Clube do Choro traz boa música brasileira à Miami

Por Gazeta Admininstrator

O Clube do Choro, grupo de brasileiros que tocam autêntica música brasileira, é um exemplo de que música boa não tem época nem lugar. É aquela que dura para sempre, e não aquela que toca nas rádios e depois ninguém nunca mais lembra. Com algumas exceções, é claro. Um bom exemplo contemporâneo, é Aquarela Brasileira de Ary Barroso, que tem a cara da nossa terra e da nossa gente, que tem “gosto” de Brasil e canta: “...estava no Ceará, terra de Irapuã, de Iracema e Tupã. Fiquei radiante de alegria, quando cheguei à Bahia, Bahia de Castro Alves e do Acarajé, das noites de lua cheia, do candomblé...”.
Assim é a música do Clube do Choro, que toca todas as sextas-feiras no C.J. Café, em Miami. Uma música que tem a “cara”do Brasil, e que faz parte da história do nosso país e da nossa gente.
Todo mundo sabe que o Brasil foi colonizado pelos portugueses, que quando chegaram fizeram proliferar por todos os lugares um novo conceito que até hoje tem a simpatia nacional: o botequim, ou o “butiquim”, em bom lusitano. Pois é. Foi em um ambiente de botequim, pertinho da zona de baixo meretrício, com o “Seu Man’el” servindo cerveja gelada com azeitonas, que surgiu o choro, a primeira música urbana tipicamente brasileira, por volta de 1880, no bairro da Cidade Nova no Rio de Janeiro, na época capital do Brasil.
O choro não é o tipo de música que está nas paradas musicais, mas é o tipo de música que até hoje é atual, e deixa brasileiros e “gringos” (no bom sentido) de boca aberta. É um estilo que surgiu na malandragem carioca e que, por malandragem, tinha como característica principal os acordes complicados, justamente com a intenção de “derrubar” os demais músicos que tocavam no grupo. Assim, tudo era improviso, e quanto mais difícil, melhor.
Uma definição que é “a cara” do Choro foi contada pelo carioca Bill Duba, cavaquinista (sim, a palavra existe!) do Clube do Choro. “Choro é igual mulher bonita. Você sempre acha que encontrou a mais bonita de todas, mas sempre aparece outra”. Ele garante que a frase não é dele. Psicólogo, casado com Adriana Duba, e músico por puro prazer, ele diz que as três coisas que mais gosta na vida são mulher, música e futebol. “Futebol eu sou Flamengo, mulher sou Adriana Duba e música sou choro”, brinca.
Igualzinho aos primeiros compositores e intérpretes do Choro, Bill (cavaquinho), Marcelo Rosalvo (bandolin), Felipe Souto (pandeiro), Danúzio Lima (flauta) e Douglas Lora (violão) são mestres no improviso, têm suas profissões fora do palco e não tocam para ga-
nhar dinheiro porque fazem da música uma fonte de prazer.
“A gente nunca tocou muito por grana. Até porque quando tem que fazer show pelo cachê, você tem que preparar um show, e isso tira um pouco da espontaneidade”, diz Bill que se diverte com as estórias dos tempos em que tocavam nos bares de amigos pela satisfação de tocar e pela conta da mesa paga no final da noite. “O bar lotava e todo mundo aplaudia, mas nunca conseguíamos ganhar dinheiro com isso”, se diverte.

Música feita de boemia e improviso

Os primeiros criadores do Choro eram gente comum, que trabalhava duro na linha férrea, ou na alfândega do porto durante o dia, e à noite faziam música só pela farra. Coisa mesmo de boêmio. Não havia regras nem partituras e qualquer instrumento era bem vindo. Era só chegar e mostrar que sabia fazer. Essa música de improviso é hoje um dos estilos mais importantes da música brasileira, e criou nomes como Valdir Azevedo (Brasileirinho), Pixinguinha (Carinhoso), e Jacob do Bandolim (Receita de Samba).
Por causa do improviso e da marca instrumental, o Choro é, muitas vezes, comparado ao jazz americano que, na verdade, surgiu 50 anos depois. O tão falado improviso do jazzístico, portanto, já existia no Brasil desde os tempos do Império. “Quando a gente toca e músicos profissionais americanos de jazz nos vêem tocar, eles ficam loucos. E são só uma flauta, um violão de sete cordas, um cavaquinho e um pandeiro. É um som que as pessoas ficam paradas olhando e se perguntando: - que tipo de música é esse, é uma música clássica, é um samba?”, conta Bill.
Ele explica que o choro é a transição da música clássica para a música popular brasileira. “É onde o Brasil virou musical”, define o músico acrescentando que o choro é resultado da música clássica da Corte, a polka, que foi apropriada por músicos e intérpretes como Chiquinha Gonzaga, que começaram a fazer música no ritmo negro com influências de polka. “E quando chega Pixinguinha o choro explode e vira uma festa musical alucinante”, entusiasma-se Bill. Em algumas das principais cidades do Brasil o choro é hoje uma “febre”, que reúne gente de todas as gerações, fazendo juz à velha e boa boemia brasileira de sempre.

Como começou a história do estilo musical em Miami.

A história do Clube do Choro de Miami começou em 1997 quando o guitarrista Landinho decidiu abrir um bar e tocar choro todas as terças-feiras. Juntaram-se Landinho, Bill, José Nóbrega (que era lavador de pratos) e é considerado o pai do choro de Miami, Victor Souto e Claudinho Borogodó (percussionista) e formaram o “Quem não chora não mama”. De lá para cá, já passaram pelo grupo alguns grandes talentos do gênero como Sérgio Ferreti e José Nóbrega. Cerca de um ano depois o grupo mudou o nome para Aquarela e promoveu inúmeros shows com o apoio do Centro Cultural Estados Unidos-Brasil e apresentou-se em shows de Jorge Ben, Ivan Lins, Djavan e Arthur Moreira Lima, entre outros. Em 2001 o grupo ganhou o nome que tem até hoje.
Embora a paixão do grupo seja o choro, o Clube do Choro não dispensa o samba. Toca Paulinho da Viola, Martinho da Vila, Nelson Cavaquinho, Beth Carvalho, Zeca Pagodinho, entre outros. No re-pertório estão nada menos que 150 músicas. Só falta agora a gravação de um CD.
“O que nos falta é tempo e disposição para buscar patrocínio. Eu trabalho 60 horas por dia em três clínicas, consultório e dou aula no Miami Dade College. Todos os outros têm o mesmo ritmo”, diz Bill.