Brasileiros pegam carona no crescimento do Uber para ganhar dinheiro extra

Por Marisa Arruda Barbosa

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Há mais ou menos um ano na Flórida, a plataforma de transporte Uber, que conecta motoristas comuns a passageiros, tem se popularizado, tornando-se uma nova opção de emprego para milhares de pessoas. E brasileiros têm tirado vantagem disso.

A baiana Daniela Velloso, de 43 anos, resolveu ingressar nesse mercado depois de mais de dez anos trabalhando como babá e com faxina. “Em dezembro do ano passado saí de meu último emprego. Nunca tinha ouvido falar, até que uma amiga do Colorado me indicou um amigo que estava fazendo isso”, relata. “Conversei com ele e comecei em fevereiro. Já queria mudar há um tempo e essa foi uma boa oportunidade”.

Com a popularização em outros estados e países antes da Flórida, turistas têm usado o serviço com frequência. “Quando alguém me visita, eu nem levo mais ao aeroporto. Simplesmente chamo o Uber para vir buscar a pessoa na minha casa”, contou Danielle Perugini. “Eu também uso o tempo todo e minha irmã e meu cunhado são motoristas em São Francisco, na Califórnia”.

O Uber funciona através de um aplicativo para smartphone, no qual usuários registram o cartão de crédito e clicam para pedir “carona”, indicando para onde querem ir. O aplicativo faz uma estimativa do valor que será cobrado. Em dias de alta demanda, como um evento especial ou noite de Ano Novo, o valor da corrida é multiplicado. O passageiro paga usando o aplicativo e pode avaliar o motorista. O motorista, por sua vez, também avalia o passageiro. Geralmente, uma corrida de Uber sai mais barato que o táxi, algo que agrada aos motoristas e passageiros, mas aborrece taxistas em todo o mundo.

O carioca Rick Amorim, de 30 anos, já conhecia o aplicativo de outros estados e, quando soube que havia chegado à Flórida, resolveu tornar-se um motorista. “Eles checam os seus antecedentes e agora existem pontos para fazer a revisão do carro. Antes, o motorista podia mandar fotos do carro”, explica.

“Eles verificam tudo: o registro de seu carro, o seguro, sua carteira de motorista. Depois de algumas semanas, recebi a confirmação que fui aprovada”, relata Daniela, que vive em Pompano Beach, mas dirige para onde tiver demanda, desde South Miami Beach a West Palm Beach.

Desafio às leis locais As leis locais que regulam o transporte de passageiros têm sido desafiadas toda a vez que chega o serviço do Uber. Depois de meses de debate, o condado de Broward irá decidir, no dia 14 deste mês, se Uber será legal e quais leis regularão a companhia na região.

O Uber pede que seja criada uma lei específica para “transportation network companies” em vez da lei geral que regula os táxis. As permissões para táxi limitam o número de carros nas ruas e o valor da corrida é determinado pelos condados.

“Eu só tento ter cautela e não mostrar muito que estou dirigindo pelo Uber em áreas com muitos taxistas, pois eles são os que estão mais incomodados com a nossa concorrência”, diz Daniela. Enquanto as leis locais não decidem como regulamentar o serviço, o Uber é quem paga possíveis multas dadas a motoristas. Em Broward, o Uber já pagou mais de $35 mil dólares em multas ao condado, disse o “Sun Sentinel”.

Proposta em Broward A proposta em Broward é de impor normas mais rígidas para checar os antecedentes criminais do que as atualmente usadas pelo Uber. O condado também luta para que o Uber conceda o nome de todos os motoristas ao condado, para que se tornem públicos, mas a companhia se recusa a fazer isso. Além disso, a lei imporia novas normas de seguro para os motoristas, além de inspeções do veículo. A proposta também impõe que o Uber terá que ter um escritório em Broward, das 9am às 5pm nos dias de semana e estar disponível para clientes por telefone todo o tempo que houver um veículo operando.

Em Miami-Dade, oficiais estão trabalhando em cima de uma lei. No condado de Palm Beach, foi aprovada, no mês passado, uma permissão temporária enquanto se considera uma nova lei. A cidade de Fort Lauderdale, que tem suas próprias leis e licenças de táxis, está esperando a decisão de Broward. Em Tallahassee há também um projeto de lei para regular a companhia em todo o estado.

Oportunidade financeira Daniela diz que, em seus poucos meses como motorista, está entendendo qual horário funciona melhor para ela e quais os melhores horários para ganhar mais. “Como sou mulher, nunca passo de meia-noite na rua, por precaução”, disse a baiana, que é mãe de uma menina de 6 anos e divorciada. “Mas me sinto segura, pois é possível cancelar uma corrida se eu não me sentir segura, por algum motivo, seja pela pessoa ou pelo local”.

De acordo com os entrevistados, é possível ganhar de $15 a $40 dólares por hora, dependendo do horário, área e categoria de carro, que pode ser o Uber X, que é o básico, o Uber XL, que são carros grandes cuja corrida custa mais, e o Select, mais luxuoso, entre outros.

“Eu trabalho de 6pm à meia noite, geralmente. Mas conheço pessoas que trabalham todos os dias depois de 11pm e conseguem ganhar entre $1000 e $1500 dólares por semana”, disse Rick. Daniela e Rick têm outro trabalho durante o dia. Perigos? Os dois brasileiros afirmam que nunca passaram por nenhuma situação perigosa, mas já cancelaram corridas em que não sentiu confiança. “Nunca passei por perigos, e espero não passar”, diz Daniela.

Em novembro, um motorista de Uber foi preso em Chicago, acusado de estuprar uma passageira de 22 anos quando ela estava inconsciente. Mas novas evidências derrubaram as acusações, depois que um vídeo daquela noite mostrou os dois conversando e ela se despedindo do motorista, Maxime Fohounhedo, dando-lhe um abraço e um beijo. “Isso não indica que ela estava com medo, correndo risco de vida”, disse o advogado de defesa, Shady Yousif, ao “Chicago Tribune”. O acusado foi absolvido no dia 7 de abril. Ele estava preso desde dezembro do ano passado.

Popularidade O Uber, que começou em 2010 em São Francisco, na Califórnia, já é popular em 55 países, operando em 300 cidades. No Brasil, já opera em grandes cidades, como Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.

Em um ano na Flórida, a companhia já conta com 18 mil motoristas e a projeção é criar 130 mil oportunidades de emprego até 2020. Ainda de acordo com a companhia, até abril, 6 milhões de passageiros já foram transportados. Isso tudo gerou $50 milhões de dólares para os motoristas do estado, através da plataforma.

“Quando comecei, não havia tanta corrida”, relata Rick, que começou a dirigir há 10 meses. “Agora é bem mais popular e como há mais motoristas, o tempo de espera é geralmente bem menor que a espera do táxi. Em dias de muito movimento, a espera chega a ser de 10 minutos, mas geralmente é menos”.