Brasileiros perdem a vida ao tentar entrar nos EUA ilegalmente

Por Arlaine Castro

Na última semana, corpo do mineiro Jefferson Oliveira) foi encontrado.

Em entrevista ao GAZETA, Tainá relatou que a ideia era cruzar a fronteira e seguir até Boston, onde ele moraria com um tio e, depois de um tempo, traria a esposa. “Mas, já no caminho, ele me disse que não estava gostando e que eu não iria da mesma forma”, relatou. O pai do jovem, Reginaldo de Castro Oliveira, ofereceu ao filho o pagamento das taxas para tentar um visto de turista, mas ele não quis. “Ele não quis tentar porque alguns amigos tentaram e não conseguiram. Ele nem quis arriscar”, conta. No passado, Reginaldo chegou a morar nos EUA por um ano e dois meses, após também entrar pela fronteira. Pela sua experiência é que o pai não queria que o filho passasse pelo mesmo.

Via México O corpo de Oliveira foi encontrado no dia 16 de novembro , às margens do Rio Bravo, na cidade mexicana de Novo Laredo. Ele integrava um grupo de seis brasileiros, a maioria da região do Vale do Rio Doce, em Minas Gerais. Quatro deles foram presos por agentes da Imigração norte-americana e levados para o Texas, e suspeita-se que o quinto seja o 20º corpo encontrado nesta semana, às margens do mesmo rio, ainda sem identificação. A família de Oliveira suspeita que o mineiro tenha sido vítima de homicídio e que teve o corpo jogado no rio. “Ele não estava com nada de valor, porque disseram que não poderia levar nada. Até roupas ele deixou para trás. Não sabemos o motivo, mas pode ser que ele morreu em tentativa de extorsão. Pediram dinheiro e ele não tinha. Ele só estava com o celular e a roupa do corpo”, conta a esposa. A família realizou uma campanha pela internet para custear o traslado do corpo, que deve seguir para o Brasil no final desta semana. O tio de Oliveira que mora em Boston está acompanhando as investigações. Até o momento, a polícia não informou o que provocou a morte do jovem.

O perigoso esquema de “coiotes” Após uma tentativa frustada de conseguir o visto de turista para os Estados Unidos, em 2003, o mineiro Roberto Silveira*, 48 anos, enfrentou uma viagem de oito dias, desde sua saída da cidade de Açucena, no vale do Rio Doce (MG) até Marlborough, em Boston (MA). Silveira conta que pagou, na época, $9 mil dólares pela travessia. Apesar de ter chegado com vida, ele afirma que não recomenda a ninguém que faça o mesmo. “Muito arriscado. A gente fica nas mãos dos agenciadores sem saber o que farão”, relata. Segundo o mineiro, o esquema envolve gente de toda parte. Da região leste de Minas, Silveira foi de carro com um grupo de 11 pessoas para São Paulo, onde um casal hospedou o grupo até o embarque para a Bolívia, onde aguardou alguns dias e seguiu para Cidade do México, de avião. “Fomos orientados a entregar o passaporte na imigração mexicana, com uma nota de $100 dólares dentro”, relata. O grupo seguiu deitado numa van até Ciudad Juarez, onde ficou num hotel por quatro dias. “Eles só diziam pra gente não colocar a cabeça pra fora do quarto, porque poderíamos ser vistos. Estavam aguardando o dia propício para atravessarmos”, disse. Silveira conta que o grupo foi orientado a atravessar a fronteira caminhando sempre junto até chegarem a outro “coiote” brasileiro, que os pegaria em El Paso, no Novo México. Apertados numa van, o grupo seguiu até Nova York e de lá para o destino final em Marlborough. “Tivemos que correr uma parte, atravessar um rio raso e passar por uma cerca. Tudo foi de madrugada e não havia sinal de polícia, mas eles ficam tensos e dizem o tempo todo para não darmos bobeira e não demorarmos”, conclui. “O medo de ser morto é constante, pois estamos nas mãos de desconhecidos”, conclui.

ViaBahamas

Atualmente, um outro grupo de brasileiros está desaparecido nas Bahamas desde o início deste mês, conforme informações de autoridades de Imigração. A suspeita é de que os brasileiros tentariam chegar até Miami de barco. Os últimos contatos dos integrantes com familiares aconteceram no início do mês e ainda não se tem notícias do que aconteceu. No início deste mês, outros 23 brasileiros que desembarcariam de férias em Nassau, nas Bahamas, foram impedidos de entrar no país e deportados após denúncia anônima ter apontado suspeita de que passageiros do voo 196 da Copa Airlines tentariam emigrar das Bahamas ilegalmente para os EUA. Rejeição na concessão de vistos pode triplicar A forte crise econômica no Brasil, com dois estados já tendo decretado Calamidade Pública (Rio de Janeiro e Rio da Grande do Sul) e a consequente ‘fuga’ de insatisfeitos para outros países, sobretudo Europa e EUA, são apontados como os principais motivos para um cenário que não se via há algum tempo: muitos brasileiros tendo o pedido de visto americano negado. De acordo com levantamento da Folha de São Paulo, o índice de rejeição de vistos dos EUA para brasileiros, em 2016, deve registrar o triplo do ano passado e o quíntuplo de 2014. Segundo o jornal, cerca de 15% dos turistas brasileiros este ano terão suas entradas nos EUA, contra 5,36% em 2015 e 3,2% do ano anterior. Este percentual pode não ser exato, uma vez que os índices oficiais serão apresentados no dia 28. *O nome do entrevistado foi alterado a pedido do mesmo. **Colaboração de Daniel Galvão