Brasileira corre pela primeira vez a Maratona de Boston após vencer câncer de mama

Por Marisa Arruda Barbosa

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A Maratona de Boston se tornou ainda mais simbólica depois dos ataques terroristas. Se antes a cidade já parava com essa corrida de mais de 42 quilômetros, que aconteceu pela 119º vez no dia 20, agora o espírito de superação tem significado muito mais profundo, sob o slogan “Boston Strong”. O que não faltam são histórias de superação como a de Rebekah Gregory, vítima do atentado de 2013 que perdeu uma perna e conseguiu correr 3.5 milhas da maratona com uma prótese este ano: “Hoje eu conquistei minha vida de volta”, disse.

Entre os 30.250 registrados na maratona, estava a brasileira Deborah de Aquino, de 39 anos, que não só realizava o sonho de todos os maratonistas, de correr em Boston, mas finalizava um ciclo pessoal, após vencer uma batalha contra o câncer de mama. A paulista completou a prova em 3h43m59s. “Boston é uma das provas mais difíceis que já vi. O tempo virou no dia da maratona, a temperatura estava 5ºC, são muitas ladeiras. Fiquei bem impressionada”, relatou a maratonista, por telefone, ao GAZETA. “Mas o que mais me impressionou foi o espírito das pessoas. Mesmo com frio e chuva, o público sai às ruas, saúda os corredores. É maravilhoso”.

Deborah se qualificou para a Maratona de Boston na Maratona de Berlim, em outubro de 2013, quando completou a prova dentro do tempo exigido. Mas, em dezembro do mesmo ano, a brasileira foi diagnosticada com câncer de mama. “Quando recebi o diagnóstico, eu vivia a minha melhor fase como corredora. Pensei que nunca mais iria correr. Quando vim para Boston, minha intenção não era somente completar a prova, mas fechar um ciclo”.

Depois de fazer cirurgia, Deborah iniciou as sessões de quimioterapia, que foram de janeiro até junho de 2014. “Eu continuei correndo durante as três primeiras sessões. Quando não consegui mais correr, continuei fazendo natação e os médicos acreditam que continuar me exercitando evitou que eu tivesse tantos efeitos colaterais”, relata. “Mas, assim que terminei as sessões, em 13 de junho de 2014, eu voltei a correr. Fiz radioterapia até o fim de agosto e já estava voltando a correr e alternando com caminhada”.

Em janeiro deste ano, a paulista começou os treinos para a Maratona de Boston. “Com certeza, o esporte foi a minha motivação. Sempre disse que a corrida me salvou de várias situações nos últimos 11 anos, desde que comecei”, reflete.

Deborah conta que, em 2014, estava careca, assistindo a Maratona pela TV e se perguntando se conseguiria correr os 42,195km daquela prova. “A situação toda dizia por si só que não, mas lá no fundo eu tinha um desejo tão grande que, mesmo que fosse andando, eu ia fazer essa prova. Eu tinha o tempo para me qualificar, mas naquele momento não tinha a saúde pra correr. Hoje, eu tenho a saúde e tenho uma vontade enorme de fazer essa prova pra lavar a minha alma”, disse Deborah, que comemora sua qualificação para o próximo ano.

Blog da Debs Desde 2010, Deborah tem um blog (Blogdadebs.com.br), no qual registra a sua trajetória como mãe e maratonista. No fim de maio, a brasileira publicará um livro contando sua história, cujo título ela ainda não revelou. “No livro, faço uma analogia entre a corrida e o câncer, como que o esporte me salvou e quais são os fatores emocionais que eu acho que estão por trás da doença”, resume.