Brasileiros nos EUA continuam sendo “minoria invisível”, diz antropóloga

Por Marisa Arruda Barbosa

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Os brasileiros que vivem pelo mundo já são o tema da antropóloga brasilianista, Maxine Margolis, há pelo menos 20 anos. Sua primeira viagem ao Brasil foi nos anos 80, para a Bahia. Chegou lá sem falar português e foi se apaixonando pela cultura. Ainda nessa época, já de volta a Nova York, ela começou a ouvir histórias de pessoas na cidade que tinham faxineiras vindas do Brasil, bem no início da imigração brasileira. “Nunca tinha ouvido falar sobre faxineiras ou manicures brasileiras na cidade, e comecei a me dedicar ainda mais ao tema e observar a imigração dos brasileiros em Nova York”, explica a PHD. Maxine acaba de lançar seu terceiro livro sobre o tema, “Goodbye, Brazil: Émigrés from the Land of Soccer and Samba”, que também será lançado em português, no segundo semestre. Aposentada,  professora emérita da Universidade da Flórida, em Gainesville, Maxine continua ligada à Columbia University, onde tem alunos se graduando com bolsas ‘sanduíche’.

Em 1994, lançou seu primeiro livro sobre o tema, “Little Brazil: Imigrantes brasileiros em Nova York” e, em 1998, “An Invisible Minority: Brazilians in New York City” (Uma Minoria Invisível: Brasileiros em Nova York, em tradução livre, o único livro que não foi lançado em português).

“Godbye Brazil” é uma compilação de pesquisas de diversos acadêmicos para traçar um panorama global da diáspora brasileira e o recente retorno para o Brasil, em consequência da crise nos países desenvolvidos e melhorias no país de origem. Além dos EUA e Europa, o livro aborda as comunidades de brasileiros no Japão, Austrália, Nova Zelândia e países latino-americanos.

“Ao longo do livro, tento traçar um pouco de quem são esses brasileiros que saem do Brasil. Em um capítulo falo sobre Governador Valadares, em outro, sobre as comunidades, igrejas e associações e, no final, concluo com um capítulo sobre o que vai acontecer no futuro”, disse a antropóloga, que é fluente em português. Análises Maxine arrisca algumas análises do que poderá acontecer com o fluxo de brasileiros pelo mundo, algo que é muito sensível à situação , tanto no Brasil como nos países que escolhem viver, e mesmo à situação imigratória. “O brasileiro que é cidadão americano, por exemplo, e decide voltar para tentar recomeçar no Brasil, pode arriscar. Mas o indocumentado tem que pensar muito, pois se sair dos EUA dificilmente conseguirá voltar”, disse ela.

Segundo a autora, o imigrante brasileiro que tem filhos também fica mais enraizado no país, mas sua situação imigratória também influencia no contato do filho com o país de origem dos pais. “O brasileiro nos EUA legalmente, pode levar os filhos para visitar o Brasil e incentivar seu contato com a cultura. Já os que estão sem documentos tem maior dificuldade em manter o contato dos filhos com o Brasil”.

Minoria invisível

Segundo a antropóloga, os que permanecem nos EUA ainda são a “minoria invisível” que ela abordava em seus trabalhos anteriores. Isso é diferente em outros países, como no Japão e em Portugal, onde o brasileiro se destaca mais, por causa do sotaque e costumes.

Maxine explica que são três os fatores que tornam o brasileiro uma “minoria invisível” nos EUA: a confusão dos americanos ao não distinguir a cultura brasileira do resto da América Latina; o Census americano não especificar o brasileiro entre latinos e hispânicos; poucos brasileiros responderem a pesquisas, já que há a estimativa não confirmada de que 70% dos brasileiros são indocumentados nos EUA.

Futuro Mesmo com a aproximação de uma possível reforma imigratória, a antropóloga acredita que o brasileiro continuará “invisível”. Porém, fatores como a participação do capital brasileiro no mercado imobiliário e o fato de ser o terceiro maior grupo de turistas pode mudar isso no futuro.