Nos dias 12 e 13 de março, será realizada na Harvard University, em Cambridge, a BRASCON, Brazilian Graduate Students Conference, a maior conferência de estudantes brasileiros fora do país. Com o tema “Ciência, Tecnologia e Inovação - Fomentando o Potencial Brasileiro”, a BRASCON deve reunir aproximadamente 200 alunos brasileiros. Trata-se de uma conferência organizada por estudantes brasileiros de pós-graduação voluntários, que desejam contribuir para o desenvolvimento da pesquisa no Brasil. Essa será a primeira edição da BRASCON, cujo foco são as áreas de Science, Technology, Engineering e Math (STEM). Durante os dois dias da BRASCON, os estudantes inscritos terão a oportunidade de apresentar os trabalhos que estão sendo desenvolvidos por eles e participar de palestras e discussões com grandes profissionais brasileiros que são referência nas áreas de foco da BRASCON. O Gazeta conversou com uma das diretoras gerais da BRASCON e Mestre em Engenharia Civil pela Columbia University, Gisele Passalacqua, sobre o evento.
Entrevista
Gazeta - Como surgiu a ideia da Conferência?
Gisele Passalacqua - A ideia da BRASCON surgiu a partir de alguns fatos observados, como a falta de conexão entre estudantes brasileiros de pós-graduação nos EUA, em especial os bolsistas do Ciências Sem Fronteiras (CsF); o desconhecimento das atividades e das pesquisas que estão sendo realizadas por outros estudantes brasileiros de pós-graduação nos Estados Unidos; e a necessidade de networking e conexão entre estes estudantes e outros profissionais brasileiros das áreas acadêmica e industrial. A partir disso, começamos a organizar a conferência. A organização começou comigo (diretora geral da BRASCON), Carleara Rosa (diretora geral), Vanessa Dias (diretora geral) e a Gláucia Ribeiro (vice-diretora geral). Hoje, temos 17 membros na equipe da BRASCON ajudando a organizar a conferência, sendo que a maioria é estudante de pós-graduação nos EUA e bolsista do programa CsF.Gazeta - Os alunos serão todos de pós graduação ou também de graduação?
G.P. - O público-alvo da BRASCON são os estudantes brasileiros de pós-graduação nos EUA, que será a grande maioria na conferência. Porém, estimamos uma pequena presença também de estudantes de graduação, algo em torno de 10 pessoas.Gazeta - Somente alunos da Harvard ou de outras universidades também?
G.P. - O evento é aberto para todos os estudantes brasileiros de qualquer universidade, professores e profissionais. Apesar do público-alvo ser estudantes brasileiros de pós-graduação nos Estados Unidos, todos são bem-vindos e podem se inscrever. Inclusive, tivemos algumas pessoas inscritas que estudam no Brasil e que estariam dispostas a vir para os EUA para participar da conferência.Gazeta - Como você vê o programa Ciências sem Fronteiras programa?
G.P. - A conferência tem um foco voltado aos alunos do programa Ciências Sem Fronteiras (CsF). A maioria dos membros da equipe da BRASCON fazem parte do CsF e a ideia da conferência surgiu, principalmente, pela percepção da falta de conexão entre bolsistas de pós-graduação do CsF nos EUA. O programa é fantástico. Sempre considerei o CsF uma iniciativa excelente e uma oportunidade única para estudantes brasileiros que queiram buscar aprendizado em outros países. Além de toda experiência acadêmica/profissional nas melhores universidades do mundo, a experiência de vida no exterior e seu crescimento como indivíduo são impagáveis. Mas, o benefício é mútuo. Esses bolsistas retornarão para o Brasil com uma bagagem de conhecimento gigante que poderá ser aplicada em setores privados, públicos ou em novos projetos empreendedores, que serão benéficos para o crescimento nas áreas de ciência, tecnologia e inovação no país. Pela experiência que tive, vi que nenhum outro país oferece um programa deste tipo, com esta amplitude e com todos os benefícios do CsF. Sinto-me extremamente honrada pela oportunidade e por ter feito parte do programa.Gazeta - Você é do Ciência sem Fronteiras?
