Clientes de paralegal sentem-se lesados

Por Gazeta Admininstrator

Por: Letícia Kfuri

O brasileiro Roberto Wilson Alves que presta atendimento no Brazilian Help Center, em Pompano Beach, é alvo de reclamações de ex-clientes que, insa-tisfeitos com o resultado de seus processos, afirmam ter sido induzidos a crer que estariam sendo assistidos por um advogado, o que, de fato, segundo eles, não ocorreu. Alguns denunciam ainda ter tido seus processos conduzidos inadequadamente e, por esse motivo, perdido a chance de regularização no País.

Há 13 anos nos Estados Unidos, portador de número de social security, e pagador de seus impostos, Lucinaldo Pacheco buscou, em 2001, o Brazilian Help Center para dar entrada em processo de labor certification. Afirma ter pago $2 mil de entrada e mais $2 mil financiados.

Após três anos de espera, Pacheco diz ter visto suas esperanças de conseguir autorização de trabalho irem por água abaixo. “Quando conheci o Sr. Roberto Wilson , ele disse que o advogado seria Walter Strauss. Depois de três anos, disse que o Sr. Strauss não queria mais me representar porque não estava mais fazendo esse tipo de trabalho, e que não devolveria o meu dinheiro, mas que ele próprio resolveria o meu processo. Eu disse que ele como paralegal não poderia me representar. Logo depois o Sr. Wilson disse que o meu processo estaria cancelado”, afirma Pacheco.

Roberto Wilson informou à reportagem do Gazeta que não teve êxito no processo de Pacheco “por culpa exclusiva do cliente”. Segundo Wilson, em um processo de labor certification, “é essencial a cumplicidade tanto do beneficiário quanto do empregador”. Ele acrescentou eximir-se de qualquer responsabilidade, uma vez que o interessado não apresentou a documentação exigida pelos órgãos governamentais. “Não cabe a nenhum escritório produzir documentação que deveria estar de posse do empregador ou do beneficiário”, disse Wilson, lembrando que o empregador que patrocinaria o processo de Pacheco havia mudado para a Pennsylvania e exigiu que Pacheco se transferisse para lá o que, segundo Wilson teria sido recusado. “O Sr. Lucinaldo se recusou e, portanto, não tinha mais um sponsor. E sem sponsor nao há processo”, disse Wilson.

Há cinco anos nos EUA, Elizabeth Rivera trabalha com limpeza e diz ter conhecido Wilson Alves por intermédio de seu ex-marido e, durante algum tempo, diz ter acreditado que Wilson Alves fosse advogado. “Perguntei como deveria chamá-lo, se Roberto ou Dr. Roberto, e ele respondeu Dr. Roberto (...) meu ex-marido tinha um crédito com ele para ser utilizado em qualquer processo que fosse necessário (...) Ele não me deu nenhum contrato para assinar (...) no meio do processo soube que ele era paralegal”, disse Rivera.

Rivera tenta agora dar prosseguimento a um processo de green card por ajuste de status que, segundo ela, foi interrompido, temporariamente, porque Alves teria emitido cheques sem fundos para pagar taxas referentes a seu processo na Imigração. “Levei em money orders, comprados no Western Union, em branco (...) Chega uma carta da imigração dizendo que meu processo seria cancelado porque meus cheques haviam voltado (...) O Wilson Roberto disse que as money orders haviam sido preenchidas incorretamente e que ele tinha dado cheques da empresa dele para processo (...) Ele pagou cheques sem fundos que voltaram da Imigração (...) Ele pagou a multa, e pra eu dar entrada no processo, eu teria que pagar todas as custas novamente, cerca $2,3 mil (...) Ele me devolveu o dinheiro, mas tirou um ano da minha vida”.

Em uma primeira entrevista concedida ao Gazeta, Roberto Alves confirmou ser paralegal e afirma atuar apenas como tal. “Nao sou autorizado a atuar como advogado nos EUA, como também não sou autorizado a atuar como engenheiro, médico, dentista, etc. E como não sou autorizado a atuar profissionalmente nestas profissões, não o faço”disse Wilson Alves.
Ele acrescentou que suas atividades no Brazilian Help Center resumem-se a serviços notariais, traduções, auxílio a clientes no preenchimento de fomulários para imigração, serviços de interprete, abertura de empresas e representação de clientes junto ao Departamento de Trabalho para processos de certificação laboral.

Ele afirma ainda que, do início de 2006 a abril de 2007, o Brazilian Help Center aprovou uma média de 300 processos, referindo-se a processos de Certificação Laboral. “O que faço, modéstia à parte, com perfeição, são os processos de Labor Certification, que não exigem advogado para representação”, disse.

