Brasileiros chegam aos EUA dispostos a trabalhar “pesado”, mas esquecem da saúde

Por Marisa Arruda Barbosa

Danilo diz que se previne de doenças fazendo exercícios e tomando vitaminas.

O paranaense Cleverson Ramos, de 34 anos, que vive em Pompano Beach, trabalha com instalação de piso desde que chegou aos EUA, há três anos e meio. Ele começou como ajudante, aprendeu o serviço e passou a trabalhar por conta própria. “Dá muito cansaço, mas compensa financeiramente”, disse ele, que nunca foi a nenhum médico desde que vive nos EUA. “Como trabalhamos por temporada, quando está em alta de trabalho não tem dia de folga. Em dezembro e janeiro fica um pouco mais devagar e dá para descansar uns dias”.

A indústria da saúde tem se preocupado com o risco que, principalmente, os homens latinos representam para o sistema de saúde no longo prazo, de acordo com um estudo publicado no site especializado em saúde, Keiser Health News. Por motivos culturais e econômicos, eles não costumam buscar ajuda médica e nem fazer exames preventivos, ao contrário das mulheres. Mesmo assim, estudos mostram que homens hispânicos têm maior tendência do que brancos não hispânicos à obesidade, diabetes e pressão alta. Os hispânicos que bebem tendem a beber bastante, levando a doenças do fígado. Muitos deles têm trabalhos de risco, como na construção.

A expectativa é que a população hispânica aumente em um quinto até 2045. Conforme esses números crescem, pesquisadores temem que a população dos EUA tenha que lidar com conseqüências caras da falta de cuidados preventivos dessa parcela da população, que poderá estar com doenças graves e invalidez. “Isso poderá literalmente quebrar o sistema de saúde”, disse José Arévalo, membro do Latino Physicians of California, que representa médicos hispânicos e outros que tratam latinos.

De acordo com o Kaiser Health News, estudos mostram que homens hispânicos usam o serviço de pronto-socorro como local de tratamento de saúde. Ou seja, eles não fazem exames preventivos e só procuram um médico em caso de emergência.

É isso que o médico Richard Silva, do Silva Med Centre, vê semanalmente. Minutos depois de dar uma entrevista sobre esse assunto ao GAZETA, na noite do dia 25, ele precisou voltar ao consultório em Pompano Beach para dar pontos na mão de um brasileiro que havia se acidentado no trabalho. “Ele havia trabalhado sem luvas e sua última injeção antitétano foi há mais de 15 anos”, relatou Silva, que atende de cinco a dez casos do tipo por semana.

Entre os erros cometidos por pessoas que trabalham com serviços de construção, Silva diz que muitos não utilizam máscaras para proteger a respiração, luvas, protetores de joelho, capacetes, cinta para proteger a coluna ao carregar peso além do permitido e outros equipamentos. “Além disso, claro, eles não se alimentam bem, nem tomam água durante o trabalho e trabalham por muitas horas seguidas”, relata. “Em muitos casos, pacientes chegam aqui com a cabeça, dedo ou braços cortados e, assim que termino a cirurgia, eles querem voltar ao trabalho, acredita?”.

[caption id="attachment_142712" align="alignleft" width="300"] Danilo diz que se previne de doenças fazendo exercícios e tomando vitaminas.[/caption]

Danilo Marques, de 31 anos, hoje dono do Dan Car Wash Auto Detailing, no qual tem uma van que lava carros em domicílio, diz que quando chegou aos EUA, há cinco anos, trabalhou como ajudante de construção e chegou até a fazer limpeza comercial. Embora o esforço físico na limpeza de carros seja bem menor do que em construção, por ter sua própria empresa ele chega a trabalhar de 70 a 80 horas por semana. “Só não trabalho quando chove”, relata o pai de duas meninas, que também não frequenta o médico para exames preventivos. “Médico é muito caro. Eu vou à academia e tomo vitaminas, mas não sinto nada demais, também”. A curitibana Gracy Marques, de 31 anos, trabalha com limpeza de casas praticamente desde que chegou aos EUA, em 2008, mas ao contrário da maioria, ela garante que faz check-up periodicamente. Por um pouco mais de um ano, Gracy trabalhou em um restaurante de manhã e à tarde em uma deli, fazendo sanduíches até fechar o local. Depois de algum tempo, já cansada de trabalhar nos finais de semana, ela virou funcionária de uma companhia de limpeza. Isso já compensava em relação ao seu trabalho anterior, pois trabalhando de segunda à sexta-feira, das 8am às 5pm, já ganhava o mesmo que em dois trabalhos. No entanto, depois de algum tempo, Gracy passou a trabalhar por conta própria e, aí sim, sentiu a diferença.

“Com certeza a parte principal de trabalhar para mim mesma foi a questão financeira. Na companhia de limpeza que eu trabalhava, por exemplo, você limpava cinco casas em um dia para ganhar $150 dólares. Trabalhando para mim mesma, posso limpar uma casa só e ganhar o mesmo valor, fora a autonomia e flexibilidade de horários”, disse Gracy, atualmente grávida de 29 semanas e ainda trabalhando. “O lado ruim é o impacto que o trabalho braçal tem na saúde diretamente, principalmente a logo prazo. Vindo do Brasil, como trabalhava muito com computador, eu já tinha tendinite no meu antebraço esquerdo. Aqui, com o trabalho braçal, desenvolvi bursite no meu ombro direito. Além de muito cansaço no corpo, são muitos produtos que usamos, então precisa usar luva, máscara. Você tem que tentar diminuir os impactos na saúde”.

Exames preventivos

De acordo com o médico Richard Silva, exames simples e sem muito custo podem ser feitos em uma visita ao seu consultório. A consulta varia de $180 a $290 dólares. “Um exemplo de negligência na alimentação são os níveis baixos de vitamina D e outras vitaminas necessárias na saúde de um homem trabalhador. Um dos tratamentos mais comuns é receitar vitaminas aos pacientes, como a D3, para tentar melhorar a saúde do paciente”, disse Silva. “Quem não vai ao médico há muito tempo pode precisar fazer tratamento mais severos, como injeção de plasma nas juntas, tratamentos de hormônios bioidênticos, tratamentos para rejuvenescer os músculos e os órgãos”.

Cuidados recomendados: -Beber bastante água enquanto trabalha; - Frutas e legumes na alimentação; - Cortar uso de tabaco e álcool; - Fazer exames preventivos regularmente de acordo com o histórico familiar; - De acordo com a idade, é preciso fazer exame de próstata, níveis de hormônio, coração e pulmão; - Exames simples de sangue que podem ser feitos no consultório incluem colesterol, tireóide, triglicerídeos e açúcar.

Atendimento gratuito Para aqueles que acham que é muito caro o valor de uma consulta, igrejas locais realizam feiras de saúde regularmente, com exames gratuitos ou a baixo custo. A próxima acontece nesse fim de semana, dia 29 de abril, das 9am a 1pm, na New Live Brazilian Church (411 NE 31st. Court, Pompano Beach, FL – 33064. Tel: (954) 946-5256)