Chego, chegado, trazido, trago, eleito, elegido: e agora? Qual é o correto?

Por Rodrigo Maia

11599401105_48b5babe2b_m

No Brasil, uma dúvida persiste entre os falantes do Português: de acordo com a norma gramatical padrão, o correto é usar, por exemplo: “Ele havia chego” ou “Ele havia chegado”? Por que esse assunto gera tantas dúvidas? Diversos usuários, tanto na fala como na escrita, cometem estes equívocos gramaticais e, muitas vezes, não fazem ideia do motivo pelo qual estão errando. Então, pra começarmos nosso papo de hoje, precisamos entender o que é um verbo abundante. Isso mesmo: abundante!

De acordo com as principais gramáticas e dicionários, verbos abundantes são os verbos irregulares que apresentam mais de uma forma de conjugação equivalente para o mesmo tempo e pessoa. Isso quer dizer, basicamente, que o verbo abundante é aquele que aceita duas formas diferentes do verbo para a mesma função.

Por isso, no caso de “chego” e “chegado”, precisamos saber se há duas opções equivalentes, ou seja, de mesmo valor de particípio. E a notícia gramatical é: o verbo “chegar” não apresenta particípio abundante; não possui duas formas equivalentes. Portanto, o correto é CHEGADO. No caso citado no início deste texto, “ele havia CHEGADO”.

Agora, fica a pergunta: por que tanta gente acaba usando construções equivocadas do ponto de vista gramatical, como “ele tinha chego”, “ele tinha trago” ou “ele tinha falo”? O que os usuários podem pensar no momento em que ele faz estes usos?

Como acabamos de ver, determinados verbos são abundantes e, por isso, possuem formas equivalentes. No caso do particípio, são abundantes os verbos: expulsar, pagar, ganhar e salvar, por exemplo. Por essa razão, são plenamente aceitas as construções: “Ele foi expulso” e “o boleto foi pago”.

Por conta dessa realidade, o falante não tem dúvidas. Faz analogia (comparação) ao termo e emprega a mesma forma em outros verbos. Se eu digo, “ele tinha salvo o arquivo” (correto), logo, vou dizer, também, “ele tinha chego em casa” (incorreto).

Se eu digo, “O projeto foi aceito pela diretoria” (correto), também vou dizer “Ele tinha trago os sapatos” (incorreto). Pela pura e simples comparação, o usuário faz novas construções que, inicialmente, não existem na gramática. Viu só como o suposto erro tem uma explicação inicial? As comparações são feitas pelos falantes de uma língua desde a infância. Podemos lembrar de algumas crianças que dizem: “eu faço tudo lindo”. Então, por comparação, afirmam: “Eu sabo disso, mamãe.” Confira alguns exemplos de verbos abundantes que possuem duas formas de particípio:

Acender - acendido, aceso Aceitar - aceitado, aceito Corrigir - corrigido, correto Eleger - elegido, eleito Expulsar: expulsado, expulso Entregar - entregado, entregue Extinguir - extinguido, extinto Fixar - fixado, fixo Fritar - fritado, frito Limpar - limpado, limpo Prender: prendido, preso Salvar: salvado, salvo Soltar: soltado, solto

Vimos que, por meio da analogia, novas construções com os verbos são formadas. Mas fique atento aos que têm as duas formas de particípio aceitas pela gramática.

Saber analisar as características brasileiras do Português é muito importante. E ter o conhecimento das normas vigentes, também. Como sempre digo, o mais bacana é saber qual a situação adequada para o uso formal e informal do registro. Estudar um idioma é, sim, muito interessante. Basta fazermos uma abordagem dinâmica e real de cada exemplo e de cada regra.