EU OU EGO: QUAL A DIFERENÇA?

Por Por ADRIANA TANESE NOGUEIRA

Viver bem

Estamos acostumados a usar a palavra Ego para nos referirmos a qualidades negativas individuais. Ego identifica os limites de visão e de coração, de compreensão e de receptividade de alguém que se fecha e prioriza suas próprias vontades em detrimento do coletivo e do todo.

Ego parece, assim, ter se tornado sinônimo de egoísmo e egocentrismo.

No egoísmo, a pessoa só pensa em si, seus interesses vêm antes, desconsidera os outros e suas necessidades, é surda às exigências do coração que urge na direção da união. O egoísmo separa, não une; endurece a alma, esfria relacionamentos, afasta o incômodo de ter que dar. Quer receber dando o mínimo possível. Egoísmo é uma das grandes características de nosso tempo.

Em suma, egoísmo é a atitude de quem se preocupa apenas consigo mesmo, com o próprio bem- estar e com a própria utilidade, tendendo a excluir qualquer outro de participar dos bens materiais ou espirituais que possui e aos quais está zelosamente apegado: uma pessoa fechada em seu próprio ego. O oposto do egoísmo é o altruísmo.

No egocentrismo, a pessoa se coloca no centro do mundo, isto é, ela desconsidera a presença dos outros. Exemplo de egocêntricos são aqueles indivíduos que mantém o som do carro ou da TV ou da música alto não se importando com os vizinhos. Uma pessoa egocêntrica está atenta apenas às suas próprias necessidades e se comporta como se estivesse no centro do universo, negligenciando a presença, o pensamento e os interesses dos outros.

É egocêntrica aquela pessoa ou grupo de pessoas que acreditam que os próprios valores, crenças e objetivos são universais e se espanta ao encontrar quem segue outros pensamentos e sentimentos. No egocentrismo o sujeito coloca a si mesmo e seu próprio problema no centro de toda experiência, negligenciando a presença e os interesses dos outros. Uma pessoa egocêntrica não é capaz de entender que os outros têm estados mentais diferentes dos seus próprios e por isso não pode simpatizar com outros indivíduos.

As crianças são naturalmente egocêntricas, falta-lhes visão maior para se situar no mundo. Esta é uma tese argumentada por Jean Piaget (1896-1980) que dizia que as crianças eram incapazes de diferenciar seu próprio ponto de vista do dos outros. O egocentrismo na linguagem da criança pode ser detectado quando a palavra "eu" é usada com insistência (egocentrismo verbal) ou no monólogo coletivo (cada criança continua sua fala, independente das palavras das outras). A criança começará a superar seu egocentrismo com o início do período de operações concretas (dos sete aos doze anos). A partir deste momento, a criança poderá se colocar do ponto de vista dos outros. Infelizmente, acostumadas a serem tratadas como entes especiais pelos seus pais, muitas delas irão mundo afora achando que o mundo está a seu serviço assim como os pais fizeram.

Se por um lado estamos assolados por egos egoístas e egocêntricos, por outro estamos com falta de Eus saudáveis. O Eu parece ter ficado esmagado pelo Ego. O pronome Eu, primeira pessoa do singular, representa o indivíduo pensante, atuante, consciente. "Eu sou", "Eu existo", "Eu penso". O Eu entra na realidade quando um indivíduo se torna consciente de si e do mundo.

O que vemos hoje é que, na intenção de não ser egoísta, se reprime o Eu e se acaba vítimas de egoístas. Sem um Eu não se consegue dizer não. Sem um Eu não se sabe o que se quer, do que se gosta e para onde se vai na vida. Sem um Eu, não resta que ser replicantes de valores adquiridos e não avaliados e egoístas para segurar o pouco que se tem (mesmo que seja "muito"), já que falta o sentido da existência. Sem um Eu, não tem como saber o que estamos fazendo no planeta.

O "Eu existo" significa que "Eu ocupo um espaço" (dá licença, por favor), "Eu preciso disso ou daquilo" (e vou atrás do que é importante sem esperar que alguém resolva para mim). "Eu sou" me dá o direito de existir do meu jeito, introvertido ou extrovertido, interessado nisso ou naquilo, com essa ideia ou com outra, indo para lá ou para cá. Na medida em que não sou egocêntrico e não impeço ou julgo que o outro seja "diferente de mim", eu tenho todo o direito de não deixar que o outro egocêntrico me tire o ar que preciso respirar.

O Eu é um aspecto da personalidade que, como atividade pensante no mundo, se afirma, realiza, delimita, defina, escolhe... É!