Cada vez mais pais optam pelos filhos estudarem em casa, inclusive brasileiros

Por Simone Raguzo

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Agosto marca a volta às aulas para crianças, adolescentes e universitários. Porém, nem todos eles retornam aos bancos escolares e à rotina ditada pelas instituições de ensino. Muitos optam pelo sistema homeschooling, ou seja, estudar em casa.

Angelisa Pontes, que é natural de Fortaleza, mas vive em Plantation Acres, é mãe de Eric Borges, de 12 anos. Pelo segundo ano, ela optou que o filho participe do sistema de ensino Florida Virtual School Full Time. Diariamente, o estudante recebe a listagem de tudo o que deve fazer e assiste as aulas por vídeo e internet. Eric tem professores disponíveis para esclarecer dúvidas via telefone ou email.

Segundo a brasileira, o filho se adaptou bem à nova forma de ensino. “Ele adora! Este será o segundo ano, mas me arrependo de não ter começado antes”, diz.

Angelisa conta que os horários são bem flexíveis e o fato do ensino ser mais individualizado é muito positivo.

“Ele vai para a sétima série, mas vai fazer a nona em matemática. Meu filho passava horas fazendo exercícios de uma matéria que já havia aprendido. Agora, se ele já entendeu o assunto, pode seguir em frente. Sobra muito mais tempo para outras atividades, inclusive brincar”, destaca a mãe.

De acordo com ela, devido a praticidade do curso, o filho faz as aulas em casa praticamente sozinho. “É quase tudo passo a passo”.

Mas, e quanto a socialização da criança, já que ela não frequenta um ambiente escolar com outros colegas? Angelisa garante que isso não é um problema trazido pelo sistema homeschool. “Há tempo suficiente para fazer várias atividades fora de casa com outras crianças, basta matriculá-lo. Meu filho tem aula no IMACS (turma para homeschooled), laboratório de ciências com grupo de crianças, ábaco, e tem tempo para esportes e música. Enquanto, na escola regular, ele mal tinha tempo de falar com os colegas, somente durante o intervalo”, ressalta ela.

Educação domiciliar tem 2 milhões de adeptos nos Estados Unidos

Graças às décadas de pressão de grupos religiosos, a educação em casa é legal nos EUA, mas a regulamentação varia muito entre estados e até de cidade para cidade. Em geral, os pais devem registrar seus filhos no departamento de “homeschooling” da Secretaria de Educação local, onde receberão uma lista com o currículo mínimo exigido para a idade e sugestões de leituras e materiais.

Alguns pais ensinam todas as disciplinas. Outros focam em suas especialidades e contratam tutores ou usam cursos on-line para matérias mais complicadas.

Hoje, nos EUA, pelo menos dois milhões de crianças não frequentam a escola. O Census de 2007 apontava 1,5 milhão. A maioria delas, diferente de Eric, é educada pelos pais em casa, como é o caso da paulistana Clodyne Teixeira Seidel, de 33 anos, que atualmente vive em Davie. Ela tem sete filhos: Michelly,10 anos; Christian, 9 anos; Rebecca, 7; Nicholas, 6; Rachael, 3; John-Louis, 2; e Selah, 1 ano e 1 mês. Clodyne e o esposo Jim Seidel optaram, desde o início, pelo sistema homeschooling. Michelly e Chistian, os irmãos mais velhos, chegaram a frequentar seis meses o ensino regular, ainda na pré-escola. Mas essa foi a única e curta experiência de ir à escola.

Para as crianças da família Seidel, as aulas já começaram no início de agosto. Elas são ministradas pela própria mãe. “Apesar de eles estarem, normalmente, envolvidos em aulas especializadas para homeschooling junto a outras crianças, o que nós chamamos de ‘co-op’, um suporte aos pais, a responsabilidade de ensino está 100% nas mãos dos pais”, conta.

Clodyne explica que o sistema de ensino homeschooling é individualizado para cada criança. “Se a criança aprende uma matéria rapidamente, passa para o próximo nível, independente das outras crianças. Se uma criança tem dificuldade, ela aprende no seu ritmo, mesmo que devagar. O currículo também é individualizado de acordo com cada uma. Algumas aprendem melhor visualmente, então ensino de uma maneira que entendam melhor a matéria”.

Segundo a mãe, todos estudam história, geografia, a Bíblia e  ciências juntos, com o ensino mais aprofundado para os mais velhos.

A rotina de estudo das crianças não é longa. Elas estudam das 9am ao meio-dia, mas a mãe garante que todos aprendem de uma maneira mais informal por todo o dia, através de livros, documentários sobre diferentes assuntos e projetos. “Como eles não têm lição de casa, podem dedicar parte do dia para interesses próprios de aprendizado. Dois dos meus filhos tocam piano e a mais velha adora decorar bolos e fazer vários tipos de projetos de arte”, ressalta.

O sistema adotado pelos pais tem dado certo, garante a brasileira. “Muitas pessoas me perguntem em que série eles estão e é muito difícil de responder essa pergunta. Como o ensino é individualizado, normalmente estão em diferentes séries, apesar da idade. Duas das minhas meninas estão três anos à frente de crianças da mesma idade”.

School X Homeschool

Na concepção de Clodyne, a maior diferença entre o sistema de ensino na escola e em casa é o estudo com base bíblica e não secular, como nas escolas públicas. “Além da individualização do ensino, a união da família é outro motivo. Meus filhos, apesar de terem muitos amigos, são melhores amigos entre eles. Também desenvolvem um relacionamento de confiança com seus pais. Seus corações estão voltados à influência da família e não dos amigos”.

De acordo com Clodyne, muitas pessoas questionam sobre a falta de socialização dos filhos com colegas de escola. “O que parece negativo nesse sistema à primeira vista, é na verdade uma das vantagens do homeschooling. Em primeiro lugar, meus filhos têm muitos amigos que conheceram na igreja que frequentamos, em diferentes atividades e grupos de co-op. Como muitos dos seus amigos são ‘homeschooled’, eles se veem várias vezes por semana. Mas a maior vantagem em relação à socialização é o fato de saberem se relacionar com qualquer idade, sejam amiguinhos bebês, outros pais, senhores e senhoras. Como não passam o dia na escola e não têm lição de casa, eles têm mais oportunidades de estabelecer relacionamentos com pessoas de várias idades e não só colegas. Aprender a se comunicar com sabedoria com várias pessoas é uma das vantagens do homeschool. Muitas pesquisas têm provado o sucesso desses alunos”, completa.