Colegas e policiais lamentam a morte de cinegrafista em favela

Por Gazeta News

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Um cinegrafista da Rede Bandeirantes de Televisão morreu durante uma operação policial realizada na manhã do domingo, dia 6, na favela de Antares, em Santa Cruz, zona oeste do Rio de Janeiro. Gelson Domingos foi atingido por uma bala perdida durante a ação que envolveu cerca de 100 homens do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e do Batalhão de Polícia de Choque (BPChq).

Os policiais militares entraram na favela pela área de lazer da Comlurb. A região é controlada pela facção criminosa liderada por Fernandinho Beira Mar, preso na penitenciária federal de segurança máxima de Campo Grande (MS).

Velório

Dezenas de repórteres, cinegrafistas e pessoas ligadas à imprensa compareceram, no dia 7, ao velório de Domingos, um colega que acumulou amizade e carinho nos 20 anos em que atuou para veículos como SBT, Record e Band.

As circunstâncias que levaram ao assassinato do cinegrafista não são estranhas aos colegas acostumados a cobrir os recorrentes confrontos entre polícia e traficantes no Rio. A operação do dia 6, desencadeada, segundo a Polícia Militar, para prender traficantes de uma facção que estariam reunidos na favela era para ser apenas mais uma no cotidiano do cinegrafista que estava sempre no front da notícia.

Domingos também era preparado. Ele passou pelo curso do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) para jornalistas. “A Polícia Militar dá cursos para repórteres, jornalistas, cinegrafistas, para esse trabalho de campo. Mas são poucos que o fazem. O Gelson é um desses poucos”, afirmou o coronel Frederico Caldas, coordenador da assessoria de imprensa da PM. O coronel disse ainda que a vítima era muito querida e próxima aos policiais, por conviver com eles no dia-a-dia das coberturas. “O sentimento que a gente tem hoje é semelhante a quando a gente perde um dos nossos, tamanha era a proximidade que ele tinha com a nossa tropa, com nossos policiais”, afirmou.

Empresas devem desestimularo jornalista a ficar na linhade frente, diz sindicato

Segundo o diretor do Sindicato dos Jornalistas do Rio, Rogério Marques, “o tráfico jamais pode calar a imprensa, mas existe um limite. As empresas devem desestimular os jornalistas a ficarem na linha de frente”. Ainda segundo ele, questões como a pressão demasiada dentro das redações para a busca de notícias e se os repórteres não se arriscariam demais em coberturas precisam ser abordadas.

O âncora do Jornal da Band, Ricardo Boechat, negou que exista esse tipo de pressão. “Há uma cláusula pétrea nas coberturas da emissora que diz que a melhor notícia não vale o menor risco”. No entanto, ele admitiu que a busca por notícias é intensa. Segundo Boechat, a vontade de obter a informação muitas vezes parte do próprio repórter. “A Band não tem um protocolo que diga, vai lá e se mate para conseguir a notícia, nenhuma emissora tem. Alguém tem essa orientação? Alguém, algum cinegrafista aqui, cumpriria essa determinação? Agora os profissionais que estão em campo e que têm a experiência e a vivência do Domingos, eles se posicionam e se conduzem”, afirmou.

Já o presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Maurício Azêdo, apontou para a concorrência entre os próprios profissionais. “Eu acho que faltam medidas de proteção. Porque na maioria das vezes, o repórter que atua na linha de fogo tende a ignorar a dimensão do risco que está enfrentado. Se um companheiro avança no sentido que possa lhe arrebatar a primazia de uma informação, ele procura superá-lo e se expor ao risco, o que normalmente não deveria ocorrer”, afirmou.