Brasileira é acusada de roubo de identidade e prática ilegal de advocacia no sul da Flórida

Por Marisa Arruda Barbosa

Egli Diana Pinto pagou fiança de $6 mil dólares e aguarda audiência.

Quando o corretor de imóveis, o brasileiro Thiago Costa, contratou a advogada, também brasileira, Diana Pinto Abril, no início de 2011, pensou que havia encontrado uma ótima jovem advogada na Flórida, que também falava português, ajudando assim nos procedimentos de vendas de imóveis a brasileiros. Ele não imaginava, no entanto, que Diana Pinto Abril era na verdade Egli Diana Pinto, que usava a identidade de outra advogada na ordem dos advogados da Flórida, cujo nome real é Diana P. Abril, segundo documentos da corte.

Egli Diana, acusada de ter se passado por Diana P. Abril, disse ao corretor, através de um e-mail datado de 29 de janeiro de 2011, que tinha “13 anos de experiência em aconselhamento financeiro, relações internacionais, disputas estrangeiras, civis e de negócios, lei de imigração e naturalização, com mais de uma década de experiência bem sucedida representando instituições financeiras europeias, como Deutche Bank, Lloyds Bank, SantAnder Bank, London Bullion Market Association, etc”. Ao contrário, segundo o processo do 17º circuito judicial do condado de Broward, na acusação do estado da Flórida contra Egli Diana, ela nunca se formou em uma faculdade de direito que lhe daria a permissão de exercer a profissão de advogada na Flórida. “Mesmo assim, em abril de 2010, Egli Diana começou uma prática ilegal de direito”, diz o processo. Em janeiro de 2011, ela estava listada como a presidente do The Executive Law Firm, P.A., localizado em Hallandale Beach.

Egli Diana Pinto foi presa no dia 11 de setembro, na cadeia do condado de Broward, com cinco acusações por prática de advocacia sem licença, por casos com diferentes clientes, em sua maioria brasileiros, entre janeiro de 2010 e junho de 2012. A sexta acusação é de uso de falsa identidade.

Ela foi liberada sob a fiança de $6 mil dólares, sob a condição de deixar seu passaporte aos cuidados do Broward County Clerk, sem a permissão de pedir nenhuma permissão de viagem a nenhum outro órgão. Sua audiência está marcada para novembro.

Diana P. Abril, a verdadeira detentora do número da ordem dos advogados em questão, é membro do Florida Bar desde 6 de outubro de 2004. Ela contou ao GAZETA que no verão do ano passado começou a receber ligações de supostos clientes de Egli Diana, que segundo eles se passava por Diana P. Abril.

Diana Abril disse que ficou muito preocupada quando recebeu as denúncias, com medo de que isso tudo ferisse sua reputação enquanto profissional. Segundo ela, esses clientes a encontraram no site do Florida Bar e ligaram diretamente no número de telefone contido sob seu nome, suspeitos de que algo não estava certo.

Diana P. Abril diz que a abreviação “P” de seu nome é de Patrícia. Segundo ela e a acusação, Egli Diana Pinto assinava como Diana Pinto. Felizmente, Diana Abril disse que não teve nenhum transtorno financeiro usando seu nome e, até o momento, nenhum cliente ligou fazendo cobranças de algo fora de seu conhecimento.

Quando descobriu sobre o que estava acontecendo, Diana Abril fez uma reclamação para o Flórida Bar e um boletim de ocorrência em Hallandale Beach, quando descobriu que havia outras reclamações contra ela.

Ela chegou a falar por telefone com Egli Diana, que negou as acusações e disse que também tinha tido sua identidade roubada.

O advogado de Egli Diana, Michael Becker, disse ao GAZETA que geralmente não comenta casos que ainda estão em aberto. Egli Diana repetiu as palavras de seu advogado, dizendo que até sua audiência, no dia 1º de novembro, não pode se pronunciar sobre o caso. No entando, ela alega inocência e diz que lamenta estar passando por esta situação juntamente com todos os envolvidos no caso.

Desconfiança Thiago Costa, corretor de imóveis e dono da Lineage Realty, disse que contratou Egli Diana pela primeira vez ao buscar formas de fazer financiamento para um cliente. Ele disse que no início ficou impressionado com a postura dela e sua confiança no que dizia.

“Apresentei alguns clientes pra Diana para ser feito um ‘trust’ (documento que blinda o patrimônio do cliente), disse Thiago, em e-mail enviado ao GAZETA. “Uma cliente me perguntou se ela era mesmo uma advogada, pois ela teve informação de que a Diana não seria advogada. Dei uma olhada em alguns documentos que ela tinha assinado para meus clientes. Percebi que ela assinou de duas maneiras: uma, como Egli Diana Pinto e outra como Diana Pinto Abril”.

Thiago procurou pelo nome Diana Pinto no Flórida Bar e só encontrou Diana P. Abril. “De início, passou despercebido, mas fui verificando mais a fundo e descobri que ela usava essa assinatura para disfarçar sua identidade e se passar como advogada”, disse o corretor. “Depois que eu descobri isso, perguntei a ela se ela era advogada registrada na Florida e ela me disse que era advogada registrada ‘no nível federal’, mas isso era pura mentira. Depois disso, resolvi manter distância e procurar uma assessoria jurídica”.

Thiago mostrou os documentos do “trust” que seus clientes tinham feito e descobriu que eles não tinham valor legal nenhum. “Contratei uma advogada e entrei na justiça contra ela”, disse. “Felizmente, no meu caso, foram apenas alguns inventários que não serviram pra nada, mas tem outros brasileiros que perderam muito mais dinheiro”, completa.

Outros brasileiros Entre outras vítimas no processo, há dois brasileiros que a contrataram para serviços de imigração e documentação de suas empresas. Um deles pagou um total de $34.554 dólares em honorários para o The Executive Law Firm, o outro pagou $27.180 dólares também em honorários. Os dois foram informados este ano que ela não era advogada.

No documento da corte não está claro se esses brasileiros lutam para receber ou se receberam o dinheiro de volta.