Brasileira contribui com avanços na luta para controlar o HIV

Por Marisa Arruda Barbosa

OLYMPUS DIGITAL CAMERA

Em 1992, quando havia poucos recursos para controlar o vírus do HIV, a brasileira Sabrina Sales Martinez perdeu seu padrinho e tio, vítima de complicações da AIDS. Se fosse hoje, a contribuição da brasileira, que acabou de receber o diploma de PhD em nutrição, talvez ajudaria seu tio a ter mais qualidade de vida.

Sabrina trabalha como coordenadora de pesquisa no Departamento de Nutrição da Florida International University, em Miami, e acabou de conquistar o título de PhD com a conclusão de uma pesquisa que significa um avanço na luta para controlar a progressão do vírus do HIV.

Sabrina Sales Martinez, de 37 anos, estava entre os 5.015 alunos que receberam diplomas na última semana na Florida International University. Sua formatura aconteceu no dia 4, no campus Modesto Maidique, em Miami, e Sabrina também faz parte do programa Worlds Ahead, de alunos de destaque nos programas de pós-graduação da universidade.

A brasileira dedicou os últimos cinco anos a uma pesquisa sobre os efeitos da nutrição em pacientes de HIV, feita em parceria entre a FIU, a Harvard School of Public Health e o Ministério da Saúde de Botswana.

Sabrina viajou para Botswana, no sul da África, onde quase 25% da população é infectada pelo vírus, para trabalhar com a população local infectada pelo HIV. A pesquisa que ela conduziu, sob a supervisão das professoras Marianna Baum (PhD) e Adriana Campa (PhD), contribuiu para a descoberta de que a ingestão de multivitaminas e selênio retardara o aparecimento de sintomas em pacientes recentemente infectados pelo vírus.

Uma história pessoal O assunto do HIV sempre esteve presente na família de Sabrina. Seu tio e padrinho, o argentino Eduardo Acosta, morreu por causa do HIV em 1992, numa época em que não havia medicamentos efetivos disponíveis. Hoje, sua contribuição para o avanço da medicina para curar ou pelo menos controlar o vírus é feito em sua memória.

O pai de Sabrina é brasileiro de Minas Gerais e a mãe, argentina. Mesmo tendo nascido nos Estados Unidos, a pesquisadora viveu no Brasil por alguns anos de sua infância. Depois, veio viver em Nova York, onde seus pais eram donos de um restaurante.

“Sempre gostei de ciências e tinha um interesse especial por comida por causa do restaurante”, explica ela. Quando seu padrinho morreu, Sabrina tinha 13 anos, mas era muito próxima dele e esse assunto nunca saiu de sua cabeça. “Foi muito rápido. Ele ficou cego e com demência e nem havia ainda o coquetel antirretroviral”, contou. “Hoje, o HIV é visto mais como uma doença crônica controlável, como um idoso com algumas necessidades especiais”. A pesquisa Na pesquisa, foram escolhidos 878 pacientes com HIV no Princess Marina Hospital em

[caption id="attachment_86632" align="alignright" width="300"] Sabrina (à direita) com a equipe médica da clínica de investigação.[/caption]

Gaborone, Botswana. Parte deles recebeu suplementação de multivitaminas (vitaminas B, C, E), outros receberam somente selênio, outros tomaram multivitaminas com selênio e outros ainda só tomaram placebo, em um período de 24 meses.

As vitaminas e o selênio são nutrientes essenciais para manter o sistema imunológico responsivo.

Participantes recebendo os suplementos de multivitaminas junto com o selênio tiveram um risco menor comparado aos outros.

Quem tomou placebo teve mais riscos de que suas células CD4 chegassem à contagem de 250 ou menos, uma medida que exigia na época na Botswana o início do tratamento com o antirretroviral.

Quando a contagem dessas células fica abaixo de 250, é definida a condição de AIDS, quando o sistema imunológico fica muito baixo. Mas a contagem varia de acordo com cada país, e Sabrina explica que a Botswana mudou a norma e passou a administrar o coquetel quando as células atingem 350 desde abril de 2012.

A conclusão do estudo foi que a suplementação ajuda a retardar o aparecimento de sintomas de HIV, especialmente em países em desenvolvimento que têm menos acesso ao coquetel antirretroviral.

Sabrina disse também que notou como a obesidade pode ajudar pacientes com HIV. “O HIV usa muita energia do paciente e a obesidade pode ajudar a sustentar”, disse ela.