Poucos meses depois de saber do desaparecimento de sua mãe, seu irmão e padrasto em Omaha, Nebraka, a brasileira Tatiane Klein seguiu seu coração e se mudou de Florianópolis (SC), no Brasil, para a cidade americana para pressionar autoridades em uma investigação que parecia quase impossível de desvendar.
Talvez esse seu impulso esteja trazendo respostas a tantas dúvidas, resultando, no dia 21 de setembro, no início do julgamento de José Carlos de Oliveira Coutinho, que teria matado cruelmente Jackeline, seu marido Vanderlei e o filho de sete anos, Christopher Szczpanik, com a ajuda de Valdeir Gonçalves Santos e Elias Lourenço Batista.
Antes de dezembro de 2009, Tatiane não conhecia e nem tinha interesse nos Estados Unidos, país em que sua família vivia há 10 anos. Ela foi uma das últimas pessoas a falar com sua mãe, no dia 16 de dezembro de 2009, provavelmente no mesmo dia do assassinato. Como era mês de Natal e de muita correria, Tatiane e Jackeline combinaram de só se falar no dia 24, véspera do Natal. Mas o tempo passou, Tatiane tirou férias, voltou, e a preocupação foi ficando cada vez maior conforme ninguém tinha notícias de sua família.
Quando Tatiane desembarcou em Omaha, no dia 16 de fevereiro de 2010, ela foi recepcionada pela imprensa e antes de saber falar coisas básicas como “tenho fome”, em inglês, já tinha que lidar com termos jurídicos de um desaparecimento misterioso.
“Depois de todo esse tempo, não sei se eu faria tudo o que fiz de novo”, avalia Tatiane. “Quando cheguei, o principal suspeito do crime ainda estava solto. Fico imaginando o que poderia ter acontecido comigo”. Tatiane é uma das testemunhas no julgamento de José Carlos, e só pode participar nos dias em que for depor e no momento da sentença, que deve sair em algumas semanas.
De acordo com o jornal “Omaha.com”, o primeiro dia do julgamento foi aberto com as alegações iniciais do promotor John Alagaban, com a descrição do crime: Vanderlei Szczepanik espancado até a morte. Sua esposa e filho, enforcados. Seus corpos jogados no rio Missouri, na tentativa de limpar o crime.
Tatiane conta que saiu de si no momento em que ficou frente a frente com o principal suspeito do assassinato. “Ele viu o Christopher nascer, morou por anos com minha mãe e meu padrasto, já era considerado parte da família. Como pôde fazer isso? Por que ele matou minha família?”, indaga.
Durante o primeiro dia do julgamento, os advogados traçaram para os jurados as voltas das investigações sobre o desaparecimento dos Szczepanik. De acordo com os promotores, José Carlos, Valdeir e Elias, que foi deportado para o Brasil antes que pudesse ser acusado, são os responsáveis pela morte da família. No entanto, os promotores dizem que o peso da culpa pertence a José Carlos, descrito como o líder. Valdeir acabou confessando o crime no ano passado, na primeira audiência relacionada ao caso. Até essa confissão, em agosto de 2011, o mistério parecia sem solução.
A polícia passou a investigar os três brasileiros que trabalhavam para Vanderlei depois que eles usaram cartões de crédito da família nos dias após seu desaparecimento.
Tatiane contou ao GAZETA que José Carlos trabalhava com sua família há pelo menos sete anos. Juntos, eles haviam se mudado da Flórida para Omaha com o objetivo de reformar uma escola em um centro de treinamento missionário para a sua igreja. Depois de um tempo, seus pais e José Carlos tiveram algum desentendimento que Tatiane não deixou claro, e Vanderlei despediu o funcionário, mas deixou que ele continuasse morando na casa da família. José Carlos, no entanto, não conseguia trabalho, e Vanderlei o contratou novamente, com a proposta de pagar $8 dólares por hora, e não mais $18, como pagava antes da demissão.
“Até então, Vanderlei parecia achar que José Carlos havia concordado, mas pelo jeito não. Ele se sentiu humilhado e acabou com a vida da minha família”, disse Tatiane.
Segundo o “Omaha.com”, as esposas de José Carlos e Valdeir, que tinha menos intimidade com a família, confessaram aos investigadores, por telefone do Brasil, que os dois sentiam raiva dos patrões por conflitos financeiros. A esposa de José Carlos foi ainda mais longe, admitindo que eles mataram Vanderlei Szczepanik. Foi então que a dupla foi acusada de assassinato. Finalmente, depois de uma cheia no rio Missouri, em outubro do ano passado, os restos de Christopher, de sete anos, foram encontrados por mergulhadores.
Tatiane conta que quando o promotor do caso foi contar para ela detalhes do assassinato, depois que encontraram o corpo do menino, ele mesmo começou a chorar. Ela não quis contar os detalhes.
À espera de justiça
Tatiane contou ainda ao GAZETA que quando resolveu vir aos Estados Unidos, conseguiu a passagem através do governo brasileiro, com um visto de turista, com o qual ela permaneceu por dois anos no país. Ela conta que foi preciso muita insistência com a Imigração americana até que conseguisse o U-Visa, visto especial para vítimas de crimes que possam ajudar nas investigações. Ela agora tem o direito de trabalhar e permanecer no país até que o caso seja encerrado.Tatiane viveu de doações por todo esse tempo. Ela trouxe seu filho de nove anos e o marido para viverem com ela nos EUA, mas o filho mais velho, de 13 anos, fruto de outro relacionamento, ficou no Brasil com o pai e ela não o vê desde o início de 2010.
Medo de voltar para o Brasil
A maior vontade de Tatiane é ter sua vida de volta no Brasil, o que ainda deve demorar. Elias, o terceiro suspeito do crime, está solto no Brasil, que não extradita seus cidadãos. “Eu tenho medo, pois eles me conhecem”, disse. “Eu não acho justo um assassino de criança estar solto como uma pessoa normal”. Até novembro, Valdeir e José Carlos devem receber a sentença. Mas Tatiane só terá paz quando os três estiverem presos, e para isso precisa pressionar autoridades brasileiras a extraditarem Elias.