Brasileiras com deficiência contam como levam uma vida normal na Flórida

Por Marisa Arruda Barbosa

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"Ser diferente é normal”. É de acordo com essa frase que duas brasileiras portadoras de deficiência vivem no sul da Flórida.

Tathiana Piancastelli, de 31 anos, inclusive encabeça a campanha de mesmo nome que é parte do Instituto Meta Social, no Brasil, no qual ela é voluntária desde pequena. Portadora de síndrome de Down, a paulista radicada em Miami é conhecida por seu trabalho em campanhas e como autodefensora da causa.

Monique Assunção, de 35 anos, tem acesso ao transporte público, trabalha, estuda e é mãe de um menino de 13 anos. A maranhense radicada em Pompano Beach é portadora de deficiência visual.

Dia 3 de dezembro é o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência. A data foi criada em 1992 pela Organização das Nações Unidas com a finalidade de trazer maior conscientização sobre a causa. É nessa data que várias instituições do mundo, sejam elas governamentais, não governamentais ou mesmo a sociedade civil, focam em projetos relacionados à inclusão de pessoas com deficiência através de fóruns, discussões públicas e campanhas informativas. A meta é encontrar formas inovadoras de integração das pessoas com deficiência.

O GAZETA aproveita esse dia para contar como essas duas brasileiras vivem uma vida normal e lidam com a deficiência.

Deficiência visual não impede que Monique Assunção estude e trabalhe

Monique chegou aos Estados Unidos com sua mãe quando tinha aproximadamente 20 anos. Portadora de uma deficiência visual congênita, Monique é considerada legalmente cega, apesar de enxergar perfeitamente de perto. Foi somente depois de cinco anos nos EUA que a maranhense descobriu o mundo da acessibilidade no país.

“Um dia eu estava andando no shopping e vi um estande do ‘Division of Blind Services’ do estado da Flórida. Eu peguei um panfleto e liguei assim que cheguei em casa. Trata-se de um serviço para deficientes visuais”, disse Monique. “Até hoje tenho vários benefícios por causa deles”.

Monique estuda no Broward College e é cozinheira em uma escola pública, em Pompano Beach. “Tudo o que eles fazem é facilitar a minha vida para que eu trabalhe, estude e leve uma vida normal”, relata. “Eles me ajudam com tudo que preciso, como com lupas eletrônicas específicas para facilitar o meu trabalho, computador, uma câmera para eu filmar as aulas. Há várias leis que ajudam pessoas com deficiência, principalmente em relação à discriminação”.

Para ela, a fase mais difícil foi constatar que nunca poderia dirigir na vida, ainda mais vivendo na Flórida, onde o carro é fundamental. “Quando eu tinha 20 anos foi que descobri isso e, no começo, vivendo aqui, foi difícil, pois eu dependia muito das pessoas para me locomover”, disse. “Precisei adaptar a minha vida a essa realidade: moro a 10 blocos do trabalho, para onde posso ir a pé, e estou perto de centros comerciais para ir ao supermercado, etc”.

Mas Monique logo descobriu outro serviço público de transporte que também é específico para pessoas com deficiência, sejam elas permanentes ou temporárias, o TOPS – Transportation OPtionS, do condado de Broward. “Ligo com antecedência para marcar onde e o horário e o ônibus me busca. Eu pago $3,50 dólares pela viagem, mas o DBS me manda um cheque todo o mês para cobrir essa despesa, caso eu use para ir à faculdade ou ao trabalho. Claro, se uso o serviço para lazer, pago do meu próprio bolso”.

Monique também conseguiu bolsa integral para a faculdade no Broward College, mas foi informada pelo DBS que se a faculdade não oferecesse a bolsa, eles cobririam. A brasileira é grata por viver em um sistema que faça de tudo para que ela tenha uma vida normal. “Fui ao Brasil em 2013 e conversei com uma mulher cujo filho é cego. Ela disse que ele não tem benefício algum”.

Tathiana Piancastelli: uma inspiração aos portadores de síndrome de Down

Tathiana é conhecida por ser a primeira pessoa com síndrome de Down a escrever e protagonizar uma peça de teatro profissional, “Menina dos Meus Olhos”, que foi apresentada em Miami, em julho. Além disso, ela empresta sua imagem a comerciais e campanhas de conscientização sobre as pessoas com deficiência, é apresentadora de um canal no YouTube, chamado “Ser Diferente” (ainda em fase de lançamento) e ministra palestras como autodefensora da causa de pessoas com deficiência.

Tathiana está aproveitando o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência para celebrar vitórias e lançar sua própria página no Facebook, que levará o seu nome.

“Eu preciso dessa ferramenta para continuar crescendo”, explicou Tathiana, que é natural de São Paulo e vive em Miami desde março deste ano, quando se mudou de New York. “Quero inspirar cada vez mais amigos com minhas histórias”.

Através das campanhas em que participa, Tathiana está envolvida com pessoas de alguns países, além do Brasil. Ela já viveu na Holanda também antes de vir para os EUA, mas diz ter a impressão de que vê mais aceitação das pessoas com deficiência por aqui. Tathiana é estagiária no Studio D, famoso salão de beleza em Miami.

“Atuar, em geral, é uma das minhas paixões. Posar para fotos e vídeos em campanha publicitária também”, disse Tathiana. “Além disso, outra paixão do momento é meu namorado!”.

Entre os projetos para 2016, “Menina dos Meus Olhos”, que também já foi apresentada em New York em 2013, será apresentada na Europa e no Brasil.

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Sistema de transportes para deficientes em BrowardFlorida Blind Division Services