Chega a nova temporada de furacões no Atlântico: saiba como se preparar

Por Arlaine Castro

Amizade que veio pelo furacão Não são poucas as histórias de brasileiros que vivenciaram a passagem de um furacão na Flórida. Há quem tenha formado novas amizades ao ajudar estranhos, como é o caso da paulista Ana Luisa Bessa, que junto com o marido, Marcelo Peres, e o filho de 9 anos em Orlando, foram a salvação para a carioca Aline de Chiara, grávida de seis meses, e o marido Rodrigo Vieira, durante o furacão Matthew, em outubro de 2016. Aline e Rodrigo vieram do Rio de Janeiro para fazer o enxoval do bebê e estavam com voo de volta para o Brasil marcado para a noite em que o furacão passaria pela Flórida. No dia anterior à chegada do Matthew, Marcelo encontrou por acaso com o casal do Rio no café de um hotel na Internacional Drive e perguntou se estavam acompanhando as notícias. "Eles não falavam inglês, então nem viram os noticiários", conta Ana Luisa. "Meu marido então falou para o Rodrigo ligar na companhia aérea pra ter certeza que o voo iria sair porque estavam cancelando todos os voos e iriam fechar o aeroporto e deixou o número do celular para que se tivessem alguma emergência e precisassem, pedirem ajuda". Como é previsto em caso de tempestades, o voo foi mesmo cancelado. Mas eles só souberam disso quando já estavam no aeroporto. "Como eles seguiriam primeiro para Miami e o funcionário do aeroporto em Orlando avisou que era melhor nem ir porque já haviam dado evacuação em vários locais no sul da Flórida, eles tinham feito 'checkout' no hotel e ficaram sem saber o que fazer, foi quando ligaram para o Marcelo", relata a estudante. Fazendo compras de emergência no Walmart e sentindo o desespero do casal, inclusive da mulher que estava grávida, Ana Luisa não pensou duas vezes: "Dava pra ouvir ela chorar ao telefone. Me coloquei no lugar dela e falei: manda eles virem pra nossa casa", relembra emocionada. As duas famílias acabaram passando três dias juntos e o que começou com medo, terminou em alegria e uma amizade que dura até hoje. Ana destaca que ainda não voltaram a se ver pessoalmente, mas se falam sempre pela internet. Perguntada sobre a mensagem que esta experiência lhe passou, Ana encerra: "Deus algumas vezes bate em nossa porta, cabe a nós a decisão de abrir ou não. De estender a mão ao próximo, seja esse quem for!". Já para Aline, gratidão e uma amizade "que parece de anos" é o que ficou. "A gente diz que Deus colocou anjos no nosso caminho. Fui, sou e serei extremamente grata por terem nos acolhido. Sempre que tenho a oportunidade eu conto nossa estória e como se fôssemos amigos de anos. Vocês fizeram a gente se sentir em casa!", finaliza emocionada, com a promessa de um dia conhecerem pessoalmente a pequena Catarina. [caption id="attachment_185342" align="alignleft" width="365"] Marialva e as duas filhas na época da passagem do furacão Wilma (outubro de 2005). Arquivo pessoal.[/caption] Duas crianças, uma mobile home e evacuação Morando com as duas filhas, uma com 3 e outra com 6 anos, numa mobile home em Pembroke Pines, Marialva Brito, precisou ser corajosa para largar a casa com tudo para trás e procurar abrigo quando o furacão Wilma passou com tudo em 2005. "Eu era mãe solteira. Minha família toda mora no Brasil e eu comprei tudo o que eu tinha com muito sacrifício. A casa era minha e a possibilidade de perder tudo era muito dolorida. Eu tive que fazer apenas 3 malas, pegar as coisas mais importante e evacuar. Eu trabalhava tempo integral e cuidava de tudo sozinha. O pai e os avós paternos das minhas filhas nunca estavam presentes em momentos assim. Já era quase impossível cuidar de tudo sozinha, e devido ao aperto financeiro, perder um dia de trabalho era fora de cogitação". Para a brasileira, o estresse veio com a demanda que a passagem de um furacão exige. "Ter que proteger nossos móveis com plástico, nossas roupas e nossas comidas, além de preocupar em obter água, gasolina e armazenamentos necessários para as crianças para ter depois do furacão", conta. Acompanhada das filhas, Brito foi para a casa de uma amiga, mas ao voltar, se deparou com muita destruição. "O furacão passou com força no parque de trailers onde eu morava . Muitos postes elétricos e fios caídos. Árvores em cima das casas. Muitos trailers partidos, móveis e eletrodomésticos espalhados pelas ruas", relembra. Com um pouco mais de sorte do que outros moradores, o trailer dela teve estragos somente em um dos quartos, parte da sala e da cozinha. "Metade do telhado quebrou. Um quarto ficou completamente encharcado e o teto caiu dentro. Tudo dentro daquele quarto foi perdido. Tive que trocar o sofá e os armários da cozinha que encharcaram e estavam prestes a cair. Ficamos sem eletricidade durante um mês", detalha. O perigo continuou mesmo depois da tempestade. "À noite, não podíamos dormir com a janela aberta. Era perigoso demais, pois a vizinhança toda era um breu. Não tinha nem luz na rua e tinha toque de recolher quando ficava escuro. Ficamos sem poder usar geladeira, fogão, micro,sem banho de água quente, sem TV, internet, por um mês morando numa casa em que o cheiro de mofo ficava cada dia mais insuportável". Depois do furacão, Brito decidiu que era hora de arrumar um lugar mais seguro para morar com as filhas e pôs a casa à venda pensando em ir para o norte dos EUA. O negócio da casa deu errado e ela acabou perdendo o dinheiro que investiu para se mudar. Hoje, mora em Davie, sul da Flórida, com as filhas. "Nunca consegui comprar mais nada", encerra. Leia também Mais de 118.000 casas continuam sem energia na FL e GA após o furacão