A ligação entre os cães, a autoestima e as crianças

Por Adriana Tanese Nogueira

cesar

Ao que parece, a desobediência do cachorro decorre da baixa autoestima de seu dono. Um dono autoconfiante tem um cachorro seguro e tranquilo. Falta de exercício e de disciplina unidos ao excesso de afeto produzem cães nervosos e agressivos. Essas são algumas conclusões extraídas da psicologia canina segundo Cesar Millan, um “reabilitador de cachorros e treinador de pessoas”, e autor de “Cesar’s Way” (traduzido para o português como “O encantador de cães”).

A força física não ganha o cachorro, mas o torna um bicho assustado e confuso, e se o cachorro for grande e forte adeus força humana. O abuso de força da parte do dono nasce da insegurança e covardia destes. Cachorros estressados e fora do controle se tornam assim por conta da instabilidade psicológica e da falta de entendimento de seus donos humanos. Assim, o segredo para um cachorro “perfeito” é então o resultado do centramento interior de seu dono.

A coisa interessantíssima que a relação com o cachorro traz à tona é que esta relação corporifica a questão da psicologia da autoestima retirando-a do contexto, às vezes, vago na qual a colocamos. Autoestima não se manifesta nas palavras, por exemplo. Há um monte de gente que fala bem, decorou belos discursos e tem poses de sabidão, mas o que seu corpo revela? Qual é a postura física que tem? Pessoas de corpo mole, física ou metaforicamente, ou rígido e corcunda, com posturas retraídas, olhares oblíquos, pessoas cuja energia não se manifesta clara e tranquila, mas confusa e cheia de rodeios, ou agressiva e estourada... Que temem dizer o que pensam, que não mostram seus sentimentos ou que titubeiam para não “perturbar” os outros: estas não podem ter um cachorro. O melhor amigo do homem é a prova do nove da psicologia de seu dono. O cão fareja a insegurança do dono e reage apropriadamente, ou seja, faz o que é preciso fazer. O mundo canino é simples, ele vive em comunidade e nela há de haver um líder. Seu líder deveria ser o dono, mas se este se omite então o cachorro preencherá a vaga.

A relação de confiança entre humano e cachorro acontece quando o dono entende seu cão e o que ele precisa e, ao mesmo tempo, lhe dá a disciplina necessária para uma serena convivência. Não é o mesmo para nós? A psicologia canina se assemelha muito àquela infantil. Bebês e crianças pequenas também precisam de um líder. Líder é quem sabe o que está fazendo e assume seu papel com responsabilidade. Assim como os cães, as crianças também precisam saber o que se quer delas, como “funciona” a realidade ao seu redor e como agir nela. Linhas de comportamento dão segurança e produzem serenidade. Mas quantos adultos explicam o mundo ao seu filho? Ou o orientam para que ele o compreenda melhor?

Cães e crianças precisam de líderes inteligentes, ou seja, pessoas que têm firmeza de caráter e centramento interno. Donos de cachorros e “de crianças”, muitas vezes abusam de seu poder, sendo cruéis, estúpidos ou insensíveis. Obrigam seus dependentes a viver conforme suas regras sem levar em consideração aquilo que filhos e bichos necessitam para ser felizes.

O que falta compreender é que amar não é dar o amor que a gente quer dar, mas dar o amor que a outra pessoa precisa receber. Somente ama desse jeito quem estiver de bem consigo e não utilizar outros seres como muletas existenciais. Somente quem se respeita pode respeitar, quem sabe ouvir sua criança interior será capaz de dar atenção ao filho, e somente quem sabe ouvir seu corpo poderá respeitar o animal.