O que achei dos 40 minutos da animação "Soul"

Por JANA NASCIMENTO NAGASE

Joe é a nova personagem da animação "Soul".

Los Angeles – A Disney*Pixar já nos levou para dentro do mundo dos brinquedos e dos monstros, deu uma volta pelo mundo automobilísticos e, também, ensinou como ‘funcionam’ as nossas emoções. Agora, os estúdios Disney*Pixar vão nos levar para o mundo após a morte com a tão esperada nova animação “Soul”. Parece sinistro, mas deixa eu te contar que esse mundo é bem colorido e cheio de vida, por incrível que pareça.

Depois de meses de espera, a nova animação dos estúdios Disney*Pixar será lançado na plataforma digital Disney+ (Disney Plus), no dia 25 de dezembro. O lançamento dessa incrível história estava programado originalmente para estrear no verão. Devido a pandemia, a estreia foi adiada para o dia 20 de novembro, uma semana antes do feriado de Ação de Graças. Mas, agora ganhamos de presente e vamos poder assistir ao filme no conforto da nossa poltrona e sem custo adicional. Isso mesmo, se você é assinante do serviço de ‘streaming’, “Soul” vai estar disponível pra você.

Algumas semanas atrás, eu tive a oportunidade de participar do dia de imprensa virtual da animação, onde pude assistir os primeiros 40 minutos. A maior parte do que vi já estava nos trailers promocionais do filme, onde acompanhamos Joe Gardner, dublado pelo ator Jamie Foxx, um professor de música da escola pública em Nova York, que sonha em se tornar um músico de jazz famoso. No dia em que finalmente lhe oferecem um trabalho integral na escola, ele também tem a oportunidade de sua vida: tocar com a sua banda favorita. Voltando para casa da sua audição espetacular, ele cai em uma tampa de bueiro aberta e acorda em um lugar estranho chamado “The Great Beyond” (O Grande Além, tradução livre). Joe agora é uma figura pequena e alegre, ele agora é apenas sua alma, e está desesperado para voltar ao seu corpo e ir tocar no show de jazz. Logo, ele se encontra no “The Great Before” (O Grande Antes, tradução livre), onde as almas são desenvolvidas antes de serem enviadas à terra como almas de bebês. Ali, ele conhece uma alma infantil e desajustada chamada 22, dublada pela atriz Tina Fey, que não tem interesse nenhum em ir para a terra.

Este é um cenário bastante clássico e conhecido das animações da Pixar: uma dupla de personagens engraçadas e incompatíveis que são enviadas para uma tarefa aparentemente impossível, que acabam ganhando um melhor entendimento um do outro ao longo do caminho. Mas o que não foi compartilhado ainda (também não assisti ao filme todo) é a complexidade das caracterizações e o esplendor visual dos mundos que os codiretores Pete Docter e Kemp Powers e sua equipe criaram. “Soul” se encaixa perfeitamente com o resto das obras da Pixar e se destaca de forma brilhante e ousada de todos os outros filmes que o estúdio já produziu. É uma mistura intoxicante, colorida e alucinante.

“Soul” é o primeiro filme da Pixar com um protagonista afro-americano. “Já tinha passado da hora”, Peter Docter admitiu durante um dos painéis virtuais do dia de imprensa. O que é incrível é que Joe parece totalmente real e seu mundo é incrível e cheio de vida. A versão da cidade de Nova York criada dos dias modernos é naturalista e intensificada, bem típica da Pixar. Joe vive uma vida de conquistas e luta por uma vida financeira melhor e sempre leva suas roupas à loja de sua mãe para lavá-las e consertá-las. Sua mãe é dublada pela veterana atriz Phylicia Rashad. Quando Joe chega ao mundo das almas, ele perambula por um museu repleto de momentos de sua vida, onde ele percebe que não fez muito ou conquistou muito na vida. Um momento agridoce da história, mas que só vai aumentar seu desejo apaixonado de retornar ao seu corpo e a sua vida, pois ele tem muito ainda para viver e fazer.

Grande parte da vida de Joe vem das experiencias de vida de Kemp Powers, que também escreveu o roteiro ao lado de Peter Docter (que também co-digire com Kemp) e Mike Jones. Powers supervisionou um grupo cultural que incluía artistas fora do estúdio como o diretor de fotografia Bradford Young, que também aconselhou na iluminação e cenários do filme, animadores pretos e artista de storyboard da Pixar, que garantiram que o projeto tivesse um grande nível de autenticidade. Powers e essa equipe garantiram que “Soul” tivesse a verdadeira alma. E, com certeza, você vai ver e sentir cada pedaço dessa autenticidade quando ver o filme.

Existem outras diferenças importantes que diferenciam o “Soul” das outras animações dos estúdios Disney*Pixar. Esse é o primeiro filme de Pete Docter em formato panorâmico e o visual está bem mais cinematográfico e com uma tomada de dioptria dividida. Por exemplo, quando Joe vai pela primeira vez para o “The Great Beyond”, os detalhes são surpreendentes, incluindo momentos que são totalmente feitos em 2D. Há também personagens bizarros que parecem esculturas artísticas de arame ou linhas de estilo UPI dos anos 60, tudo é impressionante e caprichado.

Além disso, a música foi criada por Trent Reznor e Atticus Ross que foram incumbidos da música de fundo do filme, enquanto o músico de jazz Jon Baptiste criou a trilha de jazz original para Joe. Mesmo sendo uma combinação bizarra, mas o resultado é absoluto e bem alegre e não vejo a hora de ter toda trilha sonora a disposição.

Como só pude assistir a 40 minutos do longa, o restante, ou melhor, a maior parte do filme ainda permanece um mistério. No ano passado quando fui ao D23 Expo, uma das personagens foi apresentada. Era o Paul, que será dublado por Daveed Diggs, um dos vizinhos de Joe, que não apareceu na apresentação... então, já viu, com certeza, vamos ter mais história vindo por aí.

Sendo assim, “Soul’ é uma descoberta espiritual e visual que não teve medo de se jogar e arriscar com conceitos que não estamos acostumados a ver. Por outro lado, “Soul” também tem o lado real, humano, o lugar comum. Não vejo a hora de ver todo o filme e ter certeza que é me apaixonar mais uma vez por uma história linda de vida.