Censo 2020: indocumentados entre o medo e a sombra

Por Marisa Arruda Barbosa

Com uma nova contagem do Census se aproximando, surge a esperança de uma maior representação das minorias, incluindo imigrantes que residem nos Estados Unidos. Quando um grupo de imigrantes consegue representação política nos EUA, isso representa um marco de sua união e participação cívica no país. Para nós que trabalhamos com a comunidade brasileira nos Estados Unidos, todas as vezes que conseguimos dados sobre quantos somos e quais as características dos brasileiros vivendo nos EUA, bem como quando vemos algum brasileiro representando seus conterrâneos na esfera política, parece que fincamos uma bandeira nossa nessa terra que resolvemos chamar de nosso novo lar. No entanto, mais do que nunca, o Censo de 2020 nunca foi tão politizado. Como disse o The New York Times, o Census é em parte uma esperada contagem da população, mas em outra é uma briga de poder, na qual o desejo de um estado pela precisão da contagem do Censo tem a ver com qual partido está no poder. Enquanto a Califórnia e outros 25 estados estão investindo perto de um terço de um bilhão de dólares - uma soma inédita - para aumentar as taxas de resposta da contagem do Censo, 24 estados, entre eles o Texas e a Flórida, com a segunda e terceira maior população do país, não estão gastando um centavo. A divisão política é acentuada: dezessete dos 24 são liderados por governadores e legislaturas republicanos, incluindo o Texas, Flórida e Ohio. Mas dos 26 estados que estão gastando dinheiro, apenas quatro são controlados pelos republicanos. Poucos duvidam que um fator primordial seja a política: um Census preciso incluiria mais pessoas de grupos mais difíceis de contar, como hispânicos, afro-americanos, asiáticos e pobres que tendem a votar mais nos democratas. Esses números deixam claro quem quer e quem não quer que as "minorias" apareçam em plano ano eleitoral. Outro obstáculo que deve naturalmente manter baixa a taxa de resposta de imigrantes ao Censo é o anúncio recente de que a imigração irá compartilhar dados com o Censo, pela primeira vez. Embora tanto o Census Bureau, quanto a imigração e o presidente Donald Trump afirmem que os dados não serão usados contra os imigrantes, como diz o NY Times, o estrago já está feito. Nos últimos anos, indocumentados viveram com mais medo ainda da deportação diante das políticas do governo "linha dura" contra a imigração. No MacArthur Park, em Los Angeles, que é cerca de 85% latino e onde o espanhol é mais falado do que o inglês, há um sentimento de confusão no momento. As mesmas pessoas que estão sendo instruídas pelos ativistas de imigração a manterem as portas fechadas se agentes do ICE fizerem uma visita, também estão sendo instruídos a abrir suas portas para os funcionários do Census do governo, para que possam ser contados. "Temos esse desafio adicional, a atmosfera criada em Washington de profunda desconfiança e medo legítimo criado no governo. Podemos perder milhões de pessoas na contagem", disse Daniel Zingale, estrategista sênior do governador da Califórnia, Gavin Newsom. "O risco é muito grande", disse uma imigrante da Guatemala em relação a responder ao Censo. Foram anos se esforçando para se encaixar no país. Todos os dias, ela disse ter a sensação de medo de sair para trabalhar e não voltar para casa. Mesmo com a promessa de confidencialidade protegida por lei, indocumentados se veem diante de uma situação de vulnerabilidade, ou ficarão fadados a viver nas sombras e sem representação por mais 10 anos.