Casamento em crise e filhos

Por Adriana Tanese Nogueira

divorcio

Nessa época de festas, o Natal se aproximando, vamos aproveitar para puxar a sardinha para o lado da sinceridade e das crianças. Vamos tecer uma reflexão sobre a triste realidade de tantos “casamentos” mantidos em nome dos filhos. Namorar é uma coisa, sabemos. Casar, enfrentar as responsabilidades do dia a dia e a chegada de filhos, é outra. Nem sempre a experiência dá certo, mas uma vez que há os filhos... Eis que o casal se mantêm “unido”.

Infelizmente, o ser humano consegue se adaptar a tudo, mas nem por isso deixa de pagar pelas consequências. E estas se medem em termos dos limites que se adquirem para o que podemos ser, pensar e sentir. Quantos casais aceitam uma vida mutilada com a desculpa dos filhos? Mentem e vão levando - em nome dos filhos.

É verdade que não se pode chutar o balde toda vez que der vontade. A relação requer um tempo para que a alquimia da união ser processada. Mas, quanto tempo? Até quando se pode dizer que já foi tentado de tudo? Acredito que cada um dentro de si, em honestidade, sabe das coisas. O que embaça a consciência impedindo de ver a verdade e de tomar atitudes são as dependências que se criam.

Dependências econômicas, em primeiro lugar. Dependências afetivas e o hábito, em segundo lugar: saber que há alguém em casa, alguém que vai preparar o jantar, esquentar a cama... conforta. Mas vale a pena? Não seria mais saudável ter uma boa empregada e um ursinho de pelúcia? Ou, talvez, uma boa terapia. Mas a maior e mais comum de todas as mentiras é a que justifica um casamento em nome dos filhos. Vamos pensar um momento.

Como pode um casal que se vê todos os dias e não se entende criar um ambiente sereno em casa? Como pode uma mulher que se sente reprimida e não apoiada pelo marido ser uma boa mãe? Por acaso ser mãe é diferente de ser mulher? Seria possível uma pessoa ser uma mulher oprimida e infeliz e uma mãe talentosa, compreensiva e amorosa? Sejamos sérios. Mesmo fingindo alegria, vocês acham que os filhos são tolos? Eles também aprendem a fingir! E como pode um homem irritado e angustiado abrir os braços a seus filhos no final do dia e ter condições reais de conversar com eles e entendê-los?

Quem viveu num ambiente onde há brigas e tensões, sabe quanto isso é sofrido. A escola será o primiro sintoma de que algo não está bem, e não culpem as crianças. Observem primeiro as condições em que ela vive. Mas, também, não é suficiente para que não haja brigas. É preciso de honestidade. Um casal que não é sincero não pode ser sincero com os filhos. Sem querer, ensinam mentiras para sustentar seu teatro. Os filhos, entretanto, perceberão que há algo errado, mas, como “adultos-todos-poderosos”, seus pais lhes dizem que “está tudo bem”, eles vão se “quebrar” por dentro aprendendo a dizer e a sentir o que “é permitido” e recalcando o que sentem e pensam de verdade. Aprendarão a mentir a si próprios.

Ser mãe e ser pai exige coragem. Nossa responsabilidade não se resume em pagar as contas e dar presentes, escolas e roupas. Precisamos ser referência para eles, exemplo vivo, verdade de carne e osso na qual eles possam se espelhar. E se não podemos dar tudo isso a nossos filhos e nosso casamento não está bom, procuremos ajuda. Agora. Sem vergonha. Vergonha é arrepender-se quando é tarde demais.