O presidente americano, George W. Bush, anunciou na quinta-feira (6) o congelamento dos juros de centenas de milhares de hipotecas durante cinco anos. A medida é parte de um plano para aliviar a pior crise no setor hipotecário nas últimas duas décadas.
Até agora, a proposta representa a atitude mais enérgica do gover-
no americano para combater a execução em massa de hipotecas de alto risco, concedidas nos últimos anos a pessoas com histórico de crédito ruim.
De acordo com Bush, “não há solução perfeita” para o problema das cerca de 1,2 milhão de pessoas que tomaram empréstimos de alto risco (integrantes do chamado segmento subprime). “Não se trata de uma ‘fiança’ para eles, para os especuladores imobiliários ou para aqueles que tomaram a decisão irresponsável de comprar uma casa sabendo que não poderiam pagar”, disse Bush sobre o pacote. As medidas são, segundo ele, “uma resposta a um sério desafio”.
O Federal Reserve (Fed, o banco central americano) prevê que aproximadamente 1,8 milhão de proprietários de imóveis nos Estados Unidos que aproveitaram ofertas de financiamento com juros tentadores serão afetados por aumentos desses juros no ano que vem. Destes, 500.000 podem perder as casas com a execução de suas hipotecas. O “desafio” de Bush é justamente facilitar à população o pagamento de suas casas, para que possam continuar a gastar dinheiro e movimentar o consumo do país.
Crise recorde
O anúncio de Bush coincidiu com a publicação de um relatório da Associação de Bancos Hipotecários americana, o qual revelou que o número de execuções hipotecárias nos Estados Unidos alcançou um recorde histórico no terceiro trimestre de 2007.
O número de norte-americanos que deixaram de pagar as prestações dos seus créditos de habitação chegou ao máximo dos últimos 20 anos, no terceiro trimestre, uma vez que muitos tomadores de empréstimos não foram capazes de refinanciar ou de vender as suas casas.
A quota de todos os empréstimos hipotecários com pagamentos atrasados mais de 30 dias, incluindo não só os “subprime”, como também os empréstimos a taxa fixa e os de melhor qualidade (“prime”), atingiram 5,59%, com ajuste sasonal, o que corresponde ao mais alto nível desde 1986, anunciou a Mortgage Bankers Association. Os novos casos de incumprimento atingiram um pico histórico pelo segundo trimestre consecutivo.
Em seu anúncio na Casa Branca, durante o qual esteve acompanhado do secretário do Tesouro americano, Henry Paulson, Bush afirmou que a proposta não representa uma violação dos princípios do livre mercado, como sustentam os críticos.
Informou que 1,2 milhão de pessoas poderão estar aptas a receberem a ajuda, embora apenas uma percentagem desse total poderá optar pelo congelamento das taxas de juros.
Os demais obterão ajuda para refinanciar suas dívidas e poderão optar por hipotecas asseguradas pela Agência Federal de Habitação. Está previsto que cerca de dois milhões de hipotecas de alto risco se ajustem no final de 2008, o que aumentará o pagamento médio em US$ 350, de US$ 1.200 para US$ 1.550.
Mercados não reagem
O anúncio do presidente Bush na quinta-feira(6) não animou os mercados. As bolsas em New York mantiveram a alta leve. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) seguiu o mesmo caminho.
A expectativa era de que Bush anunciasse um pacote de medidas que incluiria o congelamento por cinco anos da taxa de juro de algumas hipotecas do mercado subprime (com risco de calote), para evitar uma onda de execução de hipotecas, mas o presidente americano adiantou que o Congresso não enviou ao governo nenhum plano para ajudar mutuários.
Apesar disso, o presidente dos Estados Unidos exortou os parlamentares a aprovar a modernização das agências de habitação, assim como alterar a lei tributária para ajudar os mutuários. O Congresso, acrescentou Bush, também deve aprovar a reforma das agências de crédito.
O presidente dos EUA, contudo, anunciou algumas medidas para evitar que continue a crescer o número de execuções de hipotecas. O discurso em que o plano foi anunciado foi sobretudo político, sem a apresentação de detalhes. Algumas propostas são acordos voluntários entre provedores de créditos; outras envolverão órgãos do governo.