Apesar de, anteriormente, ter deixado claro que não atua como advogado, em uma segunda entrevista ao Gazeta, meses depois, no entanto, Alves prestou à reportagem a seguinte informação em relação ao processo de Elizabeth Rivera: “Nós começamos um processo de imigração com base em casamento com cidadão americano para a Sra. Elizabete sem cobrar nada por isto, ou seja, ela não pagou nada pelo nosso serviço. Todas as “money orders” foram devolvidas para a senhora Elizabeth. Nos recusamos a continuar com o caso quando ela mencionou que o casamento não era de boa-fé”, afirmou Alves, na sexta-feira(20), ao Gazeta.

O pastor evangélico Júlio Cesar de Mattos, de Naples, afirma ter procurado o Brazilian Help Center para fazer uma extensão de visto de permanência. “Minha extensão anterior já estava expirando e fizemos ou-tra extensão, recomendada por ele, datada de 14 de outubro de 2006”, explicou Mattos. “Ele me orientou que poderíamos depois da extensão dar entrada em um processo junto à imigração de instalação aqui de uma filial da empresa de minha família no Brasil (...) Paguei $1,2 mil pela implantação da empresa e $460 pela extensão do visto (...) Depois de eu ter pago $460, fiquei aguardando posição dele. E nenhuma informação chegava. Logo depois que pagamos, ele reconheceu que estava demorando um pouquinho, mas que iria chegar”, disse Mattos, que afirma ter buscado um advogado, fora do Brazilian Help Center, para dar andamento ao seu processo.

Alves confirmou que Júlio Mattos, de fato, tem direito a uma restituição mone-tária. “Só que o valor pleiteado por ele não condiz com os nossos cálculos (....) Neste caso, nosso escritório está disposto a uma negociação, basta que ele marque um horário para discutirmos o assunto”, disse Alves. Ele no entanto, não comentou os detalhes do processo de Mattos.

Outro cliente do Brazilian Help Center, que pediu para não ser identificado, também afirma ter pago à empresa “mais de $4 mil” para regularização de sua situação trabalhista nos EUA e, após cerca de cinco anos, jamais ter sido atendido pessoalmente por um advogado licenciado. “Meu processo nunca andou. O Sr. Wilson dizia que eu é que tinha que ligar para o Labor Department para saber do andamento do meu processo. Ele sempre falou do Sr. Strauss, embora eu nunca tenha tido nenhum contato com ele; só bom dia e boa tarde. Geralmente era atendido pelo Sr. Wilson e, muitas vezes, pelos ajudantes dele, que mudam a cada dois ou três meses.

O advogado Walter Strauss afirmou à reportagem do Gazeta ser um advogado independente, que apenas aluga uma sala nas dependências do Brazilian Help Center, e que não tem nenhum vínculo com tal empresa. “Nunca autorizei ninguém a utilizar meu nome, ou aceitar novos casos com a promessa de que eu seria o advogado res-ponsável por tais casos”, disse Strauss.

O advogado afirma ainda nunca ter assistido qualquer dos clientes do Brazi-lian Help Center, através de representação em outros casos tais como ações de deportação, dissoluções de casamento, defesa criminal ou atos de negligência. “Após nossa conversa, falei com Roberto e ele me informou que, ao assistir clientes em petições de Labor Certification, ele e seus clientes assinaram acordos nos quais é especificado que ele não é advogado, e que no caso de o Labor Certificate ser concedido, o cliente necessitará submeter um pedido de mudança de status ao INS (Immigration and Naturalization Service), diretamente ou por intermédio de um advogado”, acrescentou Strauss.

New Jersey
Credenciada como uma consultora estrangeira de assuntos legais, a advogada brasileira Norka Schell, que atuava em New Jersey, está sendo acusada de prática ilegal do direito, e foi levada à corte para ressarcir três de seus clientes em $20 mil.

Em seu web site, Schell lista uma série de serviços prestados por ela nos EUA, tais como processos de naturalização e diversos tipos de visto, além de divórcios e negociações de imóveis no Brasil. De acordo com denúncia publicada por sites norte-americanaos especializados em direito, há indícios de que a brasileira pratica o direito há mais de dez anos, e agora conta com os serviços do advogado David Wasserman, que graduou-se na faculdade de direito em 2006.

A atividade de Schell despertou a atenção da justiça no ano passado, quando um júri do condado de Essex a acusou por prática ilegal do direito. A vítima, Jorge Achcar, alegou ter pago $6 mil para que a brasileira conduzisse processos de seguro e imigração para ele, depois de ela ter se apresentado como advogada licenciada. O caso foi encerrado por que Achcar voltou para o Brasil, e não compareceu para testemunhar no processo.

A suposta advogada também é acusada por outros clientes de ter cobrado valores excessivos para conduzir trâmites legais. “Ela me cobrou muito dinheiro para um trabalho que fez errado. Ela praticou uma fraude porque não é advogada”, afirmou César Álvares.