Chico Pinheiro é destaque do Miami Downtown Jazz Festival

Por Gene de Souza

chico pinheiro

Quando se fala nos melhores instrumentistas e compositores brasileiros da atualidade, Chico Pinheiro está sempre no topo da lista. Esse paulistano começou a tocar guitarra com 6 anos de idade, profissionalmente aos 14, estudou na renomada Berklee College of Music e, hoje, é um dos músicos mais requisitados e elogiados no mundo.

Com uma maturidade e técnica fenomenal, ele já teve parcerias com Lenine, Ed Motta, Maria Rita, e João Bosco, entre os brasileiros. No cenário internacional ele é ainda mais conceituado por artistas como Plácido Domingo, Esperanza Spalding, Brad Mehldau e a cantora Dianne Reeves.

“Chico Pinheiro é, sem duvida, o mais brilhante compositor da música brasileira que surgiu nas últimas décadas”, publicou o Estado de São Paulo. Os fãs da boa música terão a chance de ver e ouvir esta fera, ao lado de outros grandes do jazz como Paquito D’Rivera, Hubert Laws e Jane Bunnett, no Miami Downtown Jazz Festival, no sábado, 25 de fevereiro, no Bayfront Park Amphitheater. Conversamos com o Chico sobre sua carreira, seu começo, e sua expectativa para esse grande festival aqui em Miami:

Gene: Você começou a tocar violão e piano aos 7 anos. Tinha uma ambiente musical na sua casa? Como foi sua introdução à música e suas maiores influências? Chico: Desde sempre minha mãe tocava piano e violão em casa. Lembro bem de ficar acordado, desde pequeno, ouvindo os saraus que ela e meu pai davam, escondido atrás da porta. Tinha Nelson Cavaquinho, Cartola, Gil, Cole Porter, Pixinguinha, Simon and Garfunkel, Vassourinha. Aos seis anos tirei de ouvido 'Dear Prudence', dos Beatles, foi meu passaporte para aulas de violão. Sobre influências é sempre difícil citar nomes, mas dentre as maiores estão Moacir Santos, Chopin, Wayne Shorter, João Bosco, Jobim, Beatles, Miles, Gil, Edu Lobo, Baden Powell, Debussy, Scriabin, Hendrix, Villa Lobos, Weather Report, e por aí vai..

Gene: Aos 15 anos você já se apresentava profissionalmente e depois foi para a Berklee School of Music, em Boston. Como foi esse caminho tão cedo para a profissão de músico e a decisão de estudar fora? Chico: Comecei gravando jingles, como guitarrista. Meu tio era envolvido com um dos maiores estúdios de São Paulo na época, o Vice-Versa, onde gravava toda a nata da MPB. Meu primeiro recibo trabalhando como instrumentista profissional (que guardo até hoje), foi com 14 para 15 anos. Fiquei um tempo gravando até que o José Miguel Wisnik e o Chico César me chamaram, ao mesmo tempo, para integrar suas bandas. Eu já estava tocando com uma porção de gente, mas queria me aprofundar ainda mais e senti que aquele era o momento. Tinha 20 anos, prestei a Berklee College of Music e ganhei bolsa. Parti então para Boston para aprofundar meus estudos, o que foi fundamental não só para minha formação musical, mas para tudo que viria depois.

Gene: Seu primeiro CD, “Meia Noite, Meio Dia”, de 2003, foi imediatamente acolhido pela mídia especializada e por colegas e músicos como um grande disco. Músicos como Edu Lobo lhe descreveram como um “sopro novo na música brasileira”. Como você encarou esse sucesso e elogios de veteranos da nossa música? Chico: Eu fiquei, sinceramente, surpreso quando começaram a sair todas aquelas críticas elogiosas, tanta gente do meio falando sobre meu trabalho. É impactante ouvir seus ídolos falando de você; gente que você admira tanto e tem como referência, prestando atenção no que faz. Mas, justamente por ter uma relação de tanto amor com a música, aquilo me levou a dedicar-me ainda mais ao meu ofício, como que em agradecimento.

Gene: Você sempre teve uma ligação forte e parcerias com os músicos do jazz como Anthony Wilson, Esperanza Spalding, Brad Mehldau, Dianne Reeves e muitos mais. Entre os brasileiros você teve projetos com Ed Motta, Lenine, João Bosco e outros. É diferente trabalhar com os brasileiros comparado com os americanos, ou a linguagem da música sempre fala mais alto? Chico: É, e não é...(risos). Na hora de fazer música em si, de estar junto tocando, nem tanto - mas em relação ao resto, a tudo que tem em volta do "tocar", aprendi e aprendo muito com os americanos. Eles são de um profissionalismo incrível em todas as etapas e aspectos do processo. Em termos de linguagem, são duas escolas diferentes, mas com muitas raízes comuns.

Gene: Em 2014 você teve uma parceria muito especial com o lendário tenor Plácido Domingo. Como foi trabalhar com esse mito da música mundial? Chico: Foi das experiências mais lindas que tive. Não só pelo artista imenso que ele é, mas por ser um projeto tão especial - o registro de canções antigas do mediterrâneo. Havia uma atmosfera mágica dentro do estúdio, mas ao mesmo tempo muita descontração e leveza. Gravar o Concerto de Aranjuez de Joaquín Rodrigo em sua terra Natal - Valencia - com Plácido, foi realmente muito especial.

Gene: Depois de muitos anos em São Paulo, você se mudou para Nova York. Voltou a ser imigrante. O que o levou a tomar esta decisão e como tem sido a sua experiência pessoal e profissional nesta grande cidade? Chico: Amo São Paulo, cidade onde nasci e me criei. É um lugar muito significativo pra mim, do qual já conheço todos os cantinhos e peculiaridades. Mas, como todo sagitariano, tenho alma inquieta e Nova York me acenava como o lugar mais interessante para se estar nesse momento. O curioso é que, apesar de ser um caldeirão de tantos gêneros e sotaques, estilos e tendências de todos os lugares do mundo, há um jeito bem próprio de se ver as coisas que a gente percebe estando por aqui. Mas, além disso, vinha trabalhando mais e mais nos Estados Unidos, e a mudança acabou sendo uma coisa natural. Tem sido uma experiência bastante estimulante, em todos os aspectos.

Gene: A rádio WDNA 88.9FM e Miami vai apresentar pela primeira vez um grande festival de jazz na cidade. No sábado, 25 de fevereiro, irão se apresentar no palco do Bayfront Park Amphitheater o lendário Paquito D’Rivera e seu quinteto, a canadense Jane Bunnette acompanhada pelas cubanas do Maqueque, e o ícone da flauta Hubert Laws e seu grupo. Como será para você se apresentar ao lado desses artistas, e conta sobre os músicos que lhe acompanharão. Chico: São todos artistas pelos quais tenho profunda admiração, inclusive alguns deles meus amigos, como o grande Paquito - fico muito feliz e honrado de estar tão bem acompanhado. Em relação ao grupo que me acompanha, estarão em Miami Helio Alves, ao piano, e Alex Kautz, na bateria, ambos conterrâneos de Sampa, músicos fantásticos e parceiros queridos - e Edu Belo, grande músico de Brasília, no contrabaixo. Há uma química bastante especial dentro do Quarteto. A expectativa é grande e tenho certeza que será uma noite linda.

Serviço

Miami Downtown Jazz Festival

Sábado, 25 de fevereiro, às 5pm

Bayfront Park Amphitheater, 301 Biscayne Blvd, Miami FL 33132

Ingressos $20, $30, $50, $100 pela Ticketmaster.com ou no link https://goo.gl/Qjclpj