Danielle Souza Ferreira, uma brasileira em situação ilegal nos Estados Unidos que permaneceu quatro dias numa prisão da Carolina do Norte sem poder amamentar o filho de dois meses, afirmou à agência de notícias Efe que passou por “uma experiência terrível”.
“Ninguém me ajudava. Disseram-me para colocar panos quentes a fim de aliviar a dor de não poder extrair o leite. Os guardas diziam que não devia ter me envolvido em problemas, já que estava inquieta”, afirmou Danielle, de 29 anos, posta em liberdade na terça-feira(27).
As autoridades de imigração ordenaram que Danielle fosse solta. Ela estava na prisão do condado de Mecklenburg, e deverá se apresentar perante um juiz de imigração no dia 4 de dezembro em Atlanta (Geórgia).
A mãe está preocupada com a saúde de Samuel, de dois meses. Como o leite se-cou, ela não poderá amamentá-lo e o bebê não aceita leite em pó.
Danielle, que nasceu em Belo Horizonte, afirmou que seu outro filho, Daniel, de dois anos, está em bom estado físico e feliz pelo seu retorno.
A brasileira foi detida na última sexta-feira por agentes da Polícia de Charlotte ao sair de uma loja com seu irmão e os filhos, acusada de roubar um CD.
Ambos os imigrantes foram transferidos para o centro penitenciário da localidade, onde se comprovou que viviam ilegalmente no país.
Danielle chegou à cidade com visto de turista em 2005. Ela trabalhava em casa vendendo produtos através da internet.
Julia Rush, porta-voz do escritório do oficial de Justiça de Mecklenburg, disse hoje à Efe que não sabia da nova norma do Serviço de Imigração e Alfândega (ICE, na sigla em inglês), que deixaria em liberdade mães que estão amamentando.
“Se soubéssemos, ela teria sido libertada na própria sexta-feira. Não nos notificaram. Esclarecemos a situação, e estamos revisando as políticas sobre tratamento de detidas que estão amamentando”, afirmou.
Segundo o pastor evangélico Ezequiel Oliveira, amigo de Danielle, ao ser presa a brasileira não sabia que seu irmão tinha escondido o produto no carrinho do bebê.
“Isto foi uma vitória para a comunidade imigrante. Agora vão pensar melhor antes de separar uma mãe de seus filhos. Ficamos alegres de que este caso tenha servido para mudar algumas políticas”, afirmou Ezequiel.
A porta-voz disse que Danielle assinou um documento em que afirma ter vontade de deixar o país, e por isso ficou presa até processarem a deportação.
“Quero esquecer o incidente e retornar ao Brasil”, afirmou Danielle, que teria comprado passagens para seus filhos e o irmão a fim de se reunir com familiares no Rio de Janeiro, antes do incidente.
“Existe diferença na maneira como tratam os imigrantes e os americanos nessa prisão, embora todos estejam presos. Eles nos tratam com desprezo”, acrescentou.
ONGs pedem fim de deportações de grávidas e lactantes
A iminente deportação de uma haitiana, que pode ser separada de seu bebê, o qual está amamentando, preocupa organizações de defesa dos imigrantes na Flórida que pedem que o governo americano cancele as expulsões de ilegais nestes casos.
A haitiana Francieuse Fortune, que possui ordem de deportação, foi presa em outubro pela Imigração e mantida sob custódia, durante duas semanas, em um centro de detenção do condado de Broward, perto de Miami. Sua filha, Dyanna, nascida nos EUA há cinco meses, que ficou com o pai, esperava pelo destino de sua mãe.
“Está vigente a ordem de deportação. A mulher deverá deixar o país, em breve, mas não se sabe o que vai acontecer com seu bebê de cinco meses, que está mamando”, disse à AFP Rochenel Marc, da organização WeCount!.
Francieuse deixou o centro de detenção, após a intervenção de organizações de direitos dos imigrantes, que se ampararam em uma norma federal que permite soltar mães grávidas, ou que estejam amamentando, mas ordena que estas devem se dirigir à imigração uma vez por semana. No caso dela, toda segunda-feira.
As autoridades reiteraram que Francieuse deve deixar tudo pronto para sua deportação, o que inclui decidir se deixa a pequena para trás com o pai, ou se tira um passaporte para levá-la consigo.

