Bruna Soboslay sabe bem o que é passar o Natal longe do marido. Não só o Natal, como a maioria das festas comemorativas, ele não esteve presente em aniversários, feriados e nem mesmo no parto do próprio filho, que ele assistiu por Skype. A paulista, de 26 anos, é casada com um Marine americano. Ela passou a maior parte do tempo, ao longo dos quatro anos em que estão casados, em uma base militar na Carolina do Norte, acompanhada de outras esposas na mesma situação.
Bruna relata a angústia de ter o marido no exército americano ainda mais em tempos em que a ameaça do terrorismo está assustando o mundo todo.
A última vez que viu seu marido foi em julho de 2015, antes de ele embarcar para a África. Eles não se verão no Natal e nem no Ano Novo. Mas Bruna resolveu, dessa vez, passar as festas com a família no Brasil.
“Esse ano eu passarei as festas com meus familiares no Brasil, já que ele está longe (mais uma vez). Mesmo na base militar, onde geralmente tenho o apoio das esposas de outros marines, nessa época do ano elas geralmente voltam para a casa dos familiares para as festas, pois é muito triste para quem fica para trás sozinho na base. Como sou brasileira, minha família está um pouco mais longe”, explica Bruna.
Além de ficar longe do marido, Bruna relata a tensão em momentos como esse, após os ataques de Paris e crescentes ameaças de grupos terroristas como o Estado Islâmico. “A gente sempre fica tensa pensando que o próximo ataque será perto dele e ele terá que largar o que está fazendo para ir ao combate”, disse Bruna. “O coração sempre fica na mão, mas a gente tem que sempre se preparar para o pior e esperar o melhor, em inglês: “Expect the worst, hope for the best” é o lema das mulheres militares”.
Para 2016, Bruna espera um ano diferente, pois o contrato de Chad com o exército termina em junho e voltará a ter uma vida de “civilian”, com um tempo de salário pago pelo exército e direito a bolsa de qualquer faculdade que escolher. Os planos deles são de morar na Flórida, perto da família dele, e começar a vida do zero. “Será uma mudança na nossa rotina, mas com o apoio da família e tempo a gente volta à rotina que tínhamos quando ele ainda não tinha se juntado ao exército”.
A história
Os dois começaram a namorar, Bruna voltou para o Brasil, ele foi visitá-la e, depois de formada, ela conseguiu outro estágio em Naples, na Flórida, e os dois passaram a viver juntos e acabaram se casando em outubro de 2011.
Logo depois, Chad resolveu que queria ser US Marine, o que é considerado a tropa de elite anfíbia militar, onde os soldados são treinados para o combate por solo, ar e água. Quando seu marido entrou para a tropa, Bruna relata que ela mesmo passou por um treinamento pra entender como se comportar. “É que os terroristas ficam muito de olho nas famílias. Então, postar qualquer coisa sobre uma missão no Facebook ou soltar um ‘Yes, ele está voltando’ são expressamente proibidos”.
Bruna ficou orgulhosa do marido, mas desde então o seu casamento é à distância. Em longos períodos, Chad passava uma semana em casa somente. Quando Bruna descobriu que estava grávida, Chad estava incomunicável e só soube meses depois.
Já com alguns meses de gravidez, Bruna e o marido se mudaram para uma base militar na Carolina do Norte, em Camp Lejeune, que são como cidades independentes. “As casas são todas iguais e tenho amizade com outras esposas na mesma situação. Temos cinema, hospital, escolas, lojas e restaurantes dentro do complexo. Além disso, o aluguel, as contas e benefícios básicos são todos custeados pelo governo. Enfim, é um pequeno paraíso”, descreve Bruna. “Após a mudança, logo no primeiro dia de trabalho, Chad voltou cabisbaixo e veio conversar comigo. Ele havia sido escalado pra uma missão no Afeganistão por sete meses. Isso mesmo, Afeganistão. Meu mundo caiu. Nosso filho nasceria bem na metade desse tempo, e Chad só o conheceria aos quatro meses. E ainda tinha o perigo da missão, claro”.
Sete meses no Afeganistão
Na missão, Chad era obrigado a andar com um rifle 24 horas por dia. Os dias eram longos, quentes, secos. Durante esse período, Bruna só conseguia falar com Chad uma vez por semana. “Vivia com um constante nó na garganta. E quando o serviço de emergência ligava no meu celular, com a gravação ‘This is the emergency service from the United States Marines’?, quase morria de tensão até entender que estavam apenas testando o sistema”, disse Bruna. “Certa vez, bateram na porta de casa e, ao abrir, me deparei com dois Marines uniformizados. Desatei a chorar. É que, quando eles perdem um Marine, vão até a casa da família pra dar a notícia. Mas eles estavam apenas procurando o cachorro da vizinha que havia fugido”.Parto por Skype
Entre sustos, saudade e Skype, a gravidez estava perto do fim. A mãe e a sogra de Bruna vieram ficar com ela. “Fiquei mais de 36 horas em trabalho de parto. Chad conseguiu acompanhar tudo pelo Skype, direto do Afeganistão. Como casos assim eram comuns, o governo montou uma salinha própria, com computador, água, comida e até decoração de quarto de bebê pros pais assistirem ao nascimento dos filhos. O chorinho de criança trouxe uma vida inexplicável pro nosso lar. Depois que minha mãe foi embora, tive meio que me virar sozinha. Me surpreendi com o quanto lidei bem com o Mason”.
Aproximadamente três meses depois foi a grande data, o “homecoming”. O batalhão organizou uma grande festa para receber os fuzileiros. Era o momento em que Chad e Manson se veriam pela primeira vez.
“Foi o momento mais emocionante da minha vida. Ver os dois se olhando nos olhos, a primeira pegada no colo, o jeito como Chad carregava o Mason... fez cada segundo sozinha valer a pena. Era uma sensação tão diferente de tudo que já passei que não consigo colocar em palavras”. Mas, claro, quando Bruna pensava que a família ficaria reunida por um tempo, Chad foi promovido.
“Com isso veio a oportunidade de outro treinamento em Missouri, dali a alguns meses. E lá foi ele novamente. Mais uma vez, não tive meu marido por perto numa data importante: o aniversário de 1 ano do Mason. Fizemos uma festinha simples e comemoramos de verdade quando ele voltou. Afinal, uma coisa que a gente sabe fazer muito bem aqui é comemorar retornos”.
Agora, Bruna não vê a hora do contrato de quatro anos de Chad terminar na metade de 2016. “Aí poderemos, pela primeira vez, levar uma vida normal de marido e mulher. Mesmo estando a quase quatro anos casados, ainda não tenho ideia do que é de fato levar uma vida a dois”.