Brasileiros ainda têm dificuldade para conseguir visto para os EUA

Por Gazeta News

Claudia, 26 anos, teve o seu pedido de visto negado, enquanto sua prima e sua irmã não.

Que o brasileiro está cada vez mais presente nos Estados Unidos, isso não é novidade. Nos shopping centers é comum ouvir a língua portuguesa. Nas notícias sobre economia, cada vez mais são retratados os investidores brasileiros, que têm apostado no mercado imobiliário americano. Quando o assunto é turismo, os canarinhos têm disparado no ranking dos que mais visitam a América.

Segundo o consulado americano, desconsiderando-se países com os quais os EUA têm fronteira, o Brasil foi o quarto país que mais enviou turistas nos últimos anos, atrás somente de Reino Unido, Japão e Alemanha.

O número de visitantes brasileiros em território norte-americano cresceu 453% na última década. De acordo com a coordenadora do “Visit USA”, Jussara Haddad, os Estados Unidos receberam em 2003 cerca de 325 mil turistas do Brasil. Em 2011, 1,5 milhão. Em 2012, aproximadamente 1,8 milhão de brasileiros. E os números de 2013, embora não tenham sido divulgados ainda, também não devem decepcionar.

Mas, paralela a essa realidade, estão aqueles que sonham em embarcar para os Estados Unidos e, mesmo com condições suficientes para isto, são impedidos porque tem o pedido de visto rejeitado.

Apesar dos dados apontarem que pelo menos 1,02 milhão de brasileiros receberam o visto de não imigrante (incluído o de turista) em 2012, há milhares que foram negados sob a justificativa de não apresentar vínculos suficientes com o Brasil ou mesmo sem nem saber o porquê.

Em 2012, a paulistana Claudia Fernanda Godinho, 26 anos, que trabalha comoinstrumentadora cirúrgica, planejava fazer umas viagem aos Estados Unidos acompanhada da irmã e uma prima, que já tinha o visto de turista. A irmã, que foi à entrevista no consulado americano um mês antes, teve o visto concedido. Já ela, não. “Fizeram as perguntas padrão: ‘Quando vai? Com quem vai? Para onde vai? Quanto tempo ficará? Por que quer ir?’. Mas simplesmente disseram que o visto foi negado, sem alegarem o motivo”. Mas Claudia não desistiu e pensa em tentar novamente em breve.

Outro drama é vivido por Ivanilde Costa. Ela já tentou por cinco vezes conseguir um visto de turista para visitar o único filho, que veio estudar nos Estados Unidos e não mais voltou a viver no Brasil. Hoje, o filho é formado, casado com uma americana, com que tem uma filhinha de 10 meses, é residente legal e trabalha em uma grande empresa. Ou seja, não tem perspectivas de voltar a morar em seu país natal, e sua família só pode vê-lo quando consegue viajar para visitá-la.

Com tantas recusas por parte do consulado americano, Ivanilde adquiriu uma espécie de fobia. “Preenchi o formulário novamente e paguei a taxa bancária para requerimento de visto pela 6° vez, mas um medo inexplicável me domina e eu cancelei a entrevista”, conta ela.

Ivanilde trabalha como governanta há 10 anos no mesmo local, tem um bom salário, declara imposto de renda, tem apartamento, que está em inventário, além do que, já viajou para a Europa por três vezes. Mas tudo isso ela já provou nas últimas entrevistas, e por isso, teme receber o sexto ‘não’.

Isenção de visto parece distante

Se em 2012 a isenção de vistos parecia uma possibilidade a ser alcançada devido aos encontros de diplomatas brasileiro e americano mostrando-se interessados no mesmo propósito, no ano de 2013 o assunto passou esquecido.

Uma possível inclusão do Brasil no programa Visa Waiver faria com que os brasileiros vencessem a burocracia que envolve tirar um visto: preencher formulários (em inglês) no site do consulado americano, agendar entrevista, se deslocar aos centros de atendimentos – que foram criados para dar mais agilidade e diminuir o tempo de espera para agendar a entrevista, mas por outro lado força as pessoas que não residem em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte e Recife a permanecerem pelo menos dois dias em uma dessas cidades, já que o procedimento de coleta dos dados biométricos de solicitantes não pode ser agendado para o mesmo dia de entrevista no consulado ou embaixada. Isso, sem contar a apresentação de documentos que comprovem que o brasileiro tem vínculos com o seu país e manifesta o desejo o retornar e, além de tudo, correr o resto de perder o dinheiro, o tempo e sair frustrado do órgão americano.

Já os Estados Unidos poderiam ver sua economia ainda mais movimentada com a presença crescente dos turistas brasileiros – estima-se que cada um deles gasta, em média, aproximadamente $5 mil de dólares em cada uma de suas viagens.

De acordo com a US Travel Association, entidade que representa empresas de turismo norte-americanas e faz lobby pela dispensa do visto para os brasileiros, caso haja a extinção do visto obrigatório, os EUA passariam a receber 316 mil turistas brasileiros a mais todos os anos.

A estimativa é baseada no aumento no fluxo de turistas de outros países que já foram incluídos no programa de dispensa de visto para entrar no país. Atualmente 37 países fazem parte do Visa Waiver. Caso a medida seja aprovada, o Brasil também poderá deixar de exigir o visto para a entrada de americanos.

Legislação Entretanto, o que está em jogo nessas discussões para o fim da obrigatoriedade de vistos para os brasileiros não é apenas a questão econômica, mas também política, o que não depende somente de uma decisão da Casa Branca.

A US Travel Association aposta em uma proposta de lei tramitando no Senado americano para acelerar a inclusão do Brasil no programa de dispensa de vistos. Hoje, os países precisam reduzir o percentual de candidatos a visto rejeitados para abaixo de 3% para conseguirem ser incluídos nos programas de dispensa de visto. O Brasil tem taxa de rejeição de cerca de 3,8%, com base nos dados de 2012. O projeto de lei Jolt Act aumentaria esse índice para 10%. A proposta é incluir países como Brasil, Chile, Polônia, Israel e Croácia no programa.