PARA QUE SERVE O MAL?

Por Por ADRIANA TANESE NOGUEIRA

Viver bem

Por que o Mal existe? De onde vem? Quando acontece, por que acontece? Os tempos atuais exigem uma reflexão séria sobre a questão do Mal. É preciso pensarmos sobre a nossa realidade tão contraditória e desafiadora. Se por um lado, como humanidade e como civilização já conquistamos tantas realizações importantes, por outro, a barbaridade anda escancarada por todos os cantos. Como é possível que esses dois opostos coexistam? O que fazer com esse Mal?

Como entender as coisas ruins que acontecem em nossas vidas? Por que o sofrimento?

Tantas perguntas que você já deve ter se feito mais de uma vez na vida. Respostas prontas não satisfazem, mantras para acalmar a superfície das águas turbulentas do nosso ser servem só até a próxima angústia, o próximo susto. Todo espírito vivo deseja resposta, é curioso e sensível.

Diante dessa questão, a curiosidade vira necessidade de saber: para encontrar serenidade, centramento e força interna.

A questão do Mal é uma interrogação que atravessa os tempos. Vários teólogos e filósofo indagaram sobre ela, debruçando-se sobre o enigma do Mal, sua realidade e seu sentido.

A realidade é uma só, por isso o que acontece no mundo fora e o que acontece em nossas vidas está interligado. A falta de entendimento depende de dois fatores: da falha de conhecimento e da insuficiência de perspectiva. Conhecimento já é perspectiva. Quando você coloca as questões em perspectiva, tudo muda. Você passa a entender por que está acontecendo aquela determinada situação em sua vida, compreende que existe uma direção e um sentido. Também percebe o conflito que está na base disso. E, mesmo quando nem tudo está claro, o fato de ter instrumentos para compreender a realidade gera um alívio muito grande. Traz uma suavização saber que não se está no escuro, podemos não ser como uma criatura que está sendo chicoteada pelos eventos da vida sem saber para onde ir, o que fazer e o que está acontecendo.

Então, debater e entender a existência do Mal é importante e é urgente porque esse questionamento existe e nos interpela. E é uma questão filosófica, moral, psicológica e existencial que nos confronta a cada dia. Compreender a realidade, nossa e do mundo, em profundidade nos dar instrumentos de superação e de atravessamento. Muitas vezes, não dá para simplesmente superar uma situação "dando a volta por cima"; a gente tem que atravessar uma realidade para poder chegar do outro lado. Das trevas precisamos aprender a reemergir para encontrar a verdadeira saída do lugar de vítima.

Este lugar de vítima, no qual nos colocamos muitas vezes, não nos permite evoluir, só transformando-o passamos a compreender o que está acontecendo, ao invés de julgar e lamentar. Uma vez que entendemos, ganhamos consciência real sobre a realidade e temos metade do caminho andado. A gente adquire uma outra condição psicológica e emocional.

Entender só no racional, só no plano do ego, não adianta. Mudança que vira a página da vida ocorre só pelo mergulho profundo nas questões que nos perturbam. Como escreveu C. G. Jung, "Eu não sou as coisas que aconteceram comigo. Eu sou aquilo que escolhi me tornar."