Colecionador de Memórias - Champagne com Carmem

Por Carmem Gusmao

caderia

Quando chego na casa de alguém pela primeira vez, gosto de observar os objetos, fotos e móveis, na tentativa de descobrir as estórias que se encontram impregnadas em cada peça. O que faz um lar aconchegante não é aquele móvel caríssimo de grife, mas sim as memórias espalhadas pelos cômodos. Os álbuns de fotos, livros, arte, aquele bule velhinho que foi de sua avó e virou um lindo vaso de flores, a coleção de imãs na geladeira, dos lugares por onde você passou, aquela peça que você comprou em um mercado de pulgas ou aquele objeto maravilhoso que você comprou baratinho num garage sale, descoberto por acaso, quando andava de bike numa cidade que estava visitando.

Eu pinto cadeiras, além das telas, das joias e das roupas. Mas as cadeiras me emocionam quando nos encontramos pela primeira vez. Olho para aquela peça jogada num canto, já velhinha e sem vida e começo a imaginar por onde ela ‘andou’, quem se sentou ali e que histórias e estórias contou. Assim, decido que ela tem uma segunda chance e a transformo.  Vou pintando, colocando folhas de ouro e cristais, como se estivesse limpando as feridas de um guerreiro fora de combate.

Por isso, gostaria de listar coisas com as quais, na minha opinião, você deve gastar seu dinheiro e outras que não te acrescentam nada. Não estou falando de milionários, que podem se dar ao luxo de esbanjar e sair por aí comprando tudo. Falo de nós, que precisamos fazer contas e pensar direitinho de como usar o dinheiro em coisas que criam memórias. O que não vale a pena: Eletrônicos: pense bem antes de gastar uma grana num computador de última geração. Em poucos meses o mercado lança outro modelo e o seu já desvalorizou. Se não é um webdesigner, se usa para passar emails, se comunicar, com certeza não vale a pena. A mesma coisa para os smartphones. Toda hora lançam outro mais poderoso, mas que pouco acrescenta daquele que você já tem.

Carros: todo mundo tem um sonho de carro novo, mas gastar uma fortuna trocando o mesmo por outro modelo mais potente, não te acrescenta nada. O limite de velocidade aqui é de no máximo 75 milhas e provavelmente você  nunca vai usar aquela potência toda.

Sapatos e bolsas de grifes caríssimas: ter uma bolsa de qualidade e sapatos superconfortáveis é, sem dúvida, um ótimo investimento, mas colecionar uma montanha de solas vermelhas não vai te acrescentar nada. Lembre-se: aquela bolsa, pela qual você pagou algumas centenas de dólares, logo logo fica out antes mesmo que você acabe de pagar as faturas do cartão de crédito.

O que vale pena: Viagens: sem dúvida o melhor investimento, conhecer lugares é estudar história ao vivo. Cada novo canto, o cheiro das ruas, os museus e parques... tudo isso vai ficar para sempre na sua lembrança, além de te acrescentar cultura. Quando bem planejado, é possível, sim, fazer o preço de um smartphone novo ser o mesmo de um pacote com passagem e hospedagem em Cartagena, Colômbia, por exemplo.

Comidas: experimentar comidas novas, conhecer aquele restaurante com uma vista espetacular e um chef de cozinha maravilhoso. Não precisa ser caro. Tem opções para todos os bolsos, mas a experiência degustativa também  vai ficar para sempre em sua lembrança.

Livros e Música: um bom livro te faz mergulhar no universo do autor. Ainda me lembro da primeira vez que li o “Apanhador no Campo de Centeio” ou das discussões que tinha com meus amigos sobre “Crime e Castigo”, ou de como queria ser a personagem de “ Os Diários de Helena Morley”, primeira livro que meu pai me deu e me fez viajar pela Diamantina do Século Passado. Quanto a música, é uma experiência avassaladora assistir a um concerto de seis pianos, uma ópera de Bizet, um show de um bom e velho rock. Um banquinho e violão da bossa nova é extremamente enriquecedor.Eu só pinto com música e, ultimamente, tive duas  experiências fantástica  com “Strada Di Amore” e um concerto de “Danzon”, “ Mi Alma Mexicana”.

Aprender uma nova língua: outro investimento que vale a pena. Nada se compara ao prazer de entrar numa livraria na toscana e bater um papo com as pessoas na língua deles e se sentir seguro e feliz. Me lembro aqui da autora do best-seller “Comer, rezar e amar”. Ela diz que quando via um italiano falando “atravessiamos”, ficava louca para saber italiano e, quando decidiu ir para a Itália, foi pelo simples prazer de aprender italiano e experimentar a culinária local. Quase teve um orgasmo quando, num sinal em Roma, se virou para a amiga e falou num italiano perfeito: Alora atravessiamo!

Espero que vocês consigam viajar nas minhas palavras e que possam criar memórias. Quem sabe um dia, sentados na mesa de um bar, vocês possam me falar de suas lembranças! Tenham uma semana linda. beijos e much love!