Casamento em ruínas? Será que tem solução?

Por Gazeta Admininstrator

Por: Karina Lapa

O seu casamento está se deteriorando? O marido está indisponível emocionalmente, e você, claro, suspeita que ele está tendo um "caso"? Sua esposa não tem mais interesse sexual por você? Sua vida está tão miserável, que a sua performance no trabalho tem sofrido com essa desmotivação?

Divórcio, em face ao seu desespero, parece até uma opção a ser seriamente considerada, muito embora você ainda não possa tomar nenhuma decisão, e se sente "preso." O próximo passo é buscar a ajuda e apoio dos amigos. Você conta os seus problemas matrimoniais, reclama que não tem sido entendido pela parceira, e como ela não preenche as suas necessidades mais básicas de carinho, afeto, atenção, sexo, etc. Acusa o parceiro de ser egoísta, que simplesmente não te entende. Ainda chega a acusá-lo de insensível, controlador, e incapaz de mudar. Apoio e suporte dos amigos e dos familiares é o que você mais precisa. Um ouvido, ou um ombro amigo é o que mais anseia em uma hora dessas.

O feedback que você recebe parece ser o "melhor" disponível: "Não acredito que o teu marido/esposa te trata assim; Você não pode continuar nessa; Ele não te merece; Os homens são todos iguais, você merece coisa melhor". E no final da conversa você se sente bem melhor, e com a convicção de que o seu parceiro está errado, e você, certa!

Semanas se transformam em meses e nada muda no seu casamento. A cada dia você está mais infeliz. Brigas, discussões e falta de entendimento são uma constante. Todos percebem essa insatisfação, e muitos perguntam: "O que é que ele (a) fez agora com você?" A pressão em deixar esse casamento e seguir adiante aumenta, e cada vez mais você quer ser "livre". Amigos e pessoas da família querem que você coloque um fim no sofrimento diário, e siga a sua vida. "Coloque um basta nisso!", oferecem eles. Chegam a oferecer exemplos e nomes de advogados para te ajudar no processo. Você então pensa, "Posso passar por isso em uma boa, tenho apoio e amizade de muita gente."

Bom, vamos agora fazer uma análise de tudo isso que está acontecendo com você. Para começo de conversa, quando você conversa com os amigos ou familiares, eles escutam o "seu lado" da história, que na verdade é incompleta. Mas isso não evita que os outros julguem o seu marido/mulher como quem tem o problema. A lealdade deles com você os cega, e previne que vejam o problema de uma forma sistêmica, ou seja, onde a engrenagem funciona graças a colaboração de TODOS os que estão envolvidos. Eles não conseguem ver como, por acaso, algumas das suas ações favorecem ou contribuem para alguns dos problemas que tem com o parceiro. Isso muitas vezes porque até você deve estar cego para com o seu papel na relação.

E ainda existe um outro problema em dividir a crise com amigos e familiares. Mesmo que o seu esposo/esposa mostre esforço, passe a ser mais carinhoso, sincero, íntimo ou acolhedor com você, eles acham que você simplesmente precisa mudar a visão do parceiro. Muitas vezes até dizendo, "Você não vê que ele só está fazendo isso para te manipular?"; "Ele não muda"; "Pau que nasce torto, morre torto". Portanto, você é quase que obrigada a ver as coisas através dos olhos dos amigos e familiares. Já que você se expôs, pediu conselho, apoio e suporte, voltar e tentar lutar pela relação, é simplesmente inaceitável, segundo eles. E dai você segue tentando explicar que as coisas estão diferentes agora, dá exemplos de como ele tem mudado, de como ela está mais atenciosa, ou que deseja mais sexo, etc, mas eles não podem enxergar isso, final, não é o casamento deles, não estão emocionalmente investidos e envolvidos. Amigos e familiares são uma excelente fonte de apoio. Mas será que eles não poderiam ficar felizes por você, mesmo não concordando com as suas decisões e opiniões? Isso seria o mais adequado e apropriado, não acha?

A cada dia no consultório escuto histórias parecidas com essas. Pessoas desesperadas, inquietas, em extremo conflito por não saber mais em quem confiar? neles, no conselho dos amigos ou familiares, ou no parceiro, e na história da sua relação. Nesse desespero interno muitos vão a procura de preencher esse vazio no álcool, ou nas drogas, buscando relações virtuais, ou não, saindo a busca de um amor perfeito, tornando adicto a sexo, e a muitas outras coisas. Tudo isso em uma tentativa de resolver o problema matrimonial. É quando eu costumo dizer, "É tentar resolver um problema psicológico de uma forma não psicológica". Creiam, não vai servir!

Muito embora eu seja talvez uma otimista nata, e acredite que muitos casamentos possam ser salvos, sinto pelas pessoas que estão passando por crises similares, acharem que não há saída, ou remédio, a não ser o divórcio. Divórcio é definitivo, e traz com ele a constatação de uma realidade que às vezes é bem mais dura, e que oferece bem menos apelo positivo. Quando há filhos, essa situação ainda piora mais. A cada dia dos pais, das mães, páscoa, Natal, férias, aniversário, aí está ele, "O Divórcio" que parecia tão definitivo!

Se você ou alguém que conhece está considerando divórcio, nada mais do que natural buscar ajuda nos que estão perto. Só lembre que essas pessoas vão ficar do seu lado, e com isso perdem a PERSPECTIVA da situação. A menos que haja uma história de abusos e maltratos, ou até de diagnóstico mental de um parceiro, que o impeça de ser feliz, há sempre um especto gigantesco a ser considerado, que chamamos de dinâmica da relação. Só as partes envolvidas, e um profissional qualificado pode enxergar isso de forma precisa e eficaz, a fim de ajudar você e o seu parceiro a entender e mudá-la.

Não espere que os seus amigos e pessoas da família mudem de opinião com relação ao seu cônjuge só porque você foi capaz de fazê-lo. Eles simplesmente não podem, pelo menos por enquanto. Eles precisarão de mais tempo. Só não permita que o pessimismo deles te atrapalhe na hora de tomar a decisão de salvar, ou de pelo menos lutar pelo seu casamento.

Terapia ajuda quando é conduzida por um profissional qualificado e treinado para se manter neutro, e que pode ouvir os dois lados da história, e trazer elementos que o casal ainda não foi capaz de considerar. Na próxima vez que se desesperar achando que não há mais nada a fazer, pergunte-se, "E que tal se eu tentar terapia?". E terapia de casal não significa você e o seu esposo (a). As mudanças começam com nós mesmos!