Três histórias desta semana falam sobre aspectos diferentes de campanhas de arrecadação. Sobre as injustiças, solidariedade e, infelizmente, mentiras.
A matéria de capa é sobre a campanha para Carlos Moraes, um imigrante brasileiro que foi praticamente expulso de uma clínica de recuperação, mesmo sendo completamente dependente dos outros para viver.
A pressão vivida por Carlos quase se trata de um problema que já nos debruçamos no passado, das chamadas “deportações médicas”. Sem dinheiro para manter imigrantes indocumentados e sem seguro, hospitais têm proposto ou mesmo feito a transferência de pacientes, geralmente sem o consentimento de seus familiares.
Em 2012, uma brasileira que tinha se acidentado foi transferida de Pompano Beach para São Paulo e morreu em uma parada em Manaus. Segundo sua mãe, a transferência foi feita sem a sua assinatura e a pressão para que a jovem Dimitria Carvalho fosse transferida para o Brasil foi muito grande.
No caso de Carlos Moraes, ainda não se sabe por que a sua expulsão da clínica em que estava em Deerfield Beach se deu antes que a promessa de transferência do paciente para o Brasil acontecesse. Essa informação é uma de muitas peças do quebra-cabeças que pessoas envolvidas com o caso estão tentando montar.
Felizmente, sempre vemos que o que não faltam nessas horas são pessoas com boa vontade. O médico brasileiro, Richard Silva, entrou na campanha, atendendo o paciente voluntariamente. Ele disse ao GAZETA que esta não é a primeira vez que se envolve em questões da comunidade, atendendo voluntariamente ou por um preço abaixo do normalmente cobrado.
Mas o médico conta que já presenciou o pior das pessoas também, ao oferecer esse tipo de serviço voluntário. Ele descobriu que uma paciente sua mentia sobre suas condições financeiras e, na verdade, tinha uma empresa e várias propriedades. “Por isso, hoje em dia, ajudo pessoas mediante suas igrejas, com indicação de pastores parceiros”, disse o médico. Outra história desta semana ilustra bem este tipo de mentalidade oposta. Na última semana, contamos a história de uma menininha de apenas 3 anos, em recuperação depois de um ataque de pit bull, que teria sido expulsa de uma loja da rede KFC, porque supostamente suas cicatrizes teriam “assustado” os clientes presentes. Nesta semana, foi divulgada a notícia de que tudo se tratava de uma farsa da família para tentar arrecadar dinheiro para as despesas médicas. O caso está sendo investigado, já que é difícil de acreditar que alguém, ainda mais a família, seja capaz de usar a imagem de uma menina inocente para cometer tal atrocidade. Um comentário dessa história dizia que um ato como esse poderá impedir que milhões de pessoas sejam ajudadas por medo de fraude.
Isso poderia impedir que a menina Sofia, de apenas 6 meses, que precisa urgentemente de um transplante para sobreviver, conseguisse arrecadar dinheiro em uma campanha e agora estivesse a caminho dos Estados Unidos com a ajuda do governo brasileiro.
Algo que também é comum de se ver em campanhas é o surgimento de brigas, discórdias e palpites.
A mãe de Sofia, Patrícia, sofreu críticas, pois mesmo conseguindo que o governo pagasse pelo transplante de sua filha, continuou arrecadando doações, que servirão para pagar as despesas com moradia e outros gastos que a família poderá ter com o tratamento da menina, que terá que ficar nos Estados Unidos por dois anos. Pessoas dizem que sua família deveria doar o dinheiro para Pedrinho, outro bebê que precisa de transplante, mas Patrícia diz que não tomará decisão nenhuma até realmente estarem nos EUA. Além disso, ela tem aderido a campanhas para ajudar Pedrinho e outras crianças em situações semelhantes.