Saiba mais sobre a nova animação "Soul"

Por JANA NASCIMENTO NAGASE

Cena da animação "Soul," Joe Gardner e 22 no "The Great Before".

Los Angeles – Depois de meses de espera, a nova animação dos estúdios Disney*Pixar será lançado na plataforma digital Disney+ (Disney Plus), no dia 25 de dezembro. Como havia mencionando anteriormente, o lançamento dessa incrível história estava programado originalmente para estrear no verão. Devido a pandemia, a estreia foi adiada para o dia 20 de novembro, uma semana antes do feriado de Ação de Graças. Mas, agora ganhamos de presente e vamos poder assistir ao filme no conforto da nossa poltrona e sem custo adicional. Isso mesmo, se você é assinante do serviço de ‘streaming’, “Soul” vai estar disponível pra você.

“Soul” acompanha, Joe Gardner, um professor de música de ensino fundamental desanimado por não conseguir alcançar seu sonho de tocar no lendário clube de jazz The Blue Note, em Nova York. Quando um acidente o transporta para fora do seu corpo, fazendo com que vá para o mundo espiritual, ele se vê forçado a embarcar em uma aventura ao lado da alma de uma criança, chamada 22, que ainda está aprendendo sobre si, para aprender o que é necessário para retomar sua vida.

Em setembro, eu fui convidado para participar do dia de imprensa virtual da animação, onde eu tive a oportunidade de assistir a alguns trechos do longa, algumas apresentações e perguntas e respostas com os criadores e equipe responsáveis por essa nova aventura da Disney*Pixar. Aqui nesse link, você pode ler a minha primeira reação.

Hoje, vamos focar mais no que aprendi com os cineastas e o que eles fizeram para chegar na trama final de "Soul”.

https://youtu.be/6WTE_khm1D4

O processo de criação de uma animação é um pouco mais maleável do que de um filme live-action. Com um extenso material de pesquisa que foram sendo acumulados nos últimos 4 anos (sim, o filme demorou 4 anos para chegar a versão final) e com muito ajustes, muitas ideias não são usadas ou aproveitadas e acabam sendo jogadas no lixo. Uma dessas ideias era fazer o longa um filme de ação, com um assalto, perseguições.

O diretor Pete Docter explica: “a primeira versão da história aconteceria na cidade mesmo, o que ficou na versão final, mas seria um filme de assalto. Achávamos que essa era a melhor maneira de apresentar o tema ou mensagem, mas não deu muito certo. Não funcionou.” Pete ja trabalhou em outras animações do estúdio como na franquia ‘Toy Story’, ‘Cars’ e ‘Incredibles’.

“O filme do roubo era basicamente a 22 e Joe tentando conseguir um passe para a Terra. Eles, de alguma forma, tinham invadido as instalações da passagem para a Terra. Mas, tinha muito coisa acontecendo ao mesmo tempo, e sempre que você se referia à vida de Joe na Terra, era um flashback ou uma longa história, e isso simplesmente não nos dava a oportunidade de realmente falar e sentir o que Joe estava passando na sua jornada. Então, aí decidimos deixar de fora”, acrescentou Pete.

Os cineastas também tentaram fazer Joe um ator em vez de um músico, mas também abandoaram essa ideia logo no início do projeto. “Essa foi mais uma volta à prancheta, onde você observa o ator e pensa que ele está em busca da fama. Mas, ele está fora porque é um pouco egoísta e que não tinham a espécie de nobreza que a música tem”, disse Pete.

Sabe que não é apenas a história que muda ao longo dos anos, mas os cenários e designs também mudam. Quando se tratou da aparência do “The Great Before” (O Grande Antes, tradução livre), eles buscaram inspiração e influências do mundo real. Pete explicou, “vimos algumas fotos de conferências e feiras mundiais dos anos 1930 até os anos 1960. Queríamos que esse mundo fosse muito inespecífico em termos de cultura, então se você encontrasse algo e dissesse: "isso é grego, ou italiano, ou chinês, ou qualquer outra país", estaria errado porque as almas, como dizemos na história, vem à Terra como uma folha em branco - que sua cultura é algo que você aprende e desenvolve.[...] Estávamos procurando algo simples, geométrico. A aparência foi criada pelo departamento de arte em conjunto com o departamento técnico.”

Embora a história tenha uma forte ênfase no papel que a música desempenha, os cineastas nunca consideraram levar sua ideia ainda mais para a fantástica realidade do mundo musical: “Parecia que a história não se encaixava nessa ideia. Queríamos que fosse o mais real, fundamentado e verdadeiro que pudéssemos, mesmo sendo uma animação. Estávamos procurando por esse grande contraste entre o mundo etéreo e a terra, e acho que é por isso que eu sempre argumentaria contra considerar a animação como um musical.”

A produtora Dana Murray comentou também que, uma vez que eles assistiram ao clipe de um tutorial instrutivo do icônico músico Herbie Hancock, era o ‘empurrão’ que eles precisavam. “Eu sinto que daquele momento em diante foi quando soubemos que Joe seria um músico de jazz. Tivemos outras novidades ou grandes ideias depois disso”, explicou a produtora que já tem uma grande carreira nos estúdios Disney*Pixar.

Quando eles finalmente decidiram que a paixão de Joe era o jazz, tudo começou a ficar mais claro, mas ele ainda precisava ter uma referência cultural. O co-escritor / co-diretor Kemp Powers disse, “Acho que é importante entender que a especificidade cultural não é algo que divide. Gosto de dizer que, às vezes, ser super específico nos permite ver a universalidade em todas as nossas experiências”.

Pete também comentou sobre a importância da manifestação das artes em cada projeto que o estúdio cria. ‘Bem, eu acho que algumas das ideias apresentadas no filme também são novas para nós, de qualquer maneira, não vou falar por toda a humanidade (risos). Mas, algumas que apresentamos aqui são tipo de linhas, de forma vaporosa como personagens. Quando vamos ao cinema, acho que as pessoas querem ver algo que nunca viram antes.”

Kemp acrescentou “Sim. O mundo da alma definitivamente, e, em particular os conselheiros, é engraçado com os conselheiros porque eles são falas, linhas vivas sem aspas, parecem simples e, na verdade, eles, eu acho que foram a parte mais complexa de se fazer em todo o filme. Na produção do longa, foi um desafio, porque muitas dos detalhes do mundo das almas que não sabíamos como iríamos fazer, nós basicamente acabamos animando tudo relacionado a alma no final. Como se fosse a segunda metade do filme. Então, estávamos trabalhando fora da sequência porque o filme se passa metade no mundo da alma e metade no mundo humano. Mas, nós, em algum ponto, tivemos que descobrir como animar essas placas da maneira certa. Esta foi a minha primeira vez em um filme da Pixar.”

Esses são alguns pontos que achei interessante do dia de imprensa de “Soul”, uma descoberta espiritual e visual que não teve medo de se jogar e arriscar com conceitos que não estamos acostumados a ver. Por outro lado, “Soul” também tem o lado real, humano, o lugar comum. Não vejo a hora de ver todo o filme e ter certeza que é me apaixonar mais uma vez por uma história linda de vida.