Um grupo de 61 homens e 4 mulheres brasileiros saíram de Pompano Beach no dia 30 de setembro, com a promessa de muito trabalho e dinheiro garantido, para ajudar na reconstrução de New Orleans. A oferta era a de estabilidade de 6 meses a 1 ano, ganhando $10 a hora, com hotel, alimentação, pagamento semanal, garantia de 12 horas de jornada, que dariam um ganho médio de $3600 por mês.
O recrutamento foi feito através da senhorita Carla, no Supermercado Brasileiro da Federal Highway, que convidou e reuniu a quantidade de mão de obra necessária, para trabalhar para o senhor Raul Garcia, mexicano, representando a empresa Paul Davis, de limpeza, demolição e reconstrução. O meio de transporte foi um ônibus, fretado por Raul. O lanche na estrada, nas paradas que faziam de 4 em 4 horas, era bancado mesmo por cada passageiro/aventureiro.
Ao chegaram em New Orleans, tiveram que ficar horas aguardando autorização para a entrada na cidade, indo direto para o local de trabalho, a Universidade Federal de New Orleans, que forma oficiais para a marinha americana, onde todos os vidros tinham se quebrado e rachado, com toda água acumulada pela força do furacão, os móveis, utensílios, equipamentos, carpetes, estavam em estado adiantado de mofo.
Durante 5 dias a equipe fez o trabalho de limpeza e remoção de entulhos, quando receberam uma notícia que, para continuarem com a retirada do gesso e dos compensados das paredes, que também haviam se estagado teriam que esse trabalho, teriam que sair do local e aguardar a chegada da autorização da seguradora, que viria de Washington, DC.
O “hotel” aonde o grupo ficou não era nada glamoroso. Na verdade, uma garagem suja de óleo, aonde foram estendidos alguns colchões infláveis com banheiros químicos por perto. O grupo só pôde tomar banho 4 dias depois da chegada. E a comida, para café da manhã, almoço e jantar era a mesma, servida alternadamente: cheeseburguer, pizza, depois pizza e cheeseburguer.
Todos teriam que ser vacinados, nem isso sequer aconteceu, trabalharam numa área contaminada sem as ferramentas e proteção necessária. Um rapaz, G. A. P., se machucou, caiu um pedaço de madeira em sua cabeça e só recebeu os primeiros socorros, não veio a ambulância, o rapaz permaneceu com a ferida aberta sem que ninguém tomasse providências para levá-lo para um hospital. Como a área tem mofo, fungo, qualquer pessoa poderia pegar um efizema pulmonar.
Como tivessem que sair da garagem fétida, ficaram sem lugar para ir, até que veio a oferta de uma outra empresa, em condições semelhantes, mas dois brasileiros, um deles M.C.D., resolveu desistir e pediu para voltar para a Flórida, já que nada do acordo estava sendo cumprido. O grupo ficou meio dividido, mas a consciência coletiva falou mais alto “já que estamos aqui, vamos ficar e ver o que vai dar”. Ainda estão sem seguro, sem vacina e sem receber os salários semanais prometidos. Os que não aceitaram ficar, foram levados mais a oeste, para Houston, onde tiveram que ficar esperando mais 20 horas para tomar um ônibus em direção a Pompano Beach. Duros e sem salário, sem direito de reclamar, pelas sua condições óbvias de imigrantes indocumentados. M.C.D teve todos os seus pertences pessoais roubados nas baldeações, levaram seu DVD player, DVDs e vários objetos de uso pessoal.
Uma experiência desagradável, pela qual nenhum imigrante deveria passar, mas a realidade é que ainda se dá credibilidade a atravessadores, acontecendo situações desagradáveis como essa. Sem falar direito o idioma inglês, sem um documento de trabalho no bolso, fica a pergunta no ar. Porque?