de coleta de informações através de satélites de outros países.

Também cogita-se que escritórios da Embaixada do Brasil em Washington e da missão brasileira nas Nações Unidas, em Nova York, em algum momento teriam sido alvos da agência.