G. P. - Eu fui bolsista do Ciências Sem Fronteiras (pela CAPES) e da Fundação Lemann, durante meu mestrado em Engenharia Civil na Columbia University (em NY) e me formei em maio de 2015.Gazeta - E qual o seu projeto?
G. P. - Durante meu mestrado na Columbia University, um dos projetos que me envolvi estava relacionado ao uso de etanol como agente espumante em misturas asfálticas mornas (warm mix asphalt), de modo a substituir a água – aditivo mais comum utilizado atualmente. A produção do asfalto, utilizando-se água como agente espumante, é feita a altas temperaturas (maiores que 100ºC), de modo que a água possa evaporar e produzir um efeito conhecido como processo de formação de espuma (foaming process), causando uma redução da viscosidade do ligante asfáltico e uma expansão do volume, que melhora o revestimento dos agregados. O etanol também causa esses efeitos (grande parte da minha pesquisa foi testar em laboratório as características da mistura do etanol com o ligante asfáltico). A maior vantagem do etanol é seu ponto de ebulição (78ºC) ser menor do que o da água (100ºC). Isso implica em menores temperaturas na produção da mistura asfáltica morna, reduzindo a emissão de gases e economizando energia durante o processo produtivo do asfalto.Gazeta - Que resultado vocês esperam dessa conferência? A intenção é fazer desse um evento anual?
G. P. - Desde o início, nossa intenção era fazer um evento que incluísse estudantes brasileiros localizados por todo o território americano, e não algo apenas regional. Das pessoas que já se inscreveram até hoje, conseguimos atingir inscrições em mais de 20 estados americanos, incluindo Califórnia, Nevada, Arizona, Connecticut, New York, Massachusetts, New Jersey, Nebraska, North Carolina, Flórida, Illinois, Washington, Missouri, Tennessee, Oklahoma, Novo México, Iowa, Minnesota, Texas, Indiana, Geórgia e Virginia. Também tivemos inscrições de pessoas no Brasil e no Canadá. Ou seja, nosso objetivo de fazer da BRASCON uma conferência que acolhesse pessoas de diversas partes dos EUA tem dado certo e tem ido além do território americano! Com certeza, pretendemos continuar realizando a BRASCON nos próximos anos e fazer dela uma conferência de referência para estudantes brasileiros de pós-graduação nos Estados Unidos e, quem sabe, num futuro próximo, expandir para outros países de outros continentes? A BRASCON veio para ficar.Esperamos que o evento sirva de plataforma para os estudantes, pesquisadores e profissionais brasileiros se conectarem no exterior e compartilharem suas experiências, pesquisas e trabalhos realizados. Que esse networking entre os participantes da BRASCON resulte em parcerias e colaborações que possam contribuir para o aprimoramento da Ciência, Tecnologia e Inovação no Brasil.Palestras
Os palestrantes que já confirmaram presença na conferência são:
• O professor titular do Departamento de Neurobiologia e Co-Diretor do Centro de Neuroengenharia da Duke University, Miguel Nicolelis;
• O professor titular de física e astronomia na Dartmouth College e autor de 14 livros, entre eles A Dança do Universo, Dr. Marcelo Gleiser;
• A Bacharel em Ciências com ênfase em Astronomia e Física pela Universidade de Toronto e membro do conselho da Fundação SciBr (uma organização educacional e científica dedicada a promover o intercâmbio cultural e de cooperação nas áreas de educação, ciência e inovação entre o Brasil e os EUA), Ana Lopes;
• E o ex-bolsista da CAPES e doutor em Nanobiotecnologia pela Cornell University, Leonardo Maestri, que ano passado vendeu para a farmaceutica Roche a empresa GeneWave, cofundada por ele durante o doutorado nos EUA. O valor do negócio foi de aproximadamente R$1,5 bilhão.
Serviço
Para saber mais sobre a BRASCON visite: www.brasconference.org ou a página do Facebook: brasconference.