Brasileira que forjou ataque na Suiça poderá tentar doença para escapar da punição

Por Gazeta Admininstrator

A Promotoria Pública de Justiça de Zurique confirmou ontem que Paula Oliveira - a pernambucana de 26 anos que contou ter sido atacada por neonazistas e enviou para a família fotos com marcas de cortes por todo corpo - confessou ter mentido. A confirmação veio um dia após o semanário "Die Weltwoche" publicar detalhes de uma confissão que, pela lei suíça, deveria permanecer secreta até o fim da investigação. O advogado de Paula, Roger Müller, disse à BBC Brasil que talvez use na defesa o fato de sua cliente sofrer de lúpus, uma doença inflamatória que, entre outros sintomas, pode provocar distúrbios psicológicos:

- Ainda não definimos nossas táticas, mas essa (os efeitos da doença) seria uma delas - disse Müller à BBC.

Paula vai ser interrogada por Marcel Frei, promotor que investiga o caso, na próxima semana, informou Müller. O interrogatório será restrito: na sala, só o promotor, uma assistente dele, Paula, o advogado e uma tradutora.

Paula tem condições de enfrentar interrogatório

Ao GLOBO, Müller disse que Paula está em condições psicológicas para enfrentar o interrogatório. Perguntado se ela tem problemas psicológicos, disse:

- Isso é também um fato que não posso comentar. Vai se revelar no decorrer do interrogatório.

Para Müller, as declarações de sua cliente à polícia não têm valor jurídico, pois não foram feitas diante de um advogado:

- Tudo o que foi dito e não dito até agora foi perante à polícia e não ao promotor, na ausência de advogado. Por isso, não tem qualidade de prova. Leia mais em O Globo

Médicos especialistas no tratamento de lúpus, doença autoimune em que partes do corpo são prejudicadas por ações do próprio organismo, dizem ser remota a chance de um paciente manifestar desvio de comportamento - como argumentam, em Zurique, defensores da advogada brasileira Paula Oliveira para justificar o processo de automutilação pelo qual ela passou. Embora as vítimas da doença possam ter surtos psicóticos, médicos afirmam que esse tipo de reação é menos comum do que os principais sintomas, como problemas na pele e nas articulações.

- Na maioria dos pacientes, a doença se manifesta de forma leve. A incidência é de 50 a cem pessoas para cada cem mil. A manifestação de distúrbios cerebrais não chega a 10% dos casos. E no quadro psicótico, o número ainda é menor - explicou o clínico geral Arnaldo Lichenstein, do Hospital das Clínicas de São Paulo.

O lúpus, disse o médico, é uma doença em que o organismo produz anticorpos. Atinge, na sua maioria, mulheres em período fértil. A incidência é de nove mulheres para cada homem. É uma doença não contagiosa, de forte tendência genética.

Muitos brasileiros na Suíça estão indignados com a reviravolta no caso de Paula Oliveira e temem que isso contribua para uma má imagem do país e dos imigrantes no país. Segundo o consulado, só na região da Suíça de língua alemã, há 40 mil brasileiros; até agora, eles sempre foi bem vistos pelos suíços, ao contrário de imigrantes do Kosovo, por exemplo, frequentemente criticados.

- Isso é muito ruim. A gente fica com uma imagem esquisita porque as pessoas deixam de confiar na gente - disse a carioca Eliana Baptista, de 51 anos, casada com um suíço que conserta telhados. - Racismo, aqui, é como em qualquer lugar do mundo. Acho a Suíça até boa com os estrangeiros. É um país acolhedor. Tenho amigos suíços e não há problema.