Brasileira viveu saga de 10 anos para descobrir que tinha doença de Lyme

Por Marisa Arruda Barbosa

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[caption id="attachment_169229" align="alignleft" width="341"] Após idas e vindas a médicos, e vários diagnósticos equivocados, a brasileira descobriu que portava a "doença do carrapato"[/caption] Com a chegada do verão e aumento das atividades ao ar livre, incluindo Summer camps para crianças em todo o país, autoridades alertam para a temporada de carrapatos, transmissores da doença de Lyme. No entanto, como os sintomas são muito diferentes de pessoa para pessoa e facilmente confundidos com outras doenças, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças acreditam que aproximadamente 300 mil pessoas sejam infectadas por Lyme todos os anos nos Estados Unidos, mas nunca são testadas. E o número de casos confirmados triplicaram nos últimos anos. A doença de Lyme é uma infecção da bactéria Borrelia burgdorferi transmitida através de picadas de carrapatos infectados e, se não for tratada, pode se espalhar para as articulações, o coração e o sistema nervoso. Embora seja mais comumente associada à Nova Inglaterra e à área do médio Atlântico, a Flórida está entre os 20 estados com mais casos da doença no país. Entre 1990 e 2012, aproximadamente 12.730 novos casos da doença foram diagnosticados. Mas esse número tem aumentado em todo o país, de acordo com o CDC. A paulistana Adriana Moreira, que vive em Sarasota, demorou quase 10 anos para descobrir qual era a causa real de vários sintomas que a fizeram ficar quase um mês internada. Quando procurou um médico em setembro de 2007, ele descartou a realização de um teste para detectar a doença, afirmando que “na Flórida não tem Lyme”. Segundo Adriana, esse grande engano custou sua saúde, qualidade de vida e rendeu uma coleção de diagnósticos por quase uma década. [caption id="attachment_169236" align="alignright" width="339"] Sintomas começam com um pontinho vermelho na pele, que se alastra.[/caption] Adriana afirma que contraiu a doença em Sarasota, na Flórida, e que conhece muitas pessoas que também foram infectadas no estado. Embora uma picada de carrapato seja muito perceptível, os carrapatos que carregam a doença são filhotes, menores que uma semente de gergelim, por isso também fica muito difícil determinar se uma pessoa foi picada ou não. “Você pode ter pego um carrapato e nunca ver”, disse Dr. Mollie Jewett, pesquisadora da Universidade da Flórida Central. Desde que finalmente recebeu o diagnóstico de Lyme em 2016, Adriana tenta relembrar quando teria acontecido a picada do carrapato. “Eu realmente não sei onde fui picada e acho que nunca vou saber ao certo. Mas na verdade, o que tenho pesquisado é que enquanto o CDC diz que se trata de uma doença transmitida pelo carrapato, há estudos alemães que falam que há evidências que a bactéria Borrelia burgdorferi é encontrada em mosquitos, até”, disse Adriana. “A única coisa que eu consigo relacionar é que eu adotei dois gatos um mês antes de eu começar a ter os sintomas. Esses gatos vieram de uma fazenda no leste de Tampa. Hoje em dia, tentando montar esse quebra-cabeças, o que me vem à mente é que esses gatos tinham carrapato, ou eles tinham a doença e me passaram através das pulgas mesmo. Porque hoje em dia, convivendo com outras pessoas que também passaram anos e anos sem um diagnóstico e sem terem sido picadas por carrapatos, existe muita gente que pegou através de pulga e até mesmo de piolho”. Uma saga de quase 10 anos Adriana começou a ter sintomas em 2007. Primeiro uma dermatite, depois dores nas juntas, idas e vindas a médicos, e a sugestão de um diagnóstico de artrite reumatóide. Com o tempo, os sintomas só pioravam. Ela começou a sentir a garganta arranhando, como se algumas comidas ficassem “entaladas”, começou a sentir fraqueza, cansaço e dificuldade de fazer alguns movimentos, como agachar. Em junho de 2009, ela foi se tratar no Brasil. Quando chegou para uma consulta no Hospital das Clínicas em São Paulo, não deixaram que ela saísse do hospital. Conclusão: 28 dias de internação. O diagnóstico: dermatomiosite e doenças do tecido conectivo, ambas doenças autoimunes. Adriana então estava prestes a conviver com a ideia de que tinha uma doença autoimune e teria que tomar remédios pelo resto da vida. Em 2011, de volta aos EUA, resolveu engravidar e parou o tratamento. Durante três anos, ela mudou a alimentação e conseguiu, de certa forma, controlar a saúde sem remédios. Adriana teve dois filhos saudáveis. Mas em maio de 2016, seus sintomas voltaram a piorar. O médico então sugeriu que ela fizesse o teste da doença de Lyme. “Ele disse que meu caso de fadiga crônica e dores nas juntas era clássico”, relatou Adriana. “Foi dito e feito. Deu positivo para Lyme e me dei conta que meu diagnóstico foi errado todo esse tempo. Comecei a pesquisar e vi que essa doença é conhecida como a grande imitadora. A doença imita todas essas outras doenças como esclerose múltipla, lúpus, artrite e outras. Todas essas doenças autoimunes podem ser o Lyme mascarado”. Há um ano, Adriana está se tratando com uma médica especialista em Tampa. O tratamento é complexo e consiste no revezamento de diferentes antibióticos. Ao todos foram uns sete meses revezando diferentes tipos de antibiótico. “Acho que finalmente isso mudou meu quadro”, disse Adriana. “Aos poucos estou conseguindo me recuperar, mas ainda tenho muitas dores nas juntas”. Desde novembro o Lyme não aparece mais nos exames de Adriana. “Isso para mim já é um grande avanço, mas sei que é um longo caminho”. Casos Em um comunicado em maio, o CDC alertou que casos de doenças transmitidas por vetores – aquelas causadas por vírus e bactérias transportadas por carrapatos, mosquitos e outros insetos – triplicaram no país de 2004 a 2016. Sintomas Os sintomas e sinais da doença de Lyme variam e normalmente aparecem em estágios. Primeiros sinais e sintomas: Uma bolinha vermelha pequena que aparece no local da picada de um carrapato. Isso é normal e não indica a doença de Lyme. No entanto, os seguintes sinais e sintomas podem ocorrer dentro de um mês da infecção: - Vermelhidão – De 3 a 30 dias após a picada, uma área vermelha pode se expandir, branca no centro, formando como se fosse um “alvo”. A marca (que se chama erythema migrans) se expande ao longo de dias e pode aumentar até 30 cm, mas sem dor o coceira. - Sintomas de gripe, como febre, calafrios, fadiga, dores no corpo e dores de cabeça podem acompanhar a vermelhidão. - Sintomas posteriores: se não tratados, os sintomas de uma infecção por Lyme podem aparecer dentro de semanas ou meses, o que inclui mais marcas vermelhas, dores e inchaço nas juntas ou problemas neurológicos, como meningite, paralisia temporária de um lado da face, fraqueza dos membros e comprometimento dos movimentos dos músculos. - Sintomas e sinais não tão comuns: - Várias semanas depois da infecção, algumas pessoas podem desenvolver problemas temporários de coração, como batimento irregular, inflamação nos olhos, inflamação no fígado e fatiga severa.