Carta para o Michael - Opinião

Por Carlos Borges

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O jovem pugilista brasileiro, Michael Oliveira, sofreu na noite do último sábado, 2 de junho, sua primeira derrota. Perdeu por nocaute técnico, no nono assalto, para o quatro vezes campeão mundial Acelino “Popó” Freitas. O embate, realizado em Punta Del Este, o elegantíssimo e badalado balneário do norte do Uruguai, foi cercado das previsões mais bizarras.

A primeira dando conta de que a vitória de Michael estaria “previamente assegurada” num acerto pelo qual Popó levaria R$ 500 mil. Outras dando conta de que Popó arrasaria facilmente o ainda novato Michael, que, com muita sorte, chegaria ao terceiro assalto.

Como se viu, a luta não teve nada do que previam os tais “experts do escândalo anunciado”. Foi uma luta em que Popó demonstrou estar bem fisicamente, comprovando que seu afastamento dos ringues, por cinco anos, não significou nem pior um instante seu afastamento dos treinos constantes.

Foi também uma luta em que Michael, desafiando de forma inusitada um tetracampeão com mais de 100 lutas em seu cartel e uma longa e vitoriosa carreira que passou com enorme êxito pelo amadorismo até chegar a medalha de prata olímpica.

Desde o início da luta se percebeu que Popó estava muito mais bem preparado do que se supunha. Muito mais capacitado a encarar um jovem lutador 15 anos mais novo que ele.

Foi uma glória para Acelino Popó, que realizou o sonho do filho “Popózinho” e reafirmou que efetivamente se afasta do pugilismo.

Só que Michael, derrotado pelo nocaute técnico no nono assalto, chegou aonde os mais experientes analistas jamais acreditavam que ele chegaria. Para esses experts, o desafio a Popó teria sido precipitado e que, pela lógica, seria fácil prever que Popó poderia encerrar a luta nos três primeiros assaltos.

Popó, que ainda no calor da vitória foi animar Michael e dizer a ele que, foi a partir de uma derrota, que ele, Popó, iniciou uma longa jornada de glórias e títulos. Michael, embora abalado com a inesperada derrota, a primeira de sua carreira de menos de quatro anos, também deu um show de dignidade ao procurar Popó após o embate, cumprimetar a sua família e manter o embate num nível inédito e civilizado, no cada vez menos ético universo do pugilismo.

A Michael, que provou que seu talento é real e segue promissor, fica a lição de que é a partir das derrotas que se constrói uma plataforma mais sólida de sucesso.

Não, Michael. Sua carreira está muito longe de ter acabado no ringue daquele luxuoso cassino de Punta Del Este. Se você seguir demonstrando a disciplina e caráter que soube demonstrar tanto nas vitórias quanto na solitária derrota, a gente acredita que suas possibilidades de se tornar um grande campeão brasileiro são ainda maior do que ele já eram.

Quanto a Popó, a vitória sobre Michael amplia ainda mais seu mito de coragem e superação, e serve de exemplo para o próprio adversário, na medida em que respeitou e foi respeitado. Desfez com sua garra e determinação os boatos de que estaria participando de qualquer tipo de “esquema”.

Até para isso essa vitória serviu. Para calar a boca dos muitos que atribuíam o sucesso do menino brasileiro de Miami, a jogadas de marketing e embates arranjados. Michael foi um adversário à altura do desafio e, desta vez, na derrota, obteve a vitória de carimbar sua carreira com um platô de maturidade.

Estamos aguardando pela continuidade da carreira dessa grande promessa do pugilismo brasileiro. Que siga adiante, como fez Popó quando, a partir de uma derrota, construiu sua trajetória para a glória.