Brasileiros estão confinados em navios de cruzeiro há mais de 2 meses na costa da Flórida

Por Arlaine Castro

Celebrity Infinity da Royal Caribbean
Suicídios O Gazeta News conversou também com Patrícia Lucchesi, mãe de Luiza, que mora em Belo Horizonte e contou que está preocupada pela saúde da filha. "O retorno dela para o Brasil estava previsto para o dia 4 de abril. De passagem comprada e com todos os procedimentos para desembarque realizados, ela recebeu a notícia do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) de que, justamente a partir daquele dia, tripulações de navios estariam proibidas de embarcar em voos comerciais", conta.  Ela disse também que soube por meio do contato no Itamaraty que o CDC liberou desde o dia 11 o retorno de todos os brasileiros no navio, mas a empresa ainda não informou a eles quando isso vai ocorrer. "A situação fica cada dia mais tensa, inclusive com racionamento de comida, eles não dão notícias à tripulação para não criar ainda mais expectativas, pois a cada dia o CDC cria mais dificuldades, ninguém sabe ao certo o que está acontecendo, nem eles, no navio, nem os familiares. Eles estão enfrentando muitas filas para o restaurante, há aglomerações, e inclusive houve um surto de gastroenterite recentemente, o que é relativamente comum em navios. O mais preocupante são os relatos de três casos de suicídio em uma única semana", conta. O que fazem as autoridades sobre o problema Apesar dos problemas, a jovem embarcada acredita que as autoridades estão empenhadas em tirá-los dessa situação. "A empresa está trabalhando duro para nos mandar para casa, o problema maior tem sido as restrições do CDC. Estamos em contato direto com o Consulado aqui em Miami, sabemos que eles estão fazendo pressão constante nas empresas de cruzeiro e no CDC para que possamos voltar logo", afirma. O Gazeta News entrou em contato com o Consulado do Brasil em Miami que orientou a procura ao Itamaraty no Brasil, e até o momento dessa publicação, não houve retorno. Medidas preventivas Em relação às medidas de segurança impostas pelo CDC, a companhia de cruzeiros tem feito tudo certo e mantido a higienização de áreas e vigiado o distanciamento social, segundo Lucchesi.

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"Cumprimos o distanciamento social, mesmo nas filas do restaurante e do crew mart, estamos operando em código vermelho, o que significa que no buffet nós somos servidos para evitar várias pessoas tocando o mesmo talher. Os corredores e corrimãos são sanitizados várias vezes ao dia e os banheiros das cabines cerca de uma vez por semana. Além disso, a minha cabine tem uma varanda a estibordo, então eu vejo quando o navio recebe carregamentos, e os pallets são todos higienizados com produtos antes de entrar no navio. Qualquer pessoa com sintomas de gripe é isolada imediatamente por 14 dias e temos as nossas temperaturas checadas ao menos duas vezes ao dia". A única área pública do navio aberta aos tripulantes é o deck da piscina, que com o número de pessoas a bordo está sempre lotado, por isso, ela diz que prefere evitar e fica mais na cabine. Filas enormes e dificuldades Segundo Luiza, a empresa fornece um crédito diário para que eles comprem produtos de higiene, mas as filas são enormes e desanimadoras. "O crew mart está sempre lotado, ontem fiquei duas horas na fila para comprar shampoo e condicionador!", desabafa. "Voltarei a trabalhar em navios" Mesmo em meio à incerteza causada pela pandemia e a consequente situação, a chef de cozinha diz que o lado positivo de tudo isso são os laços de amizade criados e que talvez em outra circunstâncias não seriam tão fortes. "Principalmente entre os brasileiros, nós nos apoiamos e tentamos cuidar uns dos outros quando vemos que alguém não está legal. Esses são alguns dos aspectos positivos que eu vou levar dessa pandemia que já causou tanto stress e sofrimento no mundo todo. Apesar das dificuldades e dos problemas que estamos enfrentando depois do lockdown eu gostaria de continuar a trabalhar em navios, penso em voltar assim que for possível", salienta. [caption id="attachment_199732" align="alignleft" width="300"] Celebrity Infinity da Royal Caribbean.[/caption] "A gente já não acredita mais, porque estão sempre cancelando os voos" O casal Jéssica Furlan e Caio Saldanha está em situação semelhante só que em navio de outra empresa. O Gazeta News foi procurado por familiares que estão preocupados. O navio em que estão os dois tripulantes saiu da costa da Flórida e segue em direção ao Caribe. "Eles estão confinados em navios desde o dia 14 de março. Foram para trabalhar no navio Celebrity Infinity da Royal Caribbean, depois de 2 meses lutando para vir para casa, sem sucesso, foram para o navio Celebrity Reflection. Estão em uma cabine, mas o navio está muito lotado de tripulantes. Estão muito abalados psicologicamente", conta a mãe de um deles (não identificada a pedido) e que também está desesperada pela situação. "Minha filha foi trabalhar como apresentadora e o meu genro como DJ". Segundo informações da mãe, eles seguem em direção a Barbados, uma ilha do Caribe oriental, com previsão de voo para o Brasil no dia 27/05 saindo de lá. "Mas a gente já não acredita mais, porque as outras vezes cancelaram os voos", afirmou. De acordo com Rosemeire, depois que mudaram de navio, a filha e o genro disseram que estão um pouco melhor, com um pouco mais de conforto na cabine e melhor comida. O que preocupa mesmo é a ansiedade. “Estão desesperados para voltar para casa pois já estão 65 dias confinados", desabafa. Ao Gazeta News, Caio disse que "os dias confinados estão sendo muito longos", e confirmou a data prevista para de retorno ao Brasil para o dia 27 de maio, "porém, não há confirmação até o momento. Essas datas são possibilidades", disse. O CEO da Royal Caribbean International, Michael Bayley, anunciou inicialmente que funcionários de vários países seriam transportados de volta dos EUA, mas até então a empresa só concordou em repatriar 20 pessoas usando o processo CDC - todos cidadãos americanos. No dia 8 de maio, Bayley disse que algumas tripulações internacionais serão levadas de Barbados para casa, em vez dos EUA. É o caso de Jéssica Boni Furlan e Caio Saldanha.