Com um consultório dentário improvisado na lavanderia de sua casa, em Boca Raton, um dentista sem licença atendeu até seis mil pacientes e utilizava o dinheiro recebido para construir uma mansão no Brasil, disse a polícia.
baldo Bittencourt, de 62 anos, atendia somente imigrantes brasileiros, segundo o boletim de ocorrência do Palm Beach County Sheriff’s Office. As informações são do “Sun Sentinel”.
Como regra, o “supercuidadoso” Bittencourt, dentista graduado no Brasil, não atendia telefonemas e preferia retornar mensagens em 24 horas, segundo o relatório policial. No final de junho, uma policial à paisana o telefonou, deixando uma mensagem em português. O brasileiro retornou a mensagem, identificando-se como Dr. Ubaldo. Os investigadores detalharam que o consultório de Bittencourt ficava localizado na lavanderia no interior de sua casa, na Rua Camino Real, em Boca Raton. Em 25 de junho, a policial se consultou com o dentista alegando que necessitava de tratamento.
Portando um gravador, a policial foi levada à lavanderia, onde havia uma cadeira de consultas, vários equipamentos odontológicos, incluindo uma máquina de raios-X, ferramentas e moldes.
“Esses itens estavam sendo utilizados por Bittencourt sem material de proteção contra radiação e não havia equipamentos de esterilização à vista”, disse o relatório de prisão. Bittencourt realizou um exame oral, pondo os seus dedos no interior da boca da paciente sem utilizar luvas, segundo documentos. O brasileiro supostamente disse à agente que ela precisaria de uma ponte dentária que custaria $2.500 dólares e que aceitava somente pagamentos em dinheiro no total da dívida ou parcelado.
Conforme o relatório de prisão, a autora da primeira denúncia disse que ele está “construindo o que ela descreveu ser uma mansão no Brasil com o consultório na Flórida como única fonte de renda”.
Devido ao fato de o brasileiro somente aceitar dinheiro como forma de pagamento e atender somente brasileiros, as autoridades especulam se os seus pacientes eram imigrantes indocumentados ou não possuíam seguro de saúde.
Uma brasileira, que não quis se identificar, disse que já se consultou com o Dr. Ubaldo algumas vezes e que ele é conhecido entre os brasileiros. “Acho que o principal não é que os pacientes sejam indocumentados, mas sem seguro. Ele fez um orçamento para mim na época que era muito mais barato do que em outro dentista e foi a minha única opção”, disse ela. “Ele fez um bom trabalho, mas, claro, cobrava menos porque não devia pagar impostos”.
Bittencourt foi preso na tarde do dia 18, na Penitenciária do Condado de Palm Beach e liberado na mesma noite, após pagar uma fiança de $3 mil dólares. O brasileiro enfrenta a acusação de prática de odontologia sem licença.
Outros casos
Outras prisões recentes de dentistas que atuavam sem licença no sul da Flórida também tinham como clientela os imigrantes. Em setembro do ano passado, a polícia prendeu o dentista não licenciado John Collazos, acusado de se beneficiar com o receio dos imigrantes, informou a polícia na ocasião.Denúncia
Dr. Terry Buckenheimer, presidente da Associação de Dentistas da Flórida, disse estar preocupado com casos desse tipo e a falta de uso de métodos sanitários. De acordo com ele, seis mil pacientes estão muito acima da média de pacientes tratados por um dentista na Flórida. A maioria dos dentistas possuem dois mil pacientes ativos e um mil inativos, disse ele.
O Departamento Estadual de Saúde possui um número para receber denúncias de práticas médicas ilegais: a hotline: 1-877-425-8852.
“Basta uma denúncia para dar início a uma investigação”, disse Buckenheimer.
