Brasileiros testemunharam a fúria do Katrina

Por Gazeta Admininstrator

As mais de sete horas de vôo de Miami para o Rio de Janeiro nunca foram tão longas, e ao mesmo tempo reconfortantes, para o casal Antonio e Angela Medalha, que testemunhou a passagem do furacão Katrina no sul dos EUA. Após dias de tensão isolados em Nova Orleans, na Louisiana, e uma parada não planejada em Dallas, eles finalmente conseguiram voltar para casa, onde foram recebidos com uma festa surpresa organizada pelos filhos e por amigos.

- Eu tive realmente muita sorte, fui um dos primeiros brasileiros a voltar. Mas quem ainda está lá está em uma situação muito difícil. A gente sentia que a cidade ia explodir (devido à tensão). Mais cedo ou mais tarde, a cidade ia explodir.

Do hotel em que estava em Canal Street, um dos pontos turísticos da cidade, o engenheiro de 58 anos lembra que via dezenas de carros da polícia e policiais com armas pesadas e recebia notícias de saques na cidade. Ele disse que chegou a temer por sua segurança.

- A gente percebia que se não saíssem daquele lugar alguma coisa iria acontecer. Todo mundo estava preocupado vendo faltar comida, faltar água, era uma coisa muito preocupante. Na parte turística da cidade a água ia subindo aos poucos, não chegou a invadir até a hora que eu fui embora - contou ele por telefone ao Globo Online.

- O hotel acolheu a família de todos os funcionários e deixou entrar pessoas que não estavam hospedadas para que elas pudessem comer. Depois o hotel começou a racionar comida, os próprios hóspedes 'saqueavam', pegando garrafões de 20 litros de água. Era uma questão de sobrevivência.

Junto com outros turistas, Antonio e a mulher deixaram na última quarta-feira de Nova Orleans em ônibus alugado pelo hotel e foram levados para Baton Rouge, capital da Lousiana, de onde seguiram para Dallas. Ao longo do caminho, eles viram o rastro de destruição deixado pelo Katrina.

- Tinha um trajeto mais ou menos seguro, mas a gente via que cidade estava acabada. A destruição na parte pobre de Nova Orleans realmente foi uma coisa impressionante. Isso e a falta de assistência que o governo federal americano deu para o pessoal de Nova Orleans . A imprensa estava lá, mas não tinha ninguém (do governo ) ajudando em nada.

Outro brasileiro que já respira aliviado é o economista José Cândido Sampaio de Lacerda Neto, que também desembarcou no Rio em um vôo procedente de Miami, Flórida. José Cândido, que realizava um curso em Chicago, foi passar dois dias em Nova Orleans e acabou isolado uma semana em uma cidade destruída e inundada. Na quinta-feira passada, ele conseguiu seguir em um comboio de ônibus para a cidade de Alexandria, no centro da Louisiana. Lá, ele tomou novo ônibus rumo a Baton Rouge, ainda na Louisiana, de onde continuou a viagem até Miami.

- Quarta-feira foi o pior dia. A gente estava com a passagem de volta e teve que esperar quatro, cinco horas. Eles confiscaram os ônibus, aparentemente por um motivo nobre, para buscar pessoas que estavam em situação pior do que a gente - disse ele no aeroporto, onde reencontrou a mãe, a mulher, Letícia Vandystadt e a filha Luana de 7 meses.

- A gente estava sem perspectiva. Por sorte, porque alguns ônibus saíram para buscar umas enfermeiras da Cruz Vermelha, então eles acabaram trazendo a gente.

LIGAÇÃO AGUARDADA - Em Belo Horizonte, a família de Carlos Daniel da Silva também passou um domingo mais tranqüila após receber um telefonema dele hoje. O último contato havia sido na quinta-feira passada.

Com a aproximação do Katrina, Carlos, a mulher, a americana Elisa Marble, e a filha Isabella Helan, de 9 meses, deixaram a casa onde moram em Long Beach, no norte da Louisiana, e seguiram para a residência do sogro na região de Mobile, no Alabama.

- Quando liguei para minha casa no Brasil, nós estávamos no Alabama a caminho da Flórida. Nós conseguimos chegar lá e comprar comida, água e gasolina. Voltamos para Long Beach no sábado à noite - disse ele por telefone ao Globo Online.

Já dentro de casa, Carlos acha que teve sorte.

- Nossa casa não foi atingida, mas as casas próximas foram destruídas. A situação está muito complicada, não há energia. O lugar em que eu trabalho foi destruído - disse ele.

- Muita gente perdeu casa, parentes, tudo. Graças a Deus, estamos bem.

LONGA ESPERA - Muitas famílias, no entanto, ainda vivem dias de apreensão. Em Belo Horizonte, Mariana Miranda aguarda notícias do pai, o economista do Banco Central Erivelto Oliveira Miranda. Ele e a namorada Alice Capociango foram para os EUA para uma viagem de três semanas pelo país. A primeira escala era Nova Orleans, onde os dois ficariam dois dias, mas terminaram acuados pelo furação.

- Ontem (sábado) ele ligou às 7h de uma rodoviária em Alexandria. Ele tinha saído de Nova Orleans em um comboio outros turistas, inclusive o José Cândido (Sampaio de Lacerda Neto), e foi para Baton Rouge. Mas ele disse que Alexandria também está muito destruída pelo furacão. Acho que ele ia tentar ir para Las Vegas e continuar a viagem.

- Falamos muito rápido, a ligação estava ruim e ele disse que tinha muita gente na fila querendo telefonar. Estou preocupada porque ele não ligou mais.