Carreira ou filhos?

Por Adriana Tanese Nogueira

Há mulheres hoje que renunciam as suas carreiras para cuidar dos filhos. Seria essa uma loucura? Uma volta ao passado? Antes de responder, vejamos quem são essas mulheres. Como integrante e ativista do movimento pela humanização do parto e nascimento, eu partilho de uma visão que se chama “maternidade ativa”. O que significa isso? Significa exercer a maternidade desde o início, seja desde a gravidez, se dando o direito de ter um papel de protagonista. O que leva necessariamente a desafiar muitos estereótipos e a decidir com relação a como quero ser tratada, a como quero parir, a como quero que meu filho seja tratado no nascimento, a como quero criá-lo, educá-lo, que valores e prioridade passar-lhe, etc.

Qual é a diferença com relação a antes? A diferença consiste na minha consciência que me faz pensar criticamente. Assim, a palavra do médico não é a palavra de Deus e as orientações tradicionais não serão assumidas sem antes serem criteriosamente analisadas. Irei me informar, perguntar, obter uma, duas, várias opiniões. Deixarei de bancar a menina ingênua para virar adulta, reconhecendo que a medicina hoje está baseada em lucro mais do que no amor ao outro, portanto, exames e remédios podem ser úteis, mas também são sempre e, com certeza, lucrativos. Logo, será mesmo que eu preciso? Irei me antenar com relação ao parto e às consequências para mim e meu filho. Se eu o amo tanto quanto digo, então tenho a obrigação de saber exatamente o que é melhor para ele, incluindo a ideia que segurança não pode significar abandono, violência, insensibilidade. Me sintonizarei com o meu bebê para compreender o que de verdade lhe faz bem e do que ele precisa para crescer de forma equilíbrada, tanto física quanto psicologicamente. É graças a esse movimento de autotransformação da nossa identidade de mulheres tradicionalmente passivas e dóceis que muitas escolhem continuarem a ter seu papel ativo como mães no lugar de terceirizar os cuidados de seus filhos. Esta não é uma tarefa nem fácil nem leviana, pois ser mãe hoje é geralmente estar só.

Quais são os benefícios disso? Em primeiro lugar, poder exercer o papel de mãe de forma plena, evitando aqueles sentimentos amargos de culpa, que se enterram no fundo do peito. Significa reavaliar as prioridades, sendo o dinheiro e as aparências os principais, portanto, significa ir na contramão da cultura materialista e superficial. Em segundo lugar, permite conhecer de fato nosso filho. Como todos nós sabemos, qualquer relação para dar certo precisa de tempo. E como toda mãe sabe, o bebê chega e não entendemos nada dele! Somente aos poucos iremos decifrar cada modalidade de choro e expressão. E as mudanças são tantas que assim que pensamos termos entendido tudo, nosso filho já mudou, está em outra fase do desenvolvimento! O tempo passado junto é o tempo de construção da relação e de cocriação de duas pessoas em constante mutação, mãe e filho. Em terceiro lugar, uma mulher que dá um passo nessa direção, após ter tido uma carreira e estudos e dentro desse contexto da humanização, está conscientemente ou não sendo cocriadora de uma nova humanidade. Ela está semeando valores. Ser mãe deixou para estas mulheres de ser uma mera função biológica. Ser mãe é fazer história, é educação, é política. Enfim, não ter uma carreira formal não significa não ser ativa socialmente e profissionalmente. Mulheres mães ativas reinventam o conceito de trabalho.