Brasileiro conta sobre a dificuldade de viver no Alabama

Por Gazeta News

A rotina dos brasileiros que vivem no Alabama foi alterada bruscamente com a entrada em vigor da nova lei de imigração do Estado, considerada a mais rígida dos Estados Unidos.

Com as restrições impostas pela lei, aqueles em situação ilegal nos Estados Unidos se viram de uma hora para outra em dificuldade para alugar uma casa, pagar o imposto do carro ou mesmo ter acesso a serviços básicos, como instalação de luz, gás ou TV a cabo.

“Está ficando quase impossível viver aqui se a pessoa não estiver de forma legal”, disse o paranaense Alexandre Pereira Crispin, 36 anos, ao citar relatos de amigos brasileiros em situação irregular no país, que sofreram o impacto da nova lei. Alexandre não foi afetado de maneira direta, já que está legalmente no país e tem o visto de permanência em dia. No seu caso, afirma, o impacto veio na forma de uma sensação de desânimo com o sentimento contra imigrantes no Estado.

“Depois que surgiu essa lei, decidi não ficar mais tempo aqui”, disse Crispin, que no início de dezembro pretende voltar à cidade natal, Maringá, com a mulher, Cristiane Basso Vieira, 31 anos, e o filho, Kevin, nascido há dois meses e meio.

Desde 2007 vivendo no Alabama - onde ele, que é formado em Educação Física, se especializou como personal trainer, e Cristiane, formada em Letras, conquistou um diploma em Negócios e Marketing pelo Gadsden State Community College -, Crispin conta que já pensava em voltar ao Brasil, mas tinha a opção de pedir mais um ano de extensão do visto americano. A chegada da nova lei consolidou a decisão de partir. “Isso tudo nos desanimou”, diz.

Rigor

Sancionada pelo governador republicano Robert Bentley em 9 de junho, a lei do Alabama é inspirada na SB 1070, que foi aprovada pelo Arizona no ano passado e serviu de modelo para dezenas de legislações semelhantes em outros Estados. Assim como a lei do Arizona, a HB 56 dá à polícia o direito de exigir de pessoas detidas por qualquer tipo de infração - inclusive em fiscalizações rotineiras no trânsito - um comprovante de seu status de imigração. Também permite que a polícia detenha pessoas suspeitas de estarem irregularmente no país, caso essas não apresentem os documentos comprovando sua situação legal.

No entanto, a lei do Alabama é considerada ainda mais rígida do que aquela que lhe serviu de modelo. A HB 56 determina que as escolas verifiquem o status de imigração das crianças na hora da matrícula, impede que imigrantes ilegais tenham carteira de motorista e torna crime estadual transportar ou acolher essas pessoas.

O rigor da nova lei e os protestos que provocou por parte de grupos de defesa dos imigrantes e dos direitos civis fizeram com que a Justiça embargasse temporariamente sua implementação.

No entanto, há duas semanas, a juíza federal Sharon Lovelace Blackburn, de Birmingham, decidiu permitir que a lei entrasse em vigor. Alguns pontos mais polêmicos permaneceram bloqueados, mas a maioria foi implementada.

Horas depois do anúncio da juíza, começaram os relatos de famílias inteiras de origem hispânica deixando o Alabama às pressas com medo das consequências da nova lei, a maioria com destino a outros Estados com legislação menos rígida. Em apenas um dia na semana seguinte à decisão judicial, calculava-se que mais de 2 mil alunos estivessem ausentes nas escolas do Estado.

Segundo Crispin, porém, o clima entre os brasileiros em Birmingham ainda parece ser o de esperança de que a lei possa ser bloqueada pela Suprema Corte ou revertida de alguma maneira. “Mas se isso não ocorrer, acho que não vai ter outro jeito. O povo vai ter que acabar se mudando”, diz